A polícia do estado americano do Maine informou, neste sábado (28), que o homem que atirou e matou 18 pessoas em um boliche e em um bar, suicidando-se depois, sofria de problemas de saúde mental, mas conseguiu comprar armas legalmente porque nunca foi obrigado a se submeter a um tratamento.
O corpo de Robert Card, um reservista do Exército de 40 anos, foi encontrado na noite de sexta-feira dentro de um caminhão com reboque perto do centro de reciclagem onde ele trabalhava, disse o comissário de Segurança Pública do Maine, Mike Sauschuck.
Ele se suicidou com uma arma de fogo perto de um rio em Lisbon, a cerca de 20 minutos de Lewiston, acrescentou, durante coletiva de imprensa.
Os investigadores ainda tentam determinar o que levou a Card executar o massacre na quarta-feira na cidade de Lewiston, no nordeste do país, que também deixou 13 feridos.
Sauschuck disse que, segundo informes, Card ouvia vozes e sofria de paranoia.
“Claramente há um componente de saúde mental nisto”, disse a jornalistas.
Os investigadores encontraram um bilhete que Card deixou a um ente querido e que continha uma senha para seu celular e informação sobre sua conta bancária, detalhou Sauschuck, acrescentando que a nota tinha o tom de uma carta de suicídio.
Junto ao corpo de Card, foram encontradas três armas, entre elas um fuzil semiautomático, todas compradas legalmente, o que ele conseguiu fazer porque não havia registros de que tivesse dado entrada à força em uma instituição psiquiátrica.
Apesar de seus problemas de saúde mental aparentemente claros e de uma avaliação psiquiátrica supostamente recente, “uma verificação de antecedentes não indicará que este indivíduo tinha uma proibição”, acrescentou Sauschuck.
“Saída covarde”
A descoberta do corpo de Card pôs fim a uma intensa busca de dois dias, que manteve a tranquila cidade de 38.000 habitantes confinada, com comércios e escolas fechados e seus vizinhos aterrorizados.
Sauschuck reconheceu a ajuda que a família de Card deu à investigação, e disse que entre as primeiras pessoas a chamar a polícia e identificar o suspeito estavam seus familiares.
“A família foi incrivelmente cooperativa conosco”, disse.
Neste sábado, Lewiston tentava voltar à normalidade: as lojas começaram a abrir e as pessoas apareceram, pouco a pouco, nas ruas.
Guadalupe Hursch, uma dona de casa de 49 anos, disse que estava feliz de esta experiência terrível ter terminado.
“Aliviada. Aliviada”, resumiu Hursch à AFP, acrescentando que também lamentava pelos pais de Card.
Uma moradora identificada apenas como Danica contou que sentiu “muito medo” após o ataque a tiros e que agora estava feliz por Card estar morto, embora ao mesmo tempo desejasse que ele tivesse sido levado à justiça.
“Acho que tomou a saída covarde ao se suicidar”, disse Danica, que preferiu não revelar seu sobrenome. “Acredito que deveria prestar contas por seus crimes”.
A mulher ressaltou: "É espantoso o que aconteceu e vamos levar muito tempo para voltar às nossas vidas anteriores”.
Em um comunicado divulgado pouco depois de o corpo de Card ser encontrado, o presidente americano, Joe Biden, prometeu renovar os esforços para frear a violência com armas de fogo nos Estados Unidos.
“Os americanos não deveriam ter que viver assim. Vou continuar fazendo tudo o que estiver ao meu alcance para pôr fim a esta epidemia de violência armada”, afirmou Biden.
O ataque a tiros trouxe “dois dias trágicos, mas não só para Lewiston, Maine, mas para todo o nosso país”, acrescentou.
As autoridades identificaram as vítimas fatais do ataque, que tinham idades entre 14 e 76 anos. Entre elas, estavam um pai e seu filho de 14 anos, além de um casal de septuagenários.
O massacre de quarta-feira está entre os mais mortais nos Estados Unidos desde 2017, quando um homem armado abriu fogo contra o público durante um festival de música country em Las Vegas, estado de Nevada (oeste), matando 60 pessoas.
Os ataques a tiros maciços são assustadoramente comuns nos Estados Unidos, um país onde há mais armas que pessoas e onde as tentativas de conter sua propagação sempre encontram uma dura resistência.
O país registrou mais de 500 ataques a tiros este ano, segundo a Gun Violence Archive, organização não governamental que define um incidente deste tipo como um fato envolvendo armas de fogo que deixa quatro ou mais feridos ou mortos.
As tentativas de endurecer o controle sobre a venda e o uso de armas de fogo se deparam, há anos, com a oposição sobretudo dos republicanos, defensores ferrenhos do direito constitucional a portá-las.
O impasse político perdura no Congresso, apesar da indignação generalizada pelos ataques a tiros recorrentes.