Na última semana de julho, a Liga Forte Futebol (LFF) ofertou aos membros a possibilidade de adiantar parte da verba pelas quais seus clubes terão direito pela cessão de 20% dos direitos de transmissão relativa aos próximos 50 anos. Dos 23 associados ao bloco, 11 optaram pela receita. O Sport, em lado oposto, escolheu por não colocar as mãos nos R$ 14 milhões que teria à disposição. Mas, afinal, por que o Leão não quis o adiantamento?
A principal justificativa do presidente do clube, Yuri Romão, está nos juros que contornam o adiantamento. Mas não é só isso. Num contexto de maior complexidade, o mandatário rubro-negro previu também que ter o dinheiro em caixa poderia ser uma espécie de “tiro no pé", devido às dívidas do clube, atraindo credores, e pior: recebendo uma pressão extra da torcida por contratações de peso.
O Sport vai receber aproximadamente R$ 135,8 milhões nos próximos 18 meses do acordo de adesão à Liga Futebol Forte (LFF). O montante foi ratificado por Romão à Itatiaia em maio passado. O valor é referente às vendas, a partir de 2025, de um quinto dos direitos de transmissão da equipe no Campeonato Brasileiro durante 50 anos - ou seja, até 2075.
Pelo acordo com a Liga Forte Futebol, grupo o qual se vinculou, o Sport vai receber o pagamento do investidor em três momentos:
R$ 67,9 milhões (50%) na primeira parcela,
R$ 33,9 milhões (25%), na segunda parcela;
R$ 33,9 milhões (25%) na terceira.
Houve a expectativa de o Sport, assim como os demais clubes que compõem o bloco, receber a primeira de parcelas do montante em junho. Entretanto, a LFF ainda, aguarda pelos trâmites burocráticos para obter liberação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão financeiro federal, para a entrada de investidores estrangeiros. O investimento para os clubes que estão na Liga vêm das gestoras de investimentos Serengeti, dos Estados Unidos, e Life Capital Partners, sediada em Curitiba.
Enquanto a LFF ainda não se torna oficial, os valores passaram a ser adiantados pela XP Investimentos, assessora do bloco Forte Futebol. Os créditos, entretanto, que variam entre R$ 4 milhões e R$ 44 milhões, a depender dos associados, não sairiam de graça.
Mas e por que o Sport não quis?
“Pés no chão. Explicando de forma mais lúdica. Se você pega R$ 14 milhões, se o clube pega esse valor e com os débitos que ele tem, você vai terminar pagando um monte de coisa do dia a dia. Se eu coloco esse montante no caixa, no outro dia aparece um monte de gente querendo cobrar coisas. É uma situação. Especificamente, não foi só por isso”, começou a explicar Yuri Romão, em entrevista à Itatiaia.
“Se colocamos esses R$ 14 milhões no caixa, a pressão da torcida por contratações mirabolantes, ela seria surreal. Mas quando você contrata, pega esse valor e paga R$ 6 milhões, R$ 7 milhões, compra 50% dos direitos econômicos de um atleta; compra mais outro por R$ 3 milhões, R$ 4 milhões... Torra os R$ 14 milhões. Esses jogadores com esses preços viriam também com salários que não são interessantes. Aí pergunto: a gente tem condições de pagar os juros, algo em torno de 2% ao mês, fora IOS [Imposto sobre Operações Financeiras]. Então estimo que iríamos pagar por mês algo em torno de R$ 300 mil de juros, numa conta de padaria”, detalhou o presidente do Sport
De acordo com Romão, a taxa praticada pela XP Investimento é de CDI + 3%. O valor do CDI hoje, considerando o divulgado em julho de 2023, é de 13,57% ao ano e cerca de 1,02% ao mês
“Se você tem algo em torno de 1,5% de CDI, vai ter em torno de 1,8% de juro mensal. Fora o imposto do IOF que toda a operação bancária tem. Iríamos pagar os R$ 300 mil de juros mais os R$ 14 milhões que estou devendo. Além disso, ia fazer incremento na folha salarial do futebol. Estimo que se contratássemos três jogadores com isso, teríamos um incremento de R$ 1 milhão de folha. Pergunto: o Sport tem geração de caixa para incrementar R$ 1 milhão de folha por mês?”, questionou.
Yuri Romão afirmou que a LFF contratou um advogado especialista em questões do Cade para tentar otimizar a parte burocrática. A estimativa, segundo ele, para que tudo fique resolvido é de aproximadamente 30 dias. Sem pressa, com a folha salarial em dia e atravessando um
“Agora, se eu fosse irresponsável e fosse jogar para a torcida, eu tinha feito. Mas essa conta iria chegar, como chegou. Estou há dois anos só pagando conta. Pago as minhas contas e uma fortuna de contas do passado”, afirmou Romão.
E qual o destino dos 135,8 milhões que vêm da LFF?
O Sport atravessa, neste momento, um processo de Recuperação Judicial. O clube, de acordo com o balanço de 2022 divulgado há dez dias pelo clube, entrou no décimo ano consecutivo de déficit financeiro, com um passivo que chegou a ordem dos R$ 271 milhões.
Um dos destinos desse valor oriundo da LFF seria fundamentalmente para negociar dívidas. Outro ponto colocado é a estruturação da Ilha do Retiro.
“Quando o dinheiro chegar, vou sentar Conselho Deliberativo, com os nossos dirigentes. Infraestrutura quanto precisamos? Tanto. Melhoria no elenco? Tanto. Deixar dinheiro em caixa é importante, não posso torrar tudo e no próximo ano estar preocupado com pagamento do mês. Vou deixar uma verba para uma necessidade qualquer ao longo do ano. É isso. A gestão será feita como numa empresa de forma transparente. Vamos tratar o dinheiro com muita responsabilidade”, pontuou o presidente.