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Filmado em BH, ‘O Lodo’, de Helvecio Ratton, estreia nos cinemas nesta quinta-feira

Baseada em conto do mineiro Murilo Rubião, história é um thriller que se desenvolve no centro da capital mineira

Manfredo e Dr. Pink em uma sessão conturbada

A rua Sapucaí, a passarela entre a rua Varginha e a Contorno, a praça Rui Barbosa, os corredores largos dos antigos edifícios comerciais na rua da Bahia, as placas que cobrem o corpo dos vendedores de ouro... o centro de Belo Horizonte emerge como personagem de ‘O Lodo’, novo filme do mineiro Helvecio Ratton, que estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas. Praças e esquinas percorridas com pressa no cotidiano viram, pelas lentes do diretor, paisagens urbanas de um thriller psicológico.

‘O Lodo’ é um filme mineiro: o roteiro é baseado no conto de mesmo nome de Murilo Rubião, escritor de BH cuja obra completa se encontra em apenas 33 contos, o suficiente para colocá-lo entre os mestres do realismo fantástico. O elenco traz integrantes Grupo Galpão, que como um time bem entrosado sabe onde o colega vai lançar a bola sem precisar olhar - ter Teuda Bara e Inês Peixoto em cena é não precisar pedir mais nada.

O filme

Eduardo Moreira é Manfredo, um homem sem encantos e aparentemente satisfeito com a rotina apartamento-escritório de uma companhia de seguros (por acaso, a empresa é ambientada no edifício Itatiaia, na rua da Bahia). Ele decide procurar um psiquiatra ao se sentir deprimido sem motivo aparente. É quando conhece o dr Pink (Renato Parara), que lhe pergunta sobre a infância e, diante da recusa em responder, garante que Manfredo guarda ‘dentro de si um imenso lodaçal’. O paciente se revolta, recusa o tratamento e passa a ser perseguido pelo dr. Pink, que vira figura recorrente em seus pesadelos.

O filme, aí, se revela um thriller com o pavor ancorado ao passado - a irmã que reaparece e toma conta da casa - e no que Manfredo se recusa a dividir com o estranho médico. Um homem comum, atravessado por traumas de infância, como o inconsciente tomado por ‘lodo puro’, percorre Belo Horizonte a pé e respira a luz e a penumbra da cidade. Fiel a diálogos do conto - o que pode soar estranho e formal em algumas cenas -, Ratton recria conversas e silêncios que avançam em camadas que escondem medos e alguma substância difícil de desgrudar, ainda que se recuse o contato com ela.

Filmado em 2019, ‘O Lodo’ teve pré-estreia nesta semana no Cineart Ponteio com a presença do diretor e dos atores na capital mineira. Antes da sessão, Ratton explicou a demora entre a conclusão do trabalho e a chegada ao grande público: ‘A gente sempre quis começar a carreira deste filme nas salas de cinema. Isso demorou um pouco porque ele foi atingido, em primeiro lugar, pela pandemia, e em seguida atravessou a epidemia de ignorância que assolou nossa cultura’, criticou. ‘Eu sinto que ele saiu fortalecido, o lodo está mais espesso hoje. Esse conto é uma pequena joia, de oito páginas, com várias camadas e possibilidades de leitura’.

Como assistir
  • ‘O Lodo’ estreia nesta quinta-feira (13) em toda a rede Cineart (Boulevard Shopping, Cidade, Del Rey, Minas Shopping, Ponteio, Monte Carmo, Contagem e Itaú Power)

Ficha técnica
  • Classificação: 14 anos

  • Elenco: Eduardo Moreira, Renato Parara, Inês Peixoto, Mario Cesar Camargo, Clara Strambi

  • Produção: Brasil, 2020

  • Direção: Helvécio Ratton

  • Roteiro: Helvécio Ratton, L.G. Baião

Enzo Menezes é chefe de reportagem do portal da Itatiaia desde 2022. Mestrando em Comunicação Social na UFMG, fez pós-graduação na Escola do Legislativo da ALMG e jornalismo na Fumec. Foi produtor e coordenador de produção da Record e repórter do R7 e de O Tempo