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Ritchie foi o primeiro estrangeiro a bater recordes cantando em português

Compositor de ‘Menina Veneno’, parceria com Bernardo Vilhena, superou um milhão de cópias vendidas com seu disco de estreia

Ritchie iniciou a carreira no mercado fonográfico em 1983 e, há 40 anos, estourou com o hit ‘Menina Veneno’

Não foi Demi Lovato, nem Madonna e muito menos Shakira. O primeiro estrangeiro a alcançar o topo das paradas de sucesso cantando em português foi um inglês que mexeu com a imaginação do público quando apresentou a sua “Menina Veneno”, parceria com o poeta Bernardo Vilhena. O mundo não era pequeno demais para Ritchie, que há 40 anos colocou na praça esse hit atemporal, regravado, inclusive, pela dupla Zezé Di Camargo & Luciano.

Com seus cinco minutos de duração e solos de teclado no início e no final da música, “Menina Veneno” superou, inclusive, as velhas fórmulas da indústria fonográfica, ao ultrapassar a barreira de um milhão de cópias vendidas com a história de uma femme fatale misteriosa, que se encontra com o amante à meia noite, cantada por um inglês típico, de olhos claros e cabelos oxigenados, não fosse o sotaque indisfarçável e único da interpretação. Em menos de uma semana, Ritchie era figurinha carimbada em todos os programas de auditório da televisão brasileira, de Chacrinha a Silvio Santos.

Lançado em 1983, o disco de estreia de Ritchie trouxe ainda outros sucessos, como a faixa-título “Voo de Coração”, “A Vida Tem Dessas Coisas”, “Pelo Interfone”, “Casanova” e “O Preço do Prazer”. Nos créditos do trabalho, apareciam nomes que em breve também seriam conhecidos do público brasileiro, como Lulu Santos e Lobão, que tocavam guitarra e bateria e, na década de 1970, haviam formado com Ritchie o grupo de rock progressivo Vímana. “Voo de Coração” se tornou o álbum de estreia mais bem sucedido no Brasil desde o surgimento do grupo Secos & Molhados.

Nascido em Beckenham, nos arredores de Londres, Ritchie se encantou pela música brasileira quando matou aula no curso de literatura da Universidade de Oxford para acompanhar um amigo guitarrista numa gravação. Por precaução, Ritchie levou sua flauta, e acabou estimulado a tocar pela primeira vez em disco. No estúdio, se deparou com um grupo de garotas descoladas, e uma ruiva em especial chamou sua atenção. Era Rita Lee. Ao conhecer o trabalho dos Mutantes, Ritchie decidiu largar tudo e rumar para o Brasil.

Na terra do samba e da bossa nova, ele se tornou um dos ícones de uma geração que combinaria a influência estrangeira do rock às manhas típicas do Brasil. Ritchie fez o caminho inverso e a estadia que deveria durar três meses se estendeu indefinidamente. Ao lado da Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Kid Abelha, RPM, Titãs, Cazuza e Renato Russo, Ritchie foi, sem dúvida nenhuma, a cara, a voz e os gestos do rock brasileiro dos anos 1980.

Em 1986, Ritchie voltou a dominar as paradas de sucesso, desta vez como intérprete, ao colocar sua voz a serviço da sensual “Transas”, de Nico Rezende e Paulinho Lima, que virou tema da novela “Roda de Fogo”, da Rede Globo. Com quatro décadas de carreira, esse inglês adotado pelos brasileiros é, certamente, parte de um dos capítulos mais marcantes da nossa história musical, a ponto de se confundir com o próprio imaginário popular. Mesmo quem não o conhece, já ouviu falar na “menina veneno”.