O assassinato de três adolescentes aterrorizaram a cidade de Swansea, no sul do País de Gales, em 1973. Trinta anos depois dos crimes, o autor foi identificado através de um teste de DNA inovador. A história das garotas é contada na série britânica Steeltown Murders.
As vítimas foram mortas nas mesmas circunstâncias - saíram de casa para ir a uma festa e desaparecerem. Em julho daquele ano, Sandra Newton, de 16 anos, foi com o namorado até a comunidade vizinha de Briton Ferry. A adolescente despareceu por volta de 1h da manhã enquanto caminhava até sua casa.
Em setembro, Geraldine Hughes e Pauline Floyd foram espancadas, estupradas, estranguladas e mortas após pegarem uma carona para voltar para casa. Os corpos das duas amigas foram encontrados a apenas 11 quilômetros de onde Sandra havia sido encontrada, em uma floresta perto de Llandarcy.
As investigações
Uma equipe de 150 policiais interrogou cerca de 35 mil suspeitos que se encaixavam na descrição da última pessoa a ver as amigas Geraldine e Pauline em vida - um homem entre 30 e 35 anos, de bigode e cabelo crespo. A testemunha também viu as adolescentes entrando em um carro de cor clara, modelo Morris 1100.
Os policias inicialmente trataram os dois casos de forma isolada. Eles até consideraram que a mesma pessoa tivesse matados as três garotas, mas desconfiavam que o namorado de Sandra seria o responsável por tirar a vida da adolescente. Porém, devido à falta de provas, ele nunca foi acusado.
As investigações foram unificadas em 2000, quando a polícia adotou uma nova tecnologia para solucionar crimes. As autoridades conseguiram identificar o DNA do assassino de Geraldine e Pauline através das manchas de sêmen encontradas nas roupas das adolescentes. A amostra correspondia ao mesmo homem, porém ele não estava identificado no banco de dados de DNA da polícia galesa. Um ano depois, o DNA do mesmo homem foi encontrado nas roupas de Sandra, provando a inocência do seu namorado.
Identidade do assassino era um mistério
Apesar da polícia já saber que um mesmo homem havia matado as três adolescentes, sua identidade ainda era um mistério. Então, a polícia começou a desenvolver novas estratégias para solucionar o crime.
“Você herda seu DNA dos seus pais e passa seu DNA para um filho. Então, poderíamos procurar no banco de dados de DNA por um filho do criminoso? Esta era uma possibilidade real”, contou o cientista forense Colin Dark. Após comparar o DNA do assassino com milhares de amostras, a polícia chegou a 100 nomes.
Enquanto isso, investigadores conseguiram reduzir a lista de 35 mil homens para 500. A seleção foi baseada na descrição do carro e se o assassino tinha condenações anteriores por violência ou crimes sexuais.
Ao cruzar as listas, o sobrenome Kappen se destacou.
Principal suspeito
A polícia encontrou o DNA de Paul Kappen, um ladrão de carros da região. Em 1973, ele tinha apenas sete anos, mas poderia ser filho do verdadeiro assassino. Seu pai Joseph (Joe) Kappen, um segurança de boate e motorista de ônibus, havia sido interrogado na época das mortes. Ele batia com a descrição da testemunha e dirigia um Morris 1100 de cor clara.
Joe não foi acusado, pois tinha a esposa como álibi e alegou que o carro estava com defeito. De acordo com Paul Bethell, que liderou a nova investigação, o suspeito tinha histórico de violência doméstica e já havia sido preso. Depois que o DNA do filho se provou 50% compatível com o encontrado nas roupas das vítimas, Joe Kappen se tornou o principal suspeito das mortes. Porém, o homem já tinha morrido em 1990, aos 48 anos, de câncer de pulmão.
Para confirmar as suspeitas, os policiais ainda recolheram o DNA da ex-mulher e da filha de Kappen. Assim, os detetives já tinham dois terços do DNA do suspeito mapeados. Mas para ter 100% de certeza, era preciso exumar o corpo de Kappen — era a primeira vez que um suspeito seria exumado no Reino Unido para provar sua culpa.
Crime foi solucionado 30 anos depois
A polícia precisou da autorização do ministro do Interior para realizar a exumação. “Minha decisão foi muito clara: o corpo de Joseph Kappen deveria ser exumado para confirmar de uma vez por todas que este era o homem que cometeu os assassinatos e oferecer às famílias algum tipo de conforto. Para o bem de todos, descobrir a verdade era muito importante”, disse Lord Blunkett, ministro do Interior entre 2001 e 2004, à BBC.
Em maio de 2002, o corpo de Joe Kappen foi exumado. “Foi uma noite horrível e, assim que chegamos ao caixão de Kappen, houve um estrondo de trovão. A sensação era de que o mal havia sido identificado, deu um arrepio na espinha”, lembra Dark.
O exame de DNA confirmou que Joe Kappen era o verdadeiro assassino das três adolescentes. A técnica utilizada inaugurou uma nova ferramenta de identificação. “Esta foi uma técnica revolucionária, a primeira vez que foi usada no Reino Unido e possivelmente no mundo — e a partir daí, a nova ferramenta investigativa, agora conhecida como DNA de família, foi desenvolvida”, explicou Dark.
Os familiares das vítimas aprovaram a descoberta. “Não há palavras para descrever como todos nós nos sentimos, foi um grande alívio. Nenhum de nós deixou de ter esperança de que um dia descobriríamos quem ele era. Embora a vida siga adiante, não dá para esquecer”, afirmou Julie Begley, prima de Geraldine.
Uma amiga de Sandra também desabafou: “Depois de todos esses anos, ela pode finalmente descansar em paz.”