Escola mineira homenageia ídolos do futebol em exposição no mês da Consciência Negra

Exposição ‘Museu do Negro no Futebol’ será realizada entre os dias 14 e 19 de novembro

A Escola Estadual de Melo Viana, em Esmeraldas (MG), homenageia ídolos do futebol com uma exposição intitulada “Museu do Negro no Futebol”. A mostra, que será realizada entre os dias 14 e 19 de novembro, presta tributo a atletas negros que tiveram trajetórias de destaque no futebol. O projeto será realizado nas dependências da escola, com entrada gratuita.

A exposição deve contar com a presença de Dirceu Lopes, ídolo do Cruzeiro e multicampeão pelo clube nos anos 1960 e 1970.

Em entrevista à Itatiaia, Fábio Militão, responsável pelo projeto e professor da escola, detalhou a exposição.

Como surgiu a ideia

Fábio explicou que a ideia do “Museu do Negro no Futebol” surgiu em 2023, quando um aluno que tinha o sonho de ser jogador não conseguiu realizar o objetivo.

“Essa discussão começa em 2023, quando eu tinha um aluno, que o sonho dele era ser jogador de futebol. Era um menino que tinha condições de passar em algum teste. Só que ele era um menino negro e (tinha) todas as dificuldades para ele jogar o futebol. Eu entendi ali, que a gente vive um racismo estrutural hoje dentro do futebol, principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte”, revelou Fábio Militão em entrevista à Itatiaia.

“Porque já não há mais os campos (de futebol), já há mais os espaços (para atividade física). E eu vi a importância da escola pública para esse menino. Coincidentemente, a gente tinha uma grande dificuldade de ter materiais para esse menino jogar futebol (na escola). Então, a partir daí, fiz um documentário com ele”, continuou o professor.

Segundo a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Belo Horizonte (SMEL), a capital mineira tem atualmente 217 quadras, 126 campos de futebol e 8 ginásios sob sua gestão.

Desde então, o docente iniciou estudos para aprofundar os conhecimentos sobre a participação do negro no futebol.

Mobilização dos alunos com a mostra

Adiante, Fábio detalhou como é a participação dos alunos no projeto. O professor revelou que nenhum dos alunos conhecia um museu, algo que foi um pequeno empecilho no início do projeto da mostra.

O educador revelou ter tentado levar estudantes ao Museu do Mineirão, mas não obteve sucesso.

“Eu fiz uma pesquisa com meus alunos, e os perguntei se eles haviam conhecido um museu. E nenhum deles pisou em um museu na vida. Eu tentei, insistentemente, levar esses alunos meus ao Mineirão. Primeiro, infelizmente, a gente não tem condições de transporte. Não existe verba para a gente levar os meninos de uma cidade para outra, até de um bairro para outro”, iniciou.

“E é muito caro para eles ir no Mineirão. Então, foi uma coisa que eu não pude dar a oportunidade deles de conhecer o que é o Museu do Mineirão. Então eu falei: ‘A gente precisa trazer para a comunidade o que é o museu’, destacou o docente.

Na sequência, Fábio explicou como a ideia do projeto se desenvolveu junto aos alunos.

“Eu sou pesquisador, coleciono camisas, jornais e tudo mais. Eu falei: ‘Olha, vamos expor isso aí e vamos fazer uma discussão mais ampla do que é o racismo estrutural do futebol, porque queira ou não, ainda é o esporte mais praticado do Brasil”, explicou Fábio Militão.

O pedagogo destacou que conta com o apoio de cerca de 20 estudantes dos ensinos fundamental e médio, com idades entre 13 e 16 anos, para a realização da mostra.

Os alunos da escola têm passado por cursos preparatórios antes do início da exposição. Para Fábio, esta pode ser uma maneira de acrescentar conhecimento ao futuro dos estudante.

“Nesses últimos meses a gente tem estudado, dado curso para os meninos sobre o que é museu, o que é o futebol, do que é um processo de você receber uma pessoa, entender uma pessoa. Porque também é uma forma deles terem no currículo esse trabalho. Se eles, um dia, tomarem gosto para essa área e trabalhar com isso, já tem esse treinamento que a gente passou”, destacou.

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Apoio da escola e reflexão sobre educação

O professor afirmou ter recebido apoio da diretoria da escola para a realização da exposição. No entanto, Fábio fez uma reflexão sobre as atuais condições do setor educacional em Minas Gerais.

O docente revelou que poderá ter que arcar com parte dos custos da mostra devido à falta de verba disponível para investimento na escola.

“As escolas do estado têm um problema sério que são os espaços físicos. Isso aí não é a escola que eu trabalho, é geral. A gente vai ter que improvisar um espaço lá. Vamos ter que desmanchar um auditório nosso para fazer esse projeto”, iniciou.

“Dentro da escola, a direção apoia 100%. Apoiou em tudo, ajudando a gente em tudo. Isso aí a gente não tem que questionar, não. A gente ainda vê um descaso muito grande com a educação do Poder Público. Qualquer coisa que a gente tenta gastar de financeiro para o projeto, se a gente não tiver dinheiro em caixa, a gente tem que tirar do nosso próprio bolso”, continuou Fábio.

“As impressões dos jornais (que estarão expostos), a escola ainda está vendo se consegue imprimir, mas se a não tiver resposta, a gente vai ter que bancar do próprio bolso”, expôs o professor.

Em outubro, o Governo de Minas anunciou o repasse de cerca de R$ 133 milhões para escolas estaduais - sendo R$ 56,9 milhões destinados ao custeio de 1.577 instituições de ensino do estado.

Acervo do museu e presença de Dirceu Lopes

Segundo o professor Fábio, o acervo do Museu do Negro no Futebol contará réplicas de camisas da Seleção Brasileira utilizadas nos anos de 1914, 1916, 1938, 1950 e 1958. Além disso, modelos de camisas de América, Atlético e Cruzeiro também serão expostos.

O docente também revelou que a mostra terá um espaço especial dedicado a ídolos negros de gigantes do futebol mineiro e disse que a presença de Dirceu Lopes é esperada na exibição.

“Vamos fazer uma exposição das camisas e vai ter exposição de jornais antigos impressos. A gente usou a Hemeroteca Nacional para buscar essas informações e a gente vai ter a exposição de revistas, todas impressas, em um painel mostrando como foi sequência, como que era tratado, principalmente, o negro pela mídia nesse período. Aí a gente vai ter exposição e uma galeria de fotos em quadros com esses jogadores que tiveram maior relevância”, disse o professor.

“A gente vai ter um espaço do futebol mineiro, onde a gente vai expor algumas fotos do Dirceu Lopes, do Reinaldo e do Jair Bala. Os três, talvez, os três grandes jogadores dos três clubes (mineiros) são negros. Provavelmente, o Dirceu Lopes vai fazer uma visita lá para nós. Já está meio encaminhado dele fazer essa visita”, revelou Fábio Militão.

Além da mostra em referência à cultura negra, o espaço contará com um espaço dedicado ao futebol feminino.

Mostra ‘Museu do Negro no Futebol’

  • Local: Escola Estadual de Melo Viana
  • Endereço: Rua Coletora, 180 - Mirante Palmital, Esmeraldas - MG, 35750-000
  • Entrada franca
  • Datas: entre os dias 14 e 19 de novembro
Jornalista formado pelo Centro Universitário UNA. Acumula passagens pela Web Rádio Neves FM e Portal Esporte News Mundo, como setorista do América, além de possuir experiência em coberturas in-loco e podcast. Apaixonado por automobilismo e esportes americanos.

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