O pronunciamento de 10 minutos que terminou com Bruno Lage colocando o cargo de técnico à disposição da diretoria pegou a todos do Botafogo de surpresa. O técnico não havia dividido as insatisfações com ninguém antes de entrar na sala de coletiva, e foram os questionamentos sobe a sensação de ser responsável pela pressão e ansiedade no clube que o levaram a dar esse passo.
Ao assumir o clube como líder do Botafogo e com o sentimento de “já ser campeão” por parte da opinião público e torcida, o treinador mostrou incômodo por ser uma espécie de “bode expiatório”.
Ou seja, qualquer desfecho que não seja o título, Lage já se sente responsabilizado. Desta forma, a decisão foi a fim de tirar a pressão dos jogadores e diminuir a ansiedade que existe no Botafogo.
“Eu vim porque o treinador que estava aqui aceitou outro projeto. Supostamente saiu daqui campeão. Assim sinto os torcedores, que já estão no modo campeão. E querem encontrar um indivíduo caso a equipe não seja campeão. Aguento essa pressão de forma natural”, disse, em determinado momento.
“Sobre essa coisa de só olharem para o meu percurso no Botafogo, acho que é uma pressão muito grande sobre os jogadores. E isso eu não admito. Só há uma forma de libertá-los dessa pressão. E por isso estou aqui perante vocês. Não falei com ninguém, pensei muito e neste momento coloco o meu lugar à disposição”, finalizou Lage, momentos antes de deixar a entrevista sem responder as perguntas.
Os xingamentos e ofensas da arquibancada também incomodam o treinador. Em especial por parte dos torcedores que acompanham os jogos próximos ao banco de reservas do time no Nilton Santos.
É uma situação similar com a vivida por Luís Castro. Há o entendimento de que há um choque cultural, uma vez que os treinadores portugueses não estão acostumados com esse tipo de interação.
Diretoria age rápido
Depois de que Bruno Lage deixou a sala de coletiva sem responder mais perguntas, foram cerca de 20 minutos de mobilização para contornar a situação. Primeiro, André Mazzuco e Alessandro Brito se reuniram com o treinador, assim como John Textor, que participou da conversa por videochamada.
Os diretores deram apoio ao técnico e deram o recado de que o treinador português não é - nem precisa sentir-se - como o único responsável pelos resultados do Botafogo na reta final de temporada.
Lideranças do elenco também procuraram Lage e demonstraram apoio à continuidade do trabalho.
Assim, o treinador rapidamente foi demovido da ideia. O entendimento é de que, apesar de Lage ter afirmado que “pensou muito”, foi uma decisão de impulso após a derrota para o Flamengo, a primeira como mandante na Série A do Campeonato Brasileiro, a qual deixou o treinador bastante abalado.
Com a pausa da Data Fifa, o elenco do Botafogo volta a trabalhar na quinta (7), sob comando de Lage.