Apesar do clima de amabilidade entre o governador Romeu Zema (Novo) e representantes da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), durante anúncio do PIB do agro, ontem (23), o presidente da instituição, Antônio Pitangui de Salvo lembrou a necessidade do estado investir mais em infraestrutura, segurança e energia rural. “Nossa pauta é muito simples: só precisamos de estradas melhores para escoar a produção, de um melhor policiamento no campo e de luz. Em contrapartida, daremos ao governador uma maior sustentabilidade financeira para que seja possível melhorar a educação, a saúde e a segurança da população como um todo”, disse De Salvo.
O presidente revelou ainda que propôs à Cemig a viabilização de uma Central de Atendimento específica para o produtor rural. “Diante das constantes interrupções no fornecimento de energia, seria de grande valia se o produtor pudesse ter um atendimento específico. “Por exemplo, se cai a energia numa fazenda de leite, o produtor precisa ser informado do tempo médio para o restabelecimento - se serão 24, 36 ou 72 horas - isso ajudaria bastante na tomada imediata de decisão. “Se for algo mais complexo e for demorar muito, ele pode solicitar ao laticínio uma maior urgência na vinda do caminhão para buscar a mercadoria, evitando um prejuízo ainda maior. Só não dá pra ficarmos - como se diz na roça - embaixo do balaio”, brincou.
De Salvo reconheceu que a criação da Central não seria uma solução para o problema da instabilidade no fornecimento de energia, mas um ‘paliativo’, enquanto não se tem uma solução mais definitiva. “Com certeza, traria mais segurança e confiabilidade na relação do agro com a estatal. Está agendada uma reunião na sede da entidade para discussão da proposta”.
A Faemg confirmou que existe a previsão de uma reunião para melhor discussão sobre a viabilização da Central de Atendimento. A Itatiaia também procurou a assessoria da Cemig e aguarda um posicionamento.
Rotina de interrupções
O pecuarista de leite e presidente da Associação Ruralista do Oeste Mineiro (Asrom), Patrick Brauner, conta que os problemas decorrentes da falta de energia, na sua região, são constantes, ocasionando queima de motores de tanques resfriadores de leite, ordenhas e até pivôs de irrigação. “As vacas gostam de rotina. Aí chega o horário da ordenha e não há energia. O jeito é deixar para mais tarde. Só que o leite fica represado, causando dor nas tetas e estresse. O resultado é que o organismo das vacas começa a produzir menos leite; com maior propensão a mastite… enfim… é um caos. Já cansei de ligar no 116 ou no Whatsapp da Cemig para informar a falta de energia, mas o atendimento é péssimo e não oferecem informações precisas”.
Mesma queixa tem o pecuarista de leite de Florestal e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Pará de Minas, Eugênio Diniz. Segundo ele, o Fale com a Cemig não funciona porque quase nunca consegue se falar e quando consegue, a resposta não é satisfatória, não resolvendo o problema. Com base em conversas com outros produtores rurais, Eugênio afirma que a instabilidade no fornecimento de energia se repete em todas as regiões do estado. “E os problemas são os mesmos: redes muito antigas, fuzis de ligar e desligar que não são automáticos e piques de energia o tempo todo, danificando aparelhos e interrompendo os processos de trabalho. “Aqui na nossa cidade, tem duas pessoas credenciadas à Cemig para atender as demandas. Não posso falar os nomes, mas elas simplesmente não nos atendem”.
Em Pompéu, o presidente do Sindicato Rural, Paulo Henrique Souza, também relata a gravidade da situação. Contou que eles reivindicam mudanças há muito tempo e que, inclusive. já levaram um representante da diretoria da Cemig na cidade para que visse os transtornos, causados pela instabilidade do sistema, de perto. “De nada adiantou. A energia cai e leva três dias para ser restabelecida. Quando tem energia, ela é fraca. A falta de potência é insuficiente para engrenar os maquinários e isso estraga os motores. Os tanques de leite não resfriam na temperatura desejada e os prejuízos são enormes.
Paulo disse ainda que o município tem grande potencial para o agronegócio por ser banhado por cinco rios e ter 90% das terras agricultáveis. No entanto, segundo ele, não consegue atingir seu apogeu por falta de energia. “Nossos pivôs de irrigação não funcionam. Produzimos mais de quatrocentos mil litros de leite dia necessitamos dessa energia tanto para tirar, como para gelar o leite. Precisamos muito de ajuda”, disse Paulo.
A assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline de Freitas Veloso, disse que consta na Resolução 1000 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) que o tempo de restabelecimento da energia elétrica em estabelecimentos rurais deve ser de, no máximo, 8 horas contadas a partir do momento da queda, para religações de urgência, e de 48h para religações normais em instalações localizadas no meio rural. “O problema é exatamente esse: a duração dessas interrupções, mesmo as que não foram provocadas por eventos climáticos ou acidentes, têm ultrapassado muito o prazo estabelecido. Com isso, o produtor rural tem enfrentado inúmeros e incalculáveis prejuízos. Nesse sentido, medidas de ressarcimento e de atendimento diferenciado são importantes para que possamos continuar a produzir e a contribuir com a segurança alimentar da população.”
A posição de Cemig
Procurada pela Itatiaia para comentar o tema, a Cemig se manifestou por meio de nota. (Confira a íntegra abaixo)
“A Cemig informa que as demandas encaminhadas pela FAEMG foram analisadas e serão apresentados em breve os projetos desenvolvidos pela companhia à entidade, em encontro agendado pelas partes.
Atualmente, a Cemig realiza o maior ciclo de investimentos da história da companhia, totalizando R$42,1 bilhões.
Entre 2023 e 2027, serão destinados R$ 18 bilhões para o segmento de distribuição de energia. Desses recursos, R$ 1,8 bilhão será para o Programa Minas Trifásico, beneficiando diretamente o agronegócio do estado.”