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Ronaldinho é intimado no Mineirão em processo sobre esquema de pirâmide; entenda

No último sábado (11), oficial de Justiça foi ao Mineirão para cumprir mandado; documento foi recebido por Assis, irmão do astro

Ronaldinho Gaúcho em ação durante o “Desafio de Gigantes”, realizado no Mineirão, no sábado (11)

Um caso que envolve Ronaldinho Gaúcho ganhou novos capítulos nesse fim de semana. A Itatiaia apurou que um oficial de Justiça compareceu ao Mineirão, em Belo Horizonte, no último sábado (11), durante o “Desafio de Gigantes”, para intimar o astro. No entanto, no momento do cumprimento do mandado, o ex-atleta estava em campo no jogo festivo.

O ex-jogador e empresário foi citado em um processo que apura a participação dele em um esquema de pirâmide.

Roberto de Assis Moreira, ex-jogador, irmão e empresário do ídolo de Barcelona-ESP, Atlético e outros clubes, recebeu o mandado como procurador do ex-jogador.

A reportagem teve acesso ao documento assinado pelo oficial de Justiça. Leia abaixo.

“MM. Juiz,(a)

CERTIFICO que, em cumprimento à ordem expressa contida no respeitável mandado nº 2 dirigi-me à Av. Antonio Abrahão Caram, 1001, Bairro São Luiz, no dia 11 de outubro, às 16h16, observando todas as formalidades legais aplicáveis, bem como as diretrizes estabelecidas no despacho judicial e em conformidade com os termos vigentes. Nesse local, procedi à citação de Ronaldo de Assis Moreira, por intermédio do Sr. Roberto Assis Moreira, que se apresentou como seu procurador, a quem foram lidos integralmente o conteúdo do mandado e suas respectivas cópias, assegurando-se sua plena compreensão e ciência do teor do ato. Em seguida, foi-lhe entregue a contrafé, a qual aceitou e assinou, atestando, assim, seu conhecimento e concordância com os termos do mandado.

O REFERIDO É VERDADE E DOU FÉ

Belo Horizonte, 11 de Outubro de 2025”

A Itatiaia apurou que a citação busca deixar Ronaldinho ciente de que ele está envolvido no processo. A ação, que tramita na 28ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, é movida conjuntamente por 19 pessoas.

“Defiro o pedido para que o réu Ronaldo de Assis Moreira, popularmente conhecido como Ronaldinho Gaúcho, seja citado por hora certa no endereço e horário informados na mencionada petição, devendo o mandado ser expedido com extrema urgência”, diz trecho do despacho assinado pela juíza Myrna Fabiana Monteiro Souto, ao qual a Itatiaia teve acesso.

A ação cobra danos morais e danos materiais. O valor pedido como indenização é de R$ 651.563,63.

A reportagem entrou em contato com a defesa de Ronaldinho, que alegou desconhecer o processo movido contra o ex-jogador. Ela também alega que a empresa 18K Ronaldinho usou, indevidamente, a imagem do ex-atleta.

Entenda o caso

Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, é citado em inúmeros processos ao redor do Brasil por envolvimento com a empresa de criptomoedas 18K Ronaldinho Comércio e Participações LTDA.

A empresa é investigada por formação de esquema de pirâmide.

Em 2023, Ronaldinho depôs à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras na Câmara dos Deputados. Na ocasião, o ex-atleta explicou a participação na empresa e negou ser sócio ou fundador.

“Eu nunca fui sócio da empresa 18k Ronaldinho Comércio e Participações Ltda. Os sócios de tal empresa são os senhores Raphael Horácio Nunes de Oliveira e Marcelo Lara Marcelino. Eles utilizaram indevidamente meu nome para criar a razão social dessa empresa”, disse o ex-jogador à CPI.

A empresa utilizava o nome e a imagem de Ronaldinho para atrair investidores em criptomoedas comercializadas pela 18K. Eram prometidos aos clientes rendimentos de até 2% ao dia e até 400% em menos de um ano em operações com moedas digitais - conforme aponta petição inicial do processo que tramita em Belo Horizonte.

Imagem anexada ao processo mostra um banner com Ronaldinho durante uma apresentação

A empresa oferecia planos (“packs”) de investimentos entre 30 e 12 mil dólares (entre R$163 e R$ 65 mil reais, na cotação atual).

O ex-jogador revelou que, em 2016, celebrou um contrato com a empresa estadunidense 18K Watch Corporation, para a criação de uma linha de relógio com a imagem dele.

Em julho de 2019, Ronaldinho assinou um novo contrato com a 18K Watch Comércio Atacadista e Varejista de Negócios, que autorizava o uso da imagem do ex-atleta para outros produtos além do relógio. No entanto, o vínculo foi rescindido em outubro do mesmo ano.

Segundo o próprio Ronaldinho, em 2020, chegou ao conhecimento de Assis que a imagem do ex-jogador era utilizada, de maneira indevida, pela 18K Ronaldinho Comércio e Participações LTDA - responsável por realizar negociações de criptomoedas.

Vítima relata danos

A Itatiaia entrou em contato com uma vítima da empresa de compra e venda de bitcoins. A fonte, que preferiu não se identificar, revelou detalhes de como foi toda a operação junto à 18K Ronaldinho.

“Um conhecido que trabalhava com marketing multinível me apresentou e, por ter trabalhado há anos na Hinode, onde mostrou uma empresa que existia há anos e que acreditava que a 18k Ronaldinho poderia ser uma grande oportunidade, pois além de tudo tinha o Ronaldinho como um dos donos, e nos vídeos o próprio Ronaldinho dizia para todos ajudarem a empresa a crescer, que era uma oportunidade para todos”, iniciou.

“A grande motivação era ter ganhos em criptomoedas onde eles se mostravam em operações, e, nesse momento, havia muitas pessoas querendo conhecer sobre o tema, além de receber parte do valor aportado em relógios e poder comercializá-los”, continuou.

“O conjunto de relógio + o retorno prometido pelo investimento no bitcoin atrelado ao Ronaldinho, de quem sempre fui fã, foi a motivação”, finalizou.

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A vítima disse ter investido pouco mais de 40 mil dólares (R$ 218 mil, na conversão atual) e explicou como funcionava o processo de investimento.

“Investi um pouco mais de 40 mil dólares. Eles enviam a chave deles de Bitcoin e eu enviava para eles”, disse.

Os relógios de Ronaldinho

A fonte explicou que era prometido um retorno do investimento em dinheiro e outra parte em relógios, que seriam entregues no momento do aporte inicial.

“Dentro do site da 18K você informava qual valor iria investir. Eles geravam o código da carteira (de investimento) deles. (Então), você enviava os bitcoins para a carteira deles e, após isto, em alguns minutos ou horas aparecia no seu login no site o investimento feito”, inicia a explicação.

“Lá (no site) mostrava quem participava com você se tivesse indicado, o retorno das operações que eles diziam fazer e o endereço para cadastrar e receber os relógios que nunca chegaram”, continuou.

“Só foi possível pegar parte dos relógios no evento que eles fizeram no Rio de Janeiro, ainda assim, uma parte muito pequena, em comparação ao valor investido”, finalizou.

O evento em questão foi realizado no dia 17 de agosto de 2019. Dentre os presentes estavam Ronaldinho e Assis.

“Fizeram um evento, uma espécie de inauguração da empresa em 17/08/2019, onde foram o Ronaldinho, seu irmão, Assis, várias pessoas prestando palestras”, explicou.

“Inclusive, a única forma de retirar os relógios foi lá. Nunca enviaram por Correios, e a retirada foi muito inferior às quantidades prometidas”, concluiu.

O registro de um dos eventos com a presença de Ronaldinho foi divulgado no YouTube em 21 de novembro de 2018. Veja abaixo.

Por fim, a vítima relata quando percebeu se tratar de um suposto golpe aplicado pela 18K Ronaldinho.

“Aproximadamente 3 meses após o evento do Rio, onde os resgates começaram a atrasar, plataforma começou a ficar fora do ar”, disse.

Desde então, a plataforma nunca mais voltou a ficar disponível.

Jornalista formado pelo Centro Universitário UNA. Acumula passagens pela Web Rádio Neves FM e Portal Esporte News Mundo, como setorista do América, além de possuir experiência em coberturas in-loco e podcast. Apaixonado por automobilismo e esportes americanos.
Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro