Eduardo Dussek nasceu no Rio, no dia 1º de janeiro de 1958, e, desde cedo, demonstrou interesse pela arte. Seus ídolos de infância eram Carmen Miranda e João Roberto Kelly. O estilo debochado e irreverente o levou para o Teatro do Besteirol, movimento que o revelou, e, depois, às marchinhas que passou a compor.
Dussek também se habitou a criar canções de pegada romântica, mesclando humor e afeto, em sucessos como “Cabelos Negros”, “Aventura”, e as irreverentes “Folia no Matagal”, “Barrados no Baile”, “Doméstica”, “Nostradamus”, “Injuriado”, e muitas outras. Em 1994, voltou às rádios com “Happy Hour”, que entrou na trilha da novela “A Próxima Vítima”, da TV Globo.
“Alô, Alô, Brasil” (MPB, 1975) – Eduardo Dussek
Já em 1975, após alguns compactos simples, Marília lançou o seu primeiro disco, resultado do show de nome homônimo, “Feiticeira”, em que era acompanhada pelos músicos estreantes do grupo de rock psicodélico “Vímana”, que depois se destacariam nas respectivas carreiras solo, como Lulu Santos, Ritchie e Lobão.
Produzido por Fauzi Arap e Nelson Motta, o espetáculo não agradou a crítica nem ao público, mas legou preciosidades para a música brasileira num momento posterior. Além do registro seguro, com técnica apurada e a emoção propícia dada por Marília Pêra, o disco lançou o compositor Eduardo Dussek na música “Alô, Alô, Brasil”, uma revisita aos costumes e à marchinha nacional, sob o olhar aguçado do rock dos anos 1980.
“Plumas e Paetês” (pop, 1980) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes
Em 1978, o bailarino Ronaldo Resedá apostou suas fichas em ser o dono do palco. Estreou um espetáculo em que cantava músicas de Roberto Carlos, Erasmo, Rita Lee, Angela Ro Ro e Eduardo Dussek, salientando o humor e a extroversão. Os passos que ele criava para acompanhar as canções eram o mais interessante do show. Tudo se concentrava na performance.
E não demorou para a Som Livre, braço fonográfico da Globo, propor o lançamento de um compacto a ele. De fato, o dançarino perseguiu o sucesso como ninguém. O último ponto acima da curva em sua trajetória foi a participação por trás das cortinas com Rita Lee em “Baila Comigo”, no especial da TV Globo, e a inclusão da irreverente “Plumas e Paetês” na trilha da novela de Cassiano Gabus Mendes, uma contribuição da deliciosa dupla Dussek-Luiz Carlos Góes.
“Folia no Matagal” (MPB, 1981) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes
A dupla de compositores Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes transfere as relações amorosas para a natureza nesta marchinha que traz no deboche e na metáfora os seus grandes trunfos, a fim de vencer moralismos e repressões ainda imutáveis. “O mar passa saborosamente/a língua na areia/ (…) e lá em cima a lua, já virada em mel/olha a natureza se amando ao léu/e louca de desejo fulgura num lampejo/e rubra se entrega ao céu”. Lançada por Dussek, ganhou as regravações de Maria Alcina e Ney Matogrosso, que, no Festival de Montreux, de 1983, a interpretou ao lado de Caetano Veloso e de João Bosco...
“Injuriado” (pop rock, 1981) – Eduardo Dussek
Parece que foi ontem, mas no primeiro disco de Adriana Calcanhotto, posto no mercado em 1990 e intitulado “Enguiço”, a intérprete, que aparecia numa colorida capa com os cabelos tingidos de loiro, terno vermelho, camisa roxa, calça amarela e sapatos brancos, dava provas cabais de sua modernidade na última das faixas. Ao gravar uma personalíssima versão para “Injuriado”, deliciosa sátira de Eduardo Dussek sobre o momento político do país, lançada pelo autor em 1981, a gaúcha levava ao pé da letra o sentido da palavra “irreverência”. A canção comprova o talento de Dussek para o melhor deboche.
“Quero Te Beber no Gargalo” (marchinha, 1982) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes
Eduardo Dussek gravava o seu segundo disco, “Cantando no Banheiro”, de 1982, que se consagrou como o maior sucesso do artista. No camarim, ele recrutou os integrantes do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados para participarem do álbum. Era a estreia do trio nos estúdios. Além de arrebentarem em faixas que invadiram as rádios, como “Barrados no Baile” e “Cantando no Banheiro”, e farrearem na irresistível marchinha “Quero Te Beber no Gargalo”, dos provocativos versos: “Fica difícil, neném/ Que eu não me abalo/ Eu fumo, eu bebo, embalo/ Só quero te beber no gargalo”, a trupe botou medo nos técnicos e executivos. E a bagunça da garotada garantiu tal sucesso!
“Rock da Cachorra” (rockabilly, 1982) – Leo Jaime
Muito já se falou do intérprete que combina tanto com uma canção e a contorna de sentidos que praticamente torna-se dono dela. Mas poucas misturas deram tão certo neste caso quanto o “Rock da Cachorra”, de Leo Jaime. Até mesmo pelo inusitado da situação. Eduardo Dussek sempre foi, habitualmente, mais compositor do que intérprete, por isso é de se espantar que a música em questão tenha sido composta por outro, mas entregue com todo o direito e rigor da circunstância ao adotivo pai. É difícil encontrar duas personagens mais irônicas, irreverentes e debochadas do que Leo Jaime e Eduardo Dussek na música brasileira, por isso o resultado não poderia ter sido outro. É uma crítica social sempre temperada com muito humor, sem cara feia, e sem cara de cão...
“Cabelos Negros” (balada, 1982) – Eduardo Dussek e Luís Antônio de Cássio
Advindo do Teatro do Besteirol, movimento cênico que instaurou o humor de deboche e escracho na dramaturgia brasileira dos anos 70 e 80, Eduardo Dussek se afirma “um palhaço, e como tal, também faço música romântica, afinal o circo nasceu na ‘Commedia dell’arte’”. A forma de teatro popular improvisado com início no século XV, na Itália, “mistura de sátira com o canto lírico dos trovadores”, é a sua bússola. Uma das provas está em “Cabelos Negros”, balada lançada em 1982, parceria de Dussek com Luís Antônio de Cássio, que se tornou um dos maiores sucessos de sua carreira. Um puro mel.
“Ele Não Sabia de Nada” (picadilly rock, 1984) – Eduardo Dussek
Eduardo Dussek surgiu para a música brasileira carregando as influências do chamado Teatro Besteirol, que revelou nomes como Miguel Falabella, Pedro Cardoso, Vicente Pereira, Mauro Rasi, Guilherme Karan e seu parceiro Luiz Carlos Goés, dentre muitos outros. Com essa característica bastante peculiar, ele incorporou o humor em sua dramaturgia musical e se destacou entre os pares.
“Ele Não Sabia de Nada” é um picadilly rock que bebe de todas essas referências e, inclusive, traz o gênero musical em seu subtítulo. O próprio Dussek conta que o circo e a Commedia dell’arte italiana o formaram. A versão de Dussek traz as participações de Júlio Barroso e Taciana Barros, egressos da banda Gang 90 e as Absurdettes. A música foi regravada por Silvia Machete. O universo circense aparece em todos os instantes dessa ótima letra.
“Aventura” (balada, 1986) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes
A dupla de compositores formada por Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes é responsável por músicas impagáveis do repertório nacional, como “A Índia e o Traficante”, “Doméstica”, “Brega-Chique”, “Folia no Matagal”, “Chocante”, dentre outras, em que mesclavam um humor ácido e irônico a críticas sociais, com forte influência do Teatro Besteirol do qual Góes fez parte, ao lado de nomes como Vicente Pereira, Miguel Falabella e Mauro Rasi. Além da irreverência, a dupla também apostava no romantismo, como comprova a balada “Aventura”, lançada em 1986, um dos maiores sucessos da carreira de Eduardo Dussek. Com canto doce e suave, ele disseca meandros do encontro.
“Anjo da Cena” (valsa, 2017) – Eduardo Dussek
Quando Eduardo Dussek elogia Silvia Machete na abertura do show, as cartas já estão na mesa: “Circense como Maria Bethânia”, compara. Nota-se, a partir daí, que o deboche será a tônica. Nenhuma novidade para quem conhece a trajetória do homenageado.
Em “Dussek Veste Machete”, lançado em CD e DVD, Silvia dá voz, corpo e o que mais estiver ao alcance de pés ou mãos a nove canções da lavra do autor de “A Índia e o Traficante” e “Aventura” (parcerias de sucesso com Luiz Carlos Góes).
Nos dois números finais do espetáculo, o compositor comparece para acompanhar Silvia ao piano. A então inédita “Anjo da Cena” poetiza com rara beleza: “Quem sabe um dia/ Alma pequenina/ O anjo da cena acorde essa menina/(…) Uma ribalta gigante e tão maneira/ Todos têm falta de teatro e brincadeira”. A cenografia delicada adensa a mensagem, cujo referencial é o mundo criado pelo cineasta Charlie Chaplin...