Rosangela Monteiro, perita criminal que atuou no caso Isabella Nardoni, relatou em detalhes como descobriu que Alexandre Nardoni foi quem atirou a própria filha pela janela do sexto andar do apartamento em que moravam em São Paulo. De acordo com ela, a “morfologia” do sangue apontava para o pai da pequena. A perita deu o depoimento para o documentário “Isabella: o caso Nardoni” lançado nesta quinta-feira (17) pela Netflix.
“Nesta cena de crime o que me chamou atenção foram as manchas de sangue em dois aspectos. Primeiro, a morfologia dessas manchas e também pude observar que houve uma tentativa de remoção. Mas elas eram perfeitamente visíveis”, comenta a perita.
“Na entrada eu vi manchas de sangue que indicavam pela altura que ela foi projetada, que a Isabella foi carregada [...] Todas as manchas de sangue pela altura que foram projetadas correspondem ao pai. Vamos supor que a Anna, em um esforço hercúleo, estivesse carregando aquela menina. As manchas de sangue teriam outra morfologia de uma altura menor”, acrescenta.
A delegada Renata Pontes também analisou as manchas de sangue. “As gotas eram condizentes com os passos de uma pessoa adulta”, pontua. Outras marcas foram identificadas perto do sofá, mas eram diferentes das observadas a partir da porta. A cama, o parapeito da janela e o carro da família também tinham manchas de sangue.
As marcas faziam a trajetória em direção ao quarto dos filhos de Alexandre e Anna Carolina Jatobá (madrasta de Isabella). “Na tesoura nós encontramos engastado um seguimento da tela,” recorda Monteiro.
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Linha do tempo
No documentário, o promotor de Justiça Francisco Cembranelli fez uma linha do tempo dos fatos, que foi levantada a partir de reprodução simulada ocorrida em 27 de abril de 2008 - um mês após a morte da menina. Anna Carolina e Alexandre se negaram a participar da reconstituição para não “fazerem prova conta si”, segundo declarou o promotor.
Após reprodução e cruzamento das informações, os investigadores encontraram contradições. O carro em que a família chegou em casa tinha GPS, que constatou o momento em que o veículo foi desligado. “Tudo aconteceu a partir de 23h36 daquele dia”, destaca o promotor.
“Eles subiram. Foram para o apartamento. Neste espaço de tempo são exatamente 15 minutos, tudo aconteceu. Então às 23h49, há o barulho como se fosse uma batida de carro ouvida pelo porteiro. O porteiro imediatamente sai e liga para o síndico. O síndico, no desespero, liga para o Copom. É atendida a ligação. Aí nós temos o registro: 23h50".
Sem saber ao certo o que houve, o síndico relata que um assaltante entrou no edifício e arremessou a criança - versão apresentada pelo casal. “Pela gravação do Copom nós conseguimos identificar o momento em que o réu chega lá ao lado do corpo. E isso ocorreu às 23h50 e mais alguns segundos. Ou seja, um minuto depois de Isabella ter sido defenestrada e cair, o réu aparece lá ao seu lado”, diz.
Rosangela Monteiro também relata que havia contradições em outra informação cruzada. No momento em que Isabella já estava caída no gramado, uma ligação de Anna para o pai e o sogro foi registrada. “Enquanto ela estava ligando, a Isabella já estava lá embaixo, porque no mesmo instante que ela liga para o pai e o sogro, o Sr. Lúcio [síndico] já está no telefone falando com a polícia. E ela está lá em cima. Se tivesse uma terceira pessoa estaria com eles neste momento”, pontua. O casal nega autoria do crime até hoje.