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Cruzeiro inspirou músicas de Lô Borges, que sonhava com ‘Trem Azul’ no Mineirão

Ícone da música brasileira era torcedor do Cruzeiro; Itatiaia relembra entrevista à Revista do Cruzeiro de 1996

Lô Borges em foto para a Revista do Cruzeiro de setembro a outubro de 1996

O cantor e compositor Lô Borges morreu nesse domingo (2), vítima de uma falência múltipla de órgãos. O artista estava internado em um hospital particular de Belo Horizonte, desde o dia 17 de outubro devido a uma intoxicação medicamentosa.

Para além dos palcos, o vocalista mineiro carregava uma outra paixão: o futebol. O compositor sempre se declarou um torcedor do Cruzeiro. A Itatiaia relembra, nesta segunda-feira (3), uma entrevista concedida por Lô Borges à Revista do Cruzeiro, em 1996.

Um dos fundadores do grupo Clube da Esquina disse que o Cruzeiro de 1966, ano em que o time ganhou a Taça Brasil, primeiro título nacional do clube, o influenciou na composição de músicas.

“Chegou a influenciar sim. Eu tinha grandes prazeres com o Cruzeiro e eu tentava transformar aquilo em música. Eu não cheguei a fazer nenhuma música especificamente para o Cruzeiro, mas cada alegria que o time me dava era um motivo para pegar o violão e criar uma coisa nova. Quando você está feliz, com certeza compõe melhor”, contou o cantor de MPB em 96.

Em outra entrevista à Revista Cruzeiro, publicada em 2017, Lô confirmou que esteve no Mineirão na final da Taça Brasil. Na ocasião, o clube celeste venceu o Santos de Pelé por 6 a 2 no primeiro jogo da decisão. O título foi confirmado após nova vitória da Raposa no jogo de volta, por 3 a 2.

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Trem Azul

‘O Trem Azul’ é uma das músicas mais emblemáticas da carreira de Lô Borges. A canção faz parte do álbum Clube da Esquina, lançado em 1972.

Durante a entrevista à Revista do Cruzeiro em 1996, o cantor e compositor disse que esperava que a torcida do Cruzeiro aderisse à música como símbolo do clube celeste. O artista chegou a dizer que criaria, ele mesmo, uma torcida organizada com o nome ‘Trem Azul’.

“Até cobro dos cunhados mais novos, o pessoal da nova geração, o pessoal que frequenta mesmo o Mineirão e cria torcida. Tem uma música minha chamada Trem Azul, que foi gravada pela Elis Regina, pelo Tom Jobim, que seria um ótimo nome para torcida organizada do Cruzeiro. Não sei porque ainda não pegaram este nome. Sou a fim de ver a faixa ‘Trem Azul’. Acho que a solução para esta torcida existir vai ser eu mesmo criá-la”, disse Lô Borges.

Quem também fazia parte do ‘Clube da Esquina’ e sempre demonstrou carinho pelo Cruzeiro é Milton Nascimento. Apesar de ser criado em Três Pontas, no Rio de Janeiro, ‘Bituca’ recebeu o título de Embaixador Internacional do clube, em 1996, devido à forma como falava da Raposa.

Morre Lô Borges

O artista mineiro estava internado no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, desde o dia 18 de outubro tratando um quadro de intoxicação medicamentosa.

Em nota enviada à Itatiaia, a equipe do artista revelou que ele deu entrada na unidade de saúde por conta de uma “intoxicação medicamentosa” e, na época, foi submetido a exames para um diagnóstico mais preciso.

Lô Borges deixa um filho, Luca Borges, de 27 anos, cinco irmãos, Márcio, Telo, Marilton, Nico e Yé, e uma legião de fãs e admiradores.

Entrevista de Lô Borges à Revista do Cruzeiro em 1996

Revista do Cruzeiro - O amor pelo Cruzeiro é uma herança de família?

Lô Borges - Não, pois sou o primeiro cruzeirense da família. Lá em casa são 11 filhos, eu sou o sexto. Os cinco anteriores são todos atleticanos e meu pai é americano. Eu recebia muita pressão, pois meu pai queria que eu fosse americano e meus irmãos faziam tudo para me transformar em atleticano. Eu tinha mais simpatia pelo América, mas não era um torcedor. Um dia, meu pai me levou para ver um Cruzeiro e América, no Independência. O Cruzeiro ganhou de forma brilhante e, na saída do campo, anunciei ao meu pai a decisão de me tornar cruzeirense, pedindo como presente de Natal um jogo de botão daquele time de camisa azul. Dos outros cinco irmãos que nasceram depois, três eu consegui fazer cruzeirenses.

RC - Qual foi seu primeiro ídolo no Cruzeiro?

Lô Borges - Quando tinha uns 13 ou 14 anos, surgiu aquele grande timão de Tostão e companhia, que me virou a cabeça. Quase tomei bomba, pois matava aula para ver eles treinarem no Barro Preto. Eu aprendia muito mais vendo Tostão e Dirceu Lopes treinarem do que na aula. Nesta época, já era fanático e acompanhava todos os jogos do time.

RC - Hoje você ainda acompanha os jogos do time?

Lô Borges - Já não vou mais ao Mineirão com tanta frequência, apesar de ser ainda mais cruzeirense. Mas sempre acompanho todos os jogos do Cruzeiro. Quando não dá para ir ao estádio, acompanho as partidas pelo rádio e pela televisão.

RC - Além dos irmão, você levou algum sobrinho a torcer pelo Cruzeiro?

Lô Borges - Com sobrinho a coisa é mais difícil. Os filhos dos meus irmãos cruzeirenses são também cruzeirenses, mas os filhos dos mais velhos são todos atleticanos. Os meus irmãos mais velhos obrigavam a gente a ser atleticano, imagina então aos filhos deles. Então tem aquele bando de atleticanos, coitados, uns meninos novos sofrendo tanto.

RC - A rivalidade clubística na família Borges é grande?

Lô Borges - Já teve mais. Há alguns anos a rivalidade era muito grande, rolava aquela baixaria de sobrinho brigando com tio. Atualmente, o pessoal é mais tranquilo. Parece que os atleticanos estão mais conformados com a fase baixa do time e nós, cruzeirenses, já nos acostumamos com as conquistas.

RC - Aquele time do Cruzeiro de 66 chegou a lhe inspirar na criação musical?

Lô Borges - “Chegou a influenciar sim. Eu tinha grandes prazeres com o Cruzeiro e eu tentava transformar aquilo em música. Eu não cheguei a fazer nenhuma música especificamente para o Cruzeiro, mas cada alegria que o time me dava era um motivo para pegar o violão e criar uma coisa nova. Quando você está feliz, com certeza compõe melhor”.

RC - Alguma música sua tem a cara do Cruzeiro?

Lô Borges - “Até cobro dos cunhados mais novos, o pessoal da nova geração, o pessoal que frequenta mesmo o Mineirão e cria torcida. Tem uma música minha chamada Trem Azul, que foi gravada pela Elis Regina, pelo Tom Jobim, que seria um ótimo nome para torcida organizada do Cruzeiro. Não sei porque ainda não pegaram este nome. Sou a fim de ver a faixa ‘Trem Azul’. Acho que a solução para esta torcida existir vai ser eu mesmo criá-la”.

RC - Tem algum jogador neste time atual que seja um ídolo para você?

Lô Borges - “Este time do Cruzeiro está muito bem monta-do. Gosto muito do Levir Culpi, pois acho ele uma pessoa equilibrada, que conseguiu dar moral a jogadores como o Cleisson, que teve momentos ruins no clube e se transformou, neste ano, no melhor jogador do time. Agora está chegando o Paulinho, tem o Palhinha, que é um gênio da bola, o Roberto Gaúcho, que me passa aquela imagem de cruzeirense mesmo, o Nonato, que transmite liderança. Resumindo, eu gosto de todos os jogadores do Cruzeiro, pois parece que eles assimilaram aquele negócio de gostar do Cruzeiro”.

RC - Você acompanha a vida do Cruzeiro fora do campo?

Lô Borges - “Claro. Nós temos a tradição de grandes presidentes. O Zezé Perrella, por exemplo, é uma das coisas mais benéficas que já aconteceram ao Cruzeiro. Um cara moderno, de idéias ágeis, que está em sintonia com o mundo. Você pega a nossa diretoria e a de outros clubes e fica até com dó, tamanha a disparidade de competência profissional e modernidade. O Cruzeiro é uma máquina onde todos os setores funcionam bem”.

RC - O pessoal do Skank e do Engenheiros do Hawaii fazem show com camisa de clubes de futebol. Você já fez algum com a camisa do Cruzeiro?

Lô Borges - “Eu já sou de outra geração, sou mais antigo. Eu lancei esta moda, só que ninguém ficou sabendo. Nos anos 70, fiz vários show com a camisa do Cruzeiro. Mas esse pessoal da nova geração é que popularizou isto”.

RC - Você torce por algum outro time além do Cruzeiro?

Lô Borges - “O time por que torço mesmo é o Cruzeiro. Eu sinto simpatia por grandes times, como o Santos de Pelé, que o Cruzeiro graças a Deus pegou e deu de seis aqui no Mineirão. Se uma equipe tem grandes jogadores e joga um futebol bonito, eu passo a admirá-la, mas sem amor”.

RC - Tem algum gol que gostaria de ter marcado pelo Cruzeiro?

Lô Borges - “Um do Tostão contra o Araxá. Bateram o lateral para ele na intermediária. Tostão, de costas para a área, matou a bola no peito, deu um lençol num adversário, depois deu outro lençol, tudo em direção à área. Quando ele viu o goleiro saindo, ele o encobriu e marcou de cabeça. O gol de falta dele contra o Santos, no Pacaembu, na final da Taça Brasil de 66, também eu queria ter marcado”.

RC - Aquele time que ganhou a Taça Brasil de 66 significou muito para você?

Lô Borges - “É claro, pois ele foi campeão do Brasil. O pessoal tem mania de falar que o Cruzeiro nunca foi campeão brasileiro, mas eu considero a Taça Brasil o Campeonato Brasileiro. Quando o Atlético foi em 7l, nós já tínhamos sido”.

RC - Você viveu algum momento especial em jogos do Cruzeiro?

Lô Borges - “Eu era tão fanático que conhecia os pais do Tostão, seu Osvaldo e dona Osvaldina, por fotos de jornal. Num clássico contra o Atlético, Tostão marcou o gol da vitória. Quando eu olhei para cima, na arquibancada, eu vi os pais dele. Aí fui cruel e entreguei para todo mundo: Olha o pai e a mãe do Tostão ali, gente. A torcida toda foi abraçá-los”.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro
Giovanna Rafaela Castro é jornalista em formação e integra a equipe do portal Itatiaia Esporte
Matheus Muratori é jornalista multimídia com experiência em muitas editorias, mas ama a área esportiva. Faz cobertura de futebol, basquete, vôlei, esportes americanos, olímpicos e e-sports. Tem experiência em jornal impresso, portais de notícias, blogs, redes sociais, vídeos e podcasts.