O desencontro de valores entre os setores produtivo e o mercado consumidor, fez uma revolução no consumo da carne nos últimos 12 meses. Tirou o consumidor menos favorecido da parada e muitos, obrigatoriamente, passaram a usar proteínas alternativas. A carne de frango e a suína passaram a ser mais procuradas. Pouca gente se lembrou do peixe, mas na verdade o preço da tilápia também extrapolou as possibilidades do consumidor.
Com a queda em sequência da arroba do boi que atingiu a 320/330 reais no comércio interno e até 360 reais a arroba bonificada para exportação, houve um descontrole no mercado da carne e o produtor que começou a investir cada dia mais, iniciou um período de queda livre em seus lucros. Pagava-se muito pelos custos da produção com a soja e o milho subindo e os preços da arroba caindo em todas as regiões brasileiras.
Os pecuaristas seguravam a boiada nos pastos e os pequenos produtores vendiam o que tinham. Os frigoríficos trabalhavam numa escala mais compassada de abate porque estavam com animais à disposição para abastecer o mercado. Muitos produtores firmaram contratos a termo e também se defendiam com a entrega do boi nas datas previstas, recebendo acima do valor diário da arroba.
Diante do custo alto para produzir e o preço baixo na venda da carne o valor do bezerro para reposição caiu. Em consequência, as vacas também perderam seus valores e começaram a ser vendidas aos frigoríficos. Esse comportamento no mercado bovino já estava em prática entre os produtores de leite. Com os preços do litro do leite despencando a cada dia, as vacas leiteiras também ficaram à disposição dos frigoríficos.
E o rebanho de corte vem diminuindo e a reposição não será a mesma de anos anteriores. O reflexo maior será em 2024 e 2025 com menos boi no pasto. Aí veremos como ficará o preço da arroba para o produtor e quanto vai pagar o consumidor na ponta final.
Os Estados Unidos já estão vivendo esse problema com a redução de seu rebanho bovino em 29 milhões de cabeças. E o preço da carne continua lá em cima!
O momento no Brasil está mais para baixar o preço da carne do que aumentar o valor da arroba, porque há muito boi para sair do pasto. O consumo está no limite com os preços atuais. Se sobe mais, cai o consumo. Para o ano que vem não faltará carne bovina, porém com a produção mais enxuta os preços deverão subir mais um degrau.
Por agora algumas pequenas correções poderão ser feitas no preço da arroba em algumas regiões. Quando vier o frio e o período sem chuvas, os pastos perdem qualidade e a carne sobe, porque diminui o volume de gado para abate. A arroba do boi sempre teve previsão com um bom índice de acerto, mas hoje vivemos um futuro incerto.
Por isso, o pecuarista deve se arriscar no mercado futuro. Os contratos a termo são os menos burocráticos e podem ser feitos diretamente com os frigoríficos. Pelo menos fica garantido o preço da arroba no vencimento do contrato.
O produtor só não pode ficar preocupado se no momento da entrega do boi o valor da arroba estará maior no mercado circulante. Melhor ganhar menos e garantir lucro menor, do que arriscar num momento como esse e amargar um prejuízo.