“Tenho trinta anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena”. A frase que abre “Quando Me Descobri Negra”, de Bianca Santana, antecipa o texto forte que vem em seguida. Em uma sociedade racista, descobrir-se negro é um processo que envolve o orgulho da ancestralidade e a explicação do preconceito velado de cada dia, incluindo o bullying na escola, a desigualdade salarial e o olhar desconfiado dos vizinhos brancos no bairro de classe média. Com textos curtos e olhar preciso, o livro da cientista social e jornalista, lançado em 2016, ganha nova edição, revista e ampliada, pela Fósforo (104 páginas, R$ 44,90). Um livro que constata o lugar do racismo e aponta para um projeto de Brasil com menos injustiças sociais.
Chega ao Brasil agora em junho o “Medo da Consciência Negra”, de Lewis R. Gordon. O filósofo jamaicano e professor da Universidade de Connecticut parte da ideia de “raça” como projeto colonial e mostra a evolução da luta contra o racismo nos EUA e como a sociedade reagiu a ela — de forma sutil ou abertamente preconceituosa. Uma das grandes autoridades do estudo racial hoje em dia, Gordon tem uma linguagem envolvente e uma abordagem radical e original. Livro em pré-venda. (Editora Todavia, 352 páginas, R$ 84,90. Tradução: José Geraldo Couto).
Sensacionalismo na TV
A história de Jacinto Figueira Júnior, o criador do “mundo cão” no jornalismo policial na TV brasileira, é contada neste livro-reportagem de Mauricio Stycer. “O homem do sapato branco” mostra como a televisão engatinhava quando Jacinto percebeu a comoção que roubos, assassinatos, casos sexuais, drogas e todo tipo de entranhas do submundo gerava no público e atraía mais espectadores. Stycer, experiente crítico de mídia, recupera a trajetória do jornalista, que estreou na telinha em 1965, elegeu-se deputado, foi cassado na ditadura e ajudou a criar um gênero popular e problemático que empregava métodos pouco elogiáveis para apurar e apresentar reportagens.
Sempre Um Papo
No dia 5 de junho, a escritora Rosiska Darcy de Oliviera, da Academia Brasileira de Letras, é a convidada do Sempre Um Papo em Belo Horizonte. Com mediação de Carla Madeira - autora do sucesso “Tudo é Rio” - e do jornalista Afonso Borges, Rosiska lança a “Revista Brasileira - Democracia”. Reformulada, a publicação traz temas nacionais contemporâneos analisados por grandes escritores e artistas nacionais (Sempre Um Papo: segunda-feira, 5 de julho, na Livraria Jenipapo, na Savassi. Entrada gratuita).
Clássicos
Publicado em 1968 e finalista do prêmio Hugo, “Nova”, do mestre do afrofuturismo Samuel R Delany, está em pré-venda em edição da Aleph. É para quem gosta de ficção científica no talo: no século 32, a humanidade expandiu a conquista do universo e a busca por um combustível produzido pela explosão de estrelas levará a uma guerra entre modelos de sociedade. (Aleph, 256 páginas, R$ 63,90).
Quem tem medo de Virginia Woolf? A editora Nós publica o conto “O Vestido Novo”, escrito durante a criação do clássico “Mrs. Dalloway” nos anos 1920. Aqui, a escolha de um vestido para uma festa leva Virginia a desenhar um quadro preciso do jogo de aparências, com a personagem Mabel se sentindo “como uma manequim de modista, ali parada para que as jovens lhe espetassem alfinetes” (Editora Nós, 44 páginas, R$ 46. Tradução de Ana Carolina Mesquita).
Literatura infantil: uma viagem na moda
A jovem Keka precisa escolher uma roupa para uma festa à fantasia. Para isso, vai revirar caixas num brechó perto de casa. Assim, viaja no mundo da moda ao apresentar para as crianças peças de várias épocas. Com tantas opções, será que vai conseguir fazer um look só seu? O lançamento “O Brechó Chique da Keka” é o terceiro livro da série da personagem criada por Helen Pomposelli. (Editora Rocco, selo Rocquinho, 36 páginas, R$ 54,90, ilustrações de Roberta Lewis)
Estreias: poesia
“Da costela do impossível” é o livro de estreia da psicóloga e poeta Marcela Alves. Nascida em Divinópolis em 1991, a autora trabalha na obra temas como o amor, a perda e o tempo. “A poesia é a minha ponte com o mistério, com tudo o que há. Então eu ficava como quem observa esse universo da janela”, pontua Marcela. (Editora Urutau, 79 páginas, R$ 45).
Os versos de Juliana Krapp já rondavam em revistas e antologias desde os anos 2000, mas só agora a autora carioca estreia em livro. Em “Uma Volta Pela Lagoa”, as palavras transbordam das margens da página para “colar o ouvido às conchas / procurando / desentranhar um uivo uma fenda uma / possibilidade de voz talvez a única / que ainda ressoe”. (Editora Círculo de Poemas, 104 páginas, R$ 54,90).