A Bolívia sofreu uma nova
Em 2019, o então presidente Evo Morales havia acabado se reeleger para mais um mandato, após ficar 14 anos no poder (de 2006 a 2019). A eleição de Morales foi contestada após denúncias de fraudes, o que fez com ele renunciasse ao cargo. Na época, parte da comunidade internacional, como Brasil e Estados Unidos, por exemplo, reconheceu a senadora Jeanine Añez como presidente interina da Bolívia.
Porém, agora, o professor aponta que não há qualquer motivo para questionar a legalidade da eleição de Luis Arce, eleito após a convocação de novas eleições no país em 2020.
“A diferença é que, agora, temos declarações internacionais de apoio à Bolívia, o que não aconteceu em 2019. Na época, o golpe era uma oportunidade de tirar o Evo do poder. Mas, atualmente não se questiona a eleição de Arce. Também não há nenhuma crise econômica grave ou denúncias importantes de corrupção no governo dele, coisas que geralmente podem levar à essa ruptura. Essa diferença [em relação a 2019] pode ser decisiva [para o sucesso do golpe]”, aponta.
Mesmo assim, o professor ressalta que é importante observar os próximos passos dos militares. “A gente ainda vai descobrir o tamanho dessa articulação. Vamos ver se é um movimento isolado, de apenas parte do exército, ou se vai envolver forças policiais e a elite política. Temos que ver como elas vão se mobilizar”, afirma.
A tentativa de golpe
Militares do exército da Bolívia tomaram, nesta quarta-feira (26), a praça em frente ao palácio presidencial, em La Paz, na
Nas redes sociais, o ex-presidente Evo Morales afirmou que um golpe de estado está sendo “gestado” na Bolívia e convocou uma “mobilização nacional pela democracia”. Em 2019, um outro golpe militar fez com que Evo renunciasse à presidência.
Agora, o suspeito de liderar a tentativa de golpe é o
Em uma entrevista à mídia local, na segunda (24), Zúñiga disse que Evo “não pode mais ser presidente da Bolívia”. “Somos um braço armado do povo, um braço armado do país. Vamos defender a todo custo a constituição, caso cheguemos a isso”, afirmou. A declaração não foi vista com bons olhos pelo ex-presidente boliviano, que pressionou o governo Arce para que o general fosse retirado do cargo.
Comunidade internacional condena tentativa de golpe
Após a tentativa de golpe, governos da América Latina, como do Brasil e Chile, além de organizações internacionais condenaram a ação militar.
“O Governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país. O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos”,
No X (antigo Twitter),
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, também escreveu sobre a tentativa de golpe nas redes sociais. “Condeno firmemente as tentativas de derrubar o governo democraticamente eleito da Bolívia. A União Europeia apoia as democracias. Expressamos o nosso forte apoio à ordem constitucional e ao Estado de direito na Bolívia”, disse no X.
Ação militar deve enfraquecer candidatura de Evo Morales
As eleições presidenciais na Bolívia vão acontecer no próximo ano e ainda não se sabe se Evo Morales irá concorrer mais uma vez. Ele e Luiz Arce são do mesmo partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), mas se afastaram nos últimos anos.
Schettino acredita que a tentativa de golpe militar pode enfraquecer a candidatura de Evo, que pode até desistir de concorrer ao pleito após o movimento das Forças Armadas. “Isso não diminui a força dele enquanto cabo eleitoral ou liderança política, mas enfraquece a candidatura. Isso porque ele se candidatar pode significar arriscar a própria democracia do país”, afirma.
O professor também comenta que os candidatos de oposição não devem tomar a frente do golpe militar, como fizeram em 2019. “Acho que a oposição não vai se colocar como uma liderança. Não faz sentido arriscar uma candidatura tão perto das eleições”, opina.