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Paquetá, logística, diretor: os problemas de Fernando Diniz na Seleção Brasileira

Treinador fez seis jogos, com apenas duas vitórias e a sexta colocação nas Eliminatórias; sem um chefe direto, Diniz enfrentou dificuldades dentro e fora de campo

Fernando Diniz e Ednaldo Rodrigues na apresentação do técnico na Seleção Brasileira

Por volta das 13h de 18 de agosto do ano passado, Fernando Diniz precisou tomar uma decisão: cortar Lucas Paquetá da primeira lista de convocados que elaborou para a Seleção Brasileira. Ele anunciaria, às 14h, os 23 nomes para os jogos contra Bolívia e Peru, no mês seguinte.

A não convocação de Paquetá aconteceu porque horas antes a imprensa inglesa havia revelado que o meia era investigado na Inglaterra, onde joga pelo West Ham, por suspeita de participação ilegal em apostas esportivas. Nada ainda foi provado, o jogador continua atuando por seu time, mas naquele momento, com poucas informações a respeito, Diniz precisou tomar a decisão. Sozinho.

E por que sozinho? Porque a Seleção não tinha um diretor, que pudesse bancar, por exemplo, uma convocação, apesar das suspeitas. Ou sentar na mesa ao seu lado, na sala de coletivas, e explicar o motivo do corte. Foi Diniz quem teve que responder às perguntas sobre Paquetá, e foi honesto: ele estava na lista, mas acabou saindo.

Nos cinco meses em que foi técnico da Seleção Brasileira, o time não tinha um diretor ou coordenador que o auxiliasse. Seu chefe direto, na prática, era o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que por mais boa vontade que tivesse, nem sempre estava disponível ou teria as informações necessárias para, por exemplo, bancar ou não o corte de Paquetá. A bronca era de Diniz.

A decisão de não ter alguém como diretor da Seleção foi de Ednaldo após a saída de Juninho Paulista, no fim de 2022, depois do fracasso na Copa do Catar. E se mostrou um erro, o próprio Ednaldo Rodrigues confidenciou a aliados quando esteve afastado por quase um mês da presidência da CBF, por decisão da Justiça.

Ao reassumir o cargo nesta quinta-feira (4), por liminar do Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, Ednaldo Rodrigues decidiu demitir Diniz, que só venceu dois dos seis jogos que fez, mas que tinha contrato até junho de 2024.

Diniz chegou, na verdade, para ocupar o espaço de um ano que Ednaldo imaginou que demoraria para Carlo Ancelotti assumir, mas este decidiu renovar o contrato com o Real Madrid. Sem o italiano, e agora sem Diniz, o presidente vai contratar um novo técnico, mas também um diretor e, de preferência, afinado com o comandante do time.

A dupla preferida é Dorival Júnior, técnico do São Paulo, e o recém aposentado Filipe Luís, que é adorado por atletas e outras figuras do futebol.

O caos sem diretor

O caso de Paquetá não foi o único problema de Diniz sem um diretor durante sua passagem pela Seleção. Ele não tinha a quem recorrer para questões de logística, por exemplo. E isso não foi fácil, principalmente porque se dividia entre a CBF e o Fluminense, clube que continuava dirigindo. Ele não estava, portanto, o tempo todo na sede da confederação na Barra da Tijuca.

A direção da CBF decidiu mandar logo a estreia de Diniz no estádio Mangueirão, em Belém. Apesar da ótima receptividade da população, comum em jogos do Brasil nas regiões Norte e Nordeste, a estrutura de trabalho não era a ideal, apesar de o equipamento estar reformado.

O gramado, internamente, foi criticado. Diniz rejeitou um dos CTs oferecidos para treinos, também com qualidade abaixo da ideal, e preferiu trabalhar no próprio estádio, desgastando ainda mais o gramado.

Para a segunda janela, de outubro passado, o jogo contra a Venezuela foi marcado para Cuiabá, na Arena Pantanal, e o problema se repetiu. O gramado ainda estava em piores condições, e o Brasil só empatou com a Venezuela, por 1 a 1. Diniz já havia comentado com o presidente Ednaldo Rodrigues que seria preciso ao menos melhores gramados.

Com o empate com a Venezuela e a derrota para o Uruguai, em Montevidéu, enfim Diniz conseguiu o que queria: enfrentaria a Argentina no Maracanã, onde se sente casa, já que também é o técnico do Fluminense, e treinaria no centro de treinamento da CBF, na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), no Rio, que tem estrutura e campos de primeiro nível.

A CBF investiu na locação de um moderno avião, para levar os jogadores à Colômbia, para jogar e voltar para treinar novamente na Granja, antes de encarar a Argentina. A logística foi boa, mas os resultados, não. Derrotas de 2 a 1 para os colombianos, em Barranquilla, e 1 a 0 para a Argentina no Rio, no primeiro revés da história da Seleção em casa pelas Eliminatórias.

Esses resultados, e o esforço da diretoria por logística, têm sido usados por Ednaldo Rodrigues para explicar a aliados a decisão em demitir Diniz. Apesar de o cartola também admitir que foi um erro não ter um diretor de Seleções no período.

Fernando Diniz fez seis jogos como técnico da Seleção Brasileira, com duas vitórias, um empate e três derrotas. E deixou o time na sexta colocação das Eliminatórias, com sete pontos, no limite de classificação para a Copa do Mundo de 2026, que será nos Estados Unidos, no Canadá e no México.

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.