Elis Regina é a maior cantora do Brasil. Essa é uma constatação de dez entre dez críticos musicais. E da própria Elis que, sem falsa modéstia, dizia que a segunda melhor cantora do Brasil era Gal e, a primeira, era ela.
Com uma interpretação arrebatadora, um timbre especial e uma afinação impecável, Elis também dizia que não desafinava nem na hora de chorar, o que pode ser comprovado na interpretação de “Atrás da Porta”, de Chico Buarque, em que a cantora vai às lágrimas.
Em 1973, há 50 anos, Elis já estava consagrada graças a sucessos do porte de “Águas de Março”, “Casa no Campo”, “Nada Será Como Antes”, “Madalena”, “Amor Até o Fim” e tantos outros, muitos descobertos por ela própria, quando gravou o disco que trazia preciosidades de Gilberto Gil, Nelson Cavaquinho, João Bosco e Pedro Caetano.
Intitulado apenas “Elis”, o álbum foi responsável por uma polêmica jamais resolvida com Beth Carvalho, para quem estava prometida a música “Folhas Secas”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Ao saber da canção através de seu marido, o arranjador César Camargo Mariano, que trabalhava com Beth na época, Elis atravessou o caminho e lançou esse samba triste sobre a passagem do tempo.
A polêmica se estendeu até 1979, quando Elis gravou uma desaforada resposta a Beth com o samba “Cai Dentro”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, em que desafiava a cantora a acompanha-la na cadência e no ritmo.
Outro marco do disco lançado em 1973 foi o resgaste de “É Com Esse Que Eu Vou”, um antigo sucesso de Carnaval de Pedro Caetano que ficou, a partir de então, eternamente associado a Elis Regina.
Para completar, havia ainda “Meio de Campo”, samba de Gilberto Gil que prestava homenagem ao futebol e a grandes craques como Afonsinho, do Fluminense, Pelé, eterno camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira, e Tostão, do Cruzeiro.
Dona de um temperamento na medida do seu talento, com atitudes pra lá de controversas fora dos palcos, Elis ganhou os apelidos de Pimentinha, Hélice e Furacão, e sempre soube o que fazer quando o assunto era cantar e emocionar plateias.
A morte precoce com apenas 36 anos de idade, em 1982, vítima de uma overdose de cocaína e álcool, não apagou o brilho da estrela mais imprevisível e brilhante da música brasileira.