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Alvos de ataques em Paris, boxeadoras não são atletas trans: entenda condição rara

Atletas nasceram com uma condição genética chamada Diferenças de Desenvolvimento Sexual (DDS), que faz com que elas tenham cromossomos XY; COI baseia gênero de atletas de acordo com declaração em seus passaportes

A argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting avançam em Paris, após serem desclassificadas de mundial

A presença de duas boxeadoras na Olimpíada de Paris têm causado polêmica nos últimos dias. A argelina Imane Khelif, de 25 anos, e a taiwanesa Lin Yu-ting, de 28, foram desclassificadas do campeonato mundial da modalidade no ano passado após não passarem no “teste de gênero”, exame realizado pela Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglês).

Nesta quinta-feira (1º), a repercussão da participação das atletas se tornou ainda maior. Khelif ganhou por desistência da italiana Angela Carini, que deixou o ringue 46 segundos após o início do combate. Com a vitória, a argelina se classificou para as quartas de final da categoria até 66 kg.

Carini negou que tenha desistido da luta por conta das polêmicas que rondam as adversárias, porém alguns torcedores, de forma preconceituosa e errônea, chamaram Khelif de “transexual”.

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Argelina possui condição genética rara, mas não é trans

Segundo informações da agência de notícias Reuters, a boxeadora Imane Khelif é uma mulher que nasceu com uma condição rara chamada de Diferenças de Desenvolvimento Sexual, ou DDS. A condição envolve genes, hormônios e órgãos reprodutivos.

Algumas pessoas com DDS são criadas como mulheres, mas possuem cromossomos sexuais XY (Geralmente, as mulheres têm cromossomos XX, enquanto os homens têm pares XY. Porém, Khelif e Lin nunca se identificaram como homens, transsexuais ou intersexo — que se refere a pessoas com características sexuais masculinas e femininas).

Indivíduos com DDS também possuem altos níveis de testosterona no sangue, em uma quantidade semelhante a de homens, além da capacidade de usar a testosterona que circula em seus corpos. Por isso, a participação de atletas com essa condição é debatida entre entidades internacionais.

As categorias femininas consideram que esportistas que passam pela puberdade masculina conseguem ter uma vantagem física importante. Além dos níveis mais altos de testosterona, os benefícios incluem ganho de massa muscular, vantagem esquelética e contração muscular mais rápida. Em esportes de combate, como o boxe, isso se tornar um problema de segurança.

Por que atletas foram desclassificadas de mundial, mas puderam competir em Paris 2024?

As boxeadoras foram desclassificadas do campeonato mundial do ano passado, realizado em Nova Delhi. De acordo com as regras da Associação Internacional de Boxe (IBA), atletas com cromossomos XY são proibidas de competirem em eventos femininos.

Khelif foi desclassificada horas antes da luta pela medalha de ouro. Já a bicampeã mundial Lin perdeu a sua medalha de bronze por não conseguir atender aos critérios da IBA. Porém, em Paris, é o Comitê Olímpico Internacional (COI) que cuida das disputas do boxe.

O COI organiza a modalidade desde a Olimpíada de Tóquio, em 2021. Isso acontece desde que a IBA foi destituída de seu status como órgão regulador global do boxe pelo próprio COI, por questões éticas e de governança. Portanto, a IBA, liderada pela Rússia, não supervisiona a qualificação olímpica dos atletas do boxe.

Como o COI tem regras sobre diversidade de gênero na competição feminina, as atletas têm permissão para disputar os Jogos Olímpicos de Verão em Paris. O COI afirma que as atletas só devem ser excluídas da competição feminina se houver problemas claros de justiça ou segurança.

“Eu diria apenas que todos que competem na categoria feminina estão cumprindo as regras de elegibilidade da competição”, disse o porta-voz do COI Adams na terça-feira (30). “Elas são mulheres em seus passaportes e é declarado que é o caso. Esses atletas já competiram muitas vezes antes, por muitos anos — eles não chegaram de repente”.


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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.