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Os vários tipos de relacionamentos tóxicos em Vale Tudo e como identificá-los na vida real

Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), o psicólogo Alexander Bez explica como a relação tóxica entre parceiros, familiares e amigos pode trazer danos às vítimas

Odete Roitman tem comportamento tóxico em Vale Tudo

A novela Vale Tudo apresenta nas suas mais variadas formas exemplos claros de relacionamentos tóxicos - sejam eles entre casais, familiares e até mesmo amigos.

Na trama, a vilã Odete Roitman (Débora Bloch) manipula a filha, Heleninha (Paolla Oliveira), fazendo com que ela crie dependência emocional no álcool e até mesmo no parceiro, Ivan (Renato Góes).

Além dela, Maria de Fátima (Bella Campos) tem comportamentos manipuladores com Afonso Roitman (Humberto Carrão), que, em vários momentos, também foi tóxico com a ex-namorada, Solange Duprat (Alice Wegmann).

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O psicólogo Alexander Bez, especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), apontou alguns comportamentos típicos de pessoas tóxicas e como fazer para se libertar das amarras impostas pelo outro.

1 - Como identificar um relacionamento tóxico? Quais os principais traços?

“Relacionamentos tóxicos são marcados principalmente pela crueldade emocional. Não se trata necessariamente de violência física, mas de atitudes manipuladoras, controladoras e de ausência de afeto. A base desse tipo de relação costuma estar ligada a uma estrutura perversa, frequentemente associada à busca por gratificação pessoal através do domínio sobre o outro. Esse padrão se manifesta em comportamentos como controle excessivo, intolerância, intransigência, autoritarismo e falta de empatia. Um exemplo claro é a personagem Odete Roitman, da novela Vale Tudo, que representa uma figura extremamente controladora e manipuladora, típica de uma personalidade tóxica.”

2 - Família e amigos podem ajudar na identificação desses sinais. Como eles devem agir nesses casos?

“Familiares e amigos geralmente percebem mudanças no comportamento da vítima: medo de contrariar o parceiro, isolamento, perda de autoestima e até mesmo submissão ao controle econômico. É essencial que essas pessoas próximas estejam atentas e ofereçam apoio emocional, sem julgamentos, incentivando a vítima a buscar ajuda e fortalecendo sua autonomia. Em alguns casos, o afastamento da pessoa tóxica é necessário, mesmo que se trate de alguém do círculo familiar ou de amizades. A personagem Celina, por exemplo, tem dificuldade em enfrentar Odete justamente pelo medo e pela dependência emocional que essa relação cria.”

3 - Como a terapia pode ajudar a vítima a identificar e sair de um relacionamento abusivo?

“A terapia é fundamental para ajudar a vítima a romper com esse ciclo. Por meio do acompanhamento psicológico, é possível fortalecer a autoestima, reconstruir a autoimagem e desenvolver autonomia emocional. Muitas vezes, a pessoa não consegue sair sozinha desse tipo de relação porque está fragilizada, e o processo terapêutico oferece ferramentas para que ela retome o controle da própria vida. Em casos em que há sintomas como ansiedade e depressão, o uso de medicação pode ser necessário, sempre com orientação profissional. O mais importante é que a vítima aprenda a não entrar na lógica emocional da pessoa tóxica e comece a colocar seus próprios limites.”

4 - Alguma falta ou trauma pode contribuir para que uma pessoa caia em um relacionamento tóxico?

“Fatores como traumas de infância, ausência de figuras parentais, baixa autoestima e histórico de relações abusivas tornam alguém mais vulnerável a se envolver em relações tóxicas. Personalidades emocionalmente frágeis ou que não passaram por um desenvolvimento psicológico saudável tendem a se submeter com mais facilidade a esse tipo de dinâmica. Relações de dependência afetiva também são comuns nesses contextos. Um exemplo é Heleninha, que depende de Ivan e do álcool como forma de compensação emocional. Já Afonso vive uma relação tóxica oculta com Maria de Fátima, sendo manipulado sem perceber — um tipo de relação que só se revela com o tempo.”

5 - Algo que gostaria de acrescentar ou esclarecer?

“Por fim, é importante reforçar que o fortalecimento da autoestima e o autoconhecimento são as chaves para prevenir e romper com relações tóxicas. Esses entendimentos, no entanto, só se tornam possíveis através de psicoterapia, especialmente com uma abordagem psicanalítica, que permite acessar camadas inconscientes e compreender os padrões emocionais que levam a repetir certos vínculos. Em casos mais graves, a combinação de terapia com medicação pode ser essencial para lidar com os sintomas e recuperar a saúde mental.”

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.