A primeira vacina contra o câncer de pele começou a ser testada, nesta sexta-feira (26), no Reino Unido. O imunizante, desenvolvido pela Moderna em conjunto com a MSD, está na terceira fase de testes em busca da aprovação das agências reguladoras de saúde. O estudo é liderado pela University College London Hospitals.
De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de pele é o mais frequente no Brasil. A doença representa 30% de todos os tumores malignos diagnosticados no país. Porém, os melanomas - o tipo mais grave do câncer de pele - são apenas 4% dos diagnósticos da doença. Em todo o mundo, o melanoma afeta cerca de 132 mil pessoas por ano.
Segundo o jornal inglês The Guardian, médicos que participam do estudo estão animados com o potencial da vacina em curar permanentemente o câncer de pele, especialmente em pacientes com melanoma. A vacina é desenvolvida com a tecnologia mRNA, a mesma utilizada na elaboração dos imunizantes contra a Covid-19.
A vacina é adaptada com as células de cada paciente e instruem o corpo a caçar as células cancerígenas para evitar que a doença volte. Além de tratar o melanomas, o imunizante está sendo testado em outros tipos cânceres, como o de pulmão, rins e bexiga.
A médica Heather Shaw, coordenadora do estudo, afirma que a vacina foi projetada para ativar o sistema imunológico para que ele possa lutar contra o tipo específico de câncer e tumor de um paciente. “Esta é uma das coisas mais emocionantes que vimos em muito tempo. Esta é uma ferramenta realmente aprimorada. Os pacientes estão realmente entusiasmados”, disse.
Como a vacina funciona?
A vacina, chamada de mRNA-4157 (V940), tem como alvo atacar os neoantígenos, presentes na superfícies de tumores, de um determinado paciente. Esses marcadores tumorais podem ser reconhecidos pelo sistema imunológico.
O imunizante, então, carrega a codificação de até 34 neoantígenos e ativa uma resposta imune contra esses tumores. Para personalizar a substância para cada paciente, os cientistas retiram uma amostra do tumor durante uma cirurgia e sequenciam o DNA, com a ajuda de inteligência artificial. O resultado é como uma injeção contra o câncer, específica para o tumor de um determinado paciente.
“É absolutamente personalizado para o paciente – você não pode dar isso para o próximo paciente na fila porque não funciona”, explicou Shaw.
Vacina diminui chances de morte pela metade
Durante a segunda fase de testes, os cientistas observaram que pacientes com melanoma grave tinham 49% a menos de chance de morrer ou do câncer regredir em três anos, se comparado a quem recebeu apenas o tratamento por imunoterapia. Os pacientes receberam 1 mg da vacina a cada três semanas, com um máximo de nove doses.
Agora, a terceira fase de testes irá contar com a participação de cerca de 1.100 pessoas. No Reino Unido, ao menos 60 ou 70 pacientes devem receber o imunizante.
Um dos primeiros pacientes é Steve Young, de 52 anos, diagnosticado com melanoma em estágio 2, que foi removido.
“Sinto-me sortudo por fazer parte deste ensaio clínico. É claro que não me senti tão sortudo quando fui diagnosticado com câncer de pele; na verdade, foi um grande choque, mas agora que fiz tratamento, estou ansioso para garantir que não volte a ocorrer. Esta é minha melhor chance de parar o câncer”, diz Steve ao University College London Hospitals.