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Esquema de apostas: relembre outros escândalos do futebol brasileiro

Operação Penalidade Máxima II é apenas mais um dos escândalos que abalaram o futebol do Brasil nos últimos anos

Futebol brasileiro foi marcado por escândalos nos últimos anos

A Operação Penalidade Máxima II, que abala o futebol brasileiro neste momento, com vários jogadores sendo denunciados por participação em esquemas que teriam beneficiado apostadores, é apenas mais um escândalo no mundo da bola canarinho, que viveu situação parecida pela primeira vez há mais de 40 anos e também relacionada a apostas. Num mundo ainda não digital, elas não eram eletrônicas, mas na febre da época, a Loteria Esportiva, ou Loteca, que nos anos 1980 representava para o brasileiro o mesmo que a Mega-Sena nos dias de hoje.

Máfia da Loteria Esportiva

Em outubro de 1982, após quase um ano de apuração, Sérgio Martins denunciou na revista Placar o esquema que ficou conhecido como “Máfia da Loteria Esportiva”. A reportagem apontava 125 envolvidos entre jogadores, árbitros e dirigentes. Na lista estavam até campeões mundiais com a Seleção Brasileira, como o meia-atacante Amarildo (1962) e o lateral-esquerdo Marco Antônio (1970).

Criado por um grupo paulistano, que apostava alto na Loteria Esportiva, o esquema contou com a colaboração de um funcionário da agência que escolhia os jogos que fariam parte dos testes.

Com o direcionamento das partidas ficava mais fácil se arrumar o resultado, pois o esquema contava com braços em vários estados e a participação de jogadores e árbitros.

O objetivo, além de ter a garantia de alguns resultados, era promover as chamadas “zebras”, pois isso permitia que a premiação fosse maior, já que diminuía o número de vencedores que dividiriam o prêmio.

O interessante é que o termo “zebra” surgiu da ilegalidade. No Jogo do Bicho, que nasceu no Rio de Janeiro, são 25 os animais a serem apostados, mas entre eles não está a zebra.

Assim, sempre que o resultado não agradava ao apostador, era dito que deu “zebra”. E isso foi levado para o mundo da Loteria Esportiva, que é oficial e promovida pela Caixa Econômica Federal.

Em 1985, dos 125 denunciados na reportagem, que ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, apenas 20 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal (PF) pela dificuldade de se encontrar provas numa época em que o mundo não era digital.

Caso Ivens Mendes

Em maio de 1997, o Jornal Nacional denunciou o que ficou conhecido como “Caso Ivens Mendes”. Então presidente da Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol (Conaf), ele tinha o desejo de ser candidato a deputado federal por Minas Gerais em 1998.

Para isso, fez uma espécie de caixa para a campanha, se aproveitando da posição e pedindo dinheiro a dirigentes de clubes. Em gravações, Ivens Mendes foi flagrado solicitando valores a Mário Celso Petraglia, do Athletico-PR, e a Alberto Dualib, do Corinthians, antes de jogos dos dois clubes.

No dia seguinte à denúncia, Ivens Mendes pediu o seu afastamento e garantiu que era inocente.

O que o Caso Ivens Mendes provocou de mais forte no futebol brasileiro foi o não rebaixamento de Bragantino e Fluminense, que foram os dois últimos colocados do Brasileirão de 1996, onde se suspeita que alguns jogos tiveram interferência, mas sem comprovação.

Na Justiça Comum o processo não avançou, pois as gravações, por serem clandestinas, não podiam ser usadas como provas.

Os jornalistas que fizeram os “grampos” foram inclusive indiciados, mas a ação contra eles acabou prescrevendo.

Os dirigentes Mário Celso Petraglia e Alberto Dualib foram suspensos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), mas puderam seguir no comando dos seus respectivos clubes, que só não poderiam ser representados por eles.

Dualib declarou na época que tinha relações pessoais com Mendes. Já Petraglia garante que foi coagido, mas que seu clube não recebeu nenhum favorecimento.

O Athletico-PR começou o Brasileirão de 1997 com uma punição de cinco pontos, pela participação no chamado Caso Ivens Mendes. O ex-comandante da Conaf morreu alguns anos depois do caso.

Em matéria posterior, na revista Placar, o ex-árbitro José Aparecido de Oliveira revelou que foi pressionado por Ivens Mendes a ajudar a Argentina numa partida contra a Colômbia, em Barranquilla, em 1993, pelas Eliminatórias, pois o Brasil poderia precisar de ajuda na competição e ela viria dos argentinos, não dos colombianos.

José Aparecido e os demais integrantes do trio não cederam à pressão e a Colômbia venceu o jogo. Logo depois eles foram retirados dos quadros da Fifa.

Máfia do Apito

Em 2005, já com sites de apostas agindo, mas na ilegalidade, o que não acontece hoje, a revista Veja denunciou o que ficou conhecido como Máfia do Apito, pois árbitros faziam parte de um esquema de arranjo de resultados.

Eram eles Paulo José Danelon e Edílson Pereira de Carvalho, que na época carregava o escudo da Fifa no peito. Sua ação interferiu diretamente na Série A de 2005, que teve os 11 jogos até então apitados por ele anulados.

E isso interferiu na classificação final. O Corinthians teve anuladas derrotas para Santos (4 a 2) e São Paulo (3 a 2). Nos novos jogos disputados, o Timão alcançou uma vitória e um empate, o que significou quatro pontos a mais na tabela que ele não teria se fossem mantidos os resultados originais.

O título foi para o Parque São Jorge por uma diferença de apenas três pontos em relação ao vice, o Internacional.

Edílson Pereira de Carvalho chegou a ser preso. Ele e Danelon foram banidos do esporte, mas o processo contra eles foi suspenso no Tribunal de Justiça de São Paulo, pois as fraudes esportivas só foram tipificadas em 2010, com a inclusão de um artigo no Estatuto do Torcedor.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro