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Ao falar em rebaixamento no Brasileirão, Kalil parece torcer contra o Atlético

Ex-dirigente vive guerra política contra todos os presidentes que o sucederam no clube

Alexandre Kalil é ex-dirigente do Atlético

A preocupação com o rebaixamento do Atlético no Campeonato Brasileiro de 2023 revelada na manhã desta sexta-feira (12) pelo ex-presidente Alexandre Kalil aponta algo preocupante: na briga política da instituição, pelo menos um lado está colocando isso à frente do clube.

Quando ouvi a declaração dada à Rádio O Tempo, foi impossível não fazer uma relação direta, por exemplo, com as reclamações da diretoria atleticana atual em relação às contrapartidas da Arena MRV, que foram decretadas na época em que o dirigente era prefeito de Belo Horizonte.

O temor de o Atlético ser rebaixado no Brasileirão 2023 não é uma declaração esportiva. E Kalil viveu o futebol por tempo suficiente para saber disso, inclusive brigando contra o rebaixamento em 2010 e 2011. Mas ele se refere é a 2005 e a tentativa é cutucar o presidente da época, Ricardo Guimarães, seu inimigo político dentro do clube e que hoje ocupa a presidência do Conselho Deliberativo alvinegro.

O interessante nessa briga é que Guimarães, via Banco BMG, que investia muito no futebol, bancou muitas das contratações da longa gestão Kalil, que começou no final de 2008 e foi até 2014, período inclusive em que foram criadas muitas das dívidas, com André Cury ou não, que o clube ainda acumula ou pagou nos últimos anos, ação feita curiosamente pelos seus inimigos políticos. Alguns desses débitos chegaram ao ponto de poder gerar transfeban ao clube.

Essa história de rebaixamento é meio que Kalil produzir prova contra ele mesmo nas contrapartidas, que já ultrapassam os R$ 250 milhões. Pois o Atlético é hoje um time que produz menos do que se espera dele, é verdade, mas que não terá a queda à Série B como preocupação na Série A em disputa. Só não uso a famosa expressão “caso dinheiro nisso” porque não é uma época boa para se falar em apostas.

Nesse exercício de relação entre fatos, aparecem mais impressões, como talvez uma tentativa de transformar em apenas briga política o famoso relatório da Krol que demonstra benefícios a ele e familiares bancados pelo clube.

Por falar em política, há ainda a CPI na Câmara Municipal onde se apresenta uma relação estranha envolvendo ex-diretores do Atlético e o pagamento de faturas, em dinheiro vivo, envolvendo uma agência de viagens, que prestava serviços ao clube, na sua época de dirigente, e depois à PBH.

A briga política, a do Atlético, em que ocupa lado oposto a todos os presidentes que o sucederam, me permite pensar ainda em medo de que alguém o supere, e isso é até humano.

Só não acho nobre. Até porque, como o presidente que deu ao Atlético a sua primeira Libertadores, em 2013, e que se despediu da presidência do clube ganhando a também inédita Copa do Brasil, em cima do rival Cruzeiro, em 2014, Alexandre Kalil tem seu nome gravado na história do clube.

Mas quando passa a impressão de que trabalha contra a Arena MRV e fala ter medo de o Atlético cair no Campeonato Brasileiro, quem se rebaixa é justamente Alexandre Kalil, principalmente na relação com a gente atleticana.

As opiniões diferentes e divergentes são saudáveis e necessárias. Os erros acontecem, e a diretoria atual os comete também, e a condução do futebol em 2022 é a prova maior disso, isso após a histórica temporada 2021 quando o clube venceu Brasileirão e Copa do Brasil. Mas as suas manifestações precisam ser pautadas pela racionalidade e razoabilidade.

Num momento em que a vida pública, como ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato derrotado ao Governo de Minas, aparece como sua prioridade, Kalil deveria fazer um exercício de desapego em relação ao Atlético, que não gira ao seu redor nem é menor do que ele, muito pelo contrário.

Essa impressão, quase certeza, de que ele torce contra, não é uma marca interessante em sua biografia.

O Atlético vive momentos cruciais, com a SAF próxima de se transformar em realidade e a Arena MRV a casa alvinegra.

Por falar na casa atleticana, termino por onde comecei, pois a opinião técnica de quem constrói a Arena MRV é de que as contrapartidas são necessárias, mas as exigidas são exageradas. E o “exagero” de Kalil ao revelar o medo de o Atlético de Coudet ser rebaixado no Campeonato Brasileiro me deu a certeza disso.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro