Onde nasce o orgulho? Bom, se quem responde é judeu-cristão, dirá que nasce no Éden. Nasce junto com o “boneco de barro”, que recebe, por dom, o respiro; lá onde a argila aspira a ser porcelana. “Sereis como deuses...”, no entanto como pó, como “homens morrereis” (Sl 82,7).
A Bíblia deixa claro, do início ao fim, que Deus “resiste aos soberbos” Tg 4,6. Isso porque Deus é o “humilde”. Sendo Altíssimo, olha os pobres (Sl 137,6). Sendo Deus, se fez menino. O orgulho nos coloca na contramão do caminho de Deus. Nos faz estar cheios de nós. Nos tornamos inchados. Acaba o espaço. “ah, eu já sei de tudo...”. E o que pode ser acrescentado a um copo em que não há espaço?
Ter muitos exageros é próprio de uma alma vazia. Quem vive assim não dá conta do simples, do óbvio. E como lembra o Talmud, Deus mora no detalhe. É na gentileza, no pequenininho, no cisco no olho que gente se perde ou se encontra. Quem vive só de aparência é vítima de si mesmo, do narcisismo que envenena as relações.
Para que haja cura é preciso, antes, se esvaziar, para encontrar o que vem de graça, para perceber aquilo que realmente importa. O orgulho no trabalho, nas amizades, num casamento nos impede de recolher no amor as palavras que deixamos no silêncio.
Todo pecado capital se vence por uma virtude: a luxúria, com a pureza, a preguiça com a diligência, a ira, com paciência... e o Orgulho? A meu ver, o orgulho é o único dos pecados que se vence sorrindo...Não querer ser soberbo já e soberba. Não querer ser vaidoso já é vaidade. “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Ecl 1,2. Então, eu diria: quando você sentir que está sendo sequestrado de si pelo orgulho, sorria de ser soberbo. Esse é o começo da humildade e a humildade nos abre à experiência da Misericórdia.
A Misericórdia aos outros só é possível quando morrem em nós os ideais. Quem tem consciência e aceitação das próprias falhas, sabe ser sensível, sabe que o que é humano não escandaliza. A misericórdia é o segredo mais íntimo de qualquer relação, é o “segredo mais íntimo do coração de Deus” (Vicente de Paulo).
Quer um conselho para distensionar a vida? Sorria mais. Não se tenha em tanta conta. A capacidade de rir de si é um grande indício de maturidade. Afinal, “os anjos podem voar porque não se levam tanto a sério” Chesterton.