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A fala aconteceu em entrevista durante audiência pública que foi realizada na Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo em audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, e contou com a presença de advogados da família de Laudemir, representantes da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), agentes da limpeza municipal, e a diretoria do Sindeac, sindicato que representa os trabalhadores da limpeza urbana e asseio.
Liliane França afirmou que apesar de acreditar nas dificuldades do julgamento do caso, ela conta com a população para lutar por justiça.
“A gente tem que continuar lutando e estar juntos, a gente tem que estar junto da população, todos que estão apoiando a gente, porque sabemos que parece que vai ser difícil. Mas se a gente não lutar, se a gente desanimar, parar em todas as pedrinhas que forem surgindo, isso não vai ter um final feliz. Eu acredito muito que se nós continuarmos unidos vamos ter vitória sim, e a gente espera pela justiça da terra e a justiça de Deus, porque essa também não falha. A gente vai continuar gritando, vamos continuar buscando, vamos continuar lutando até haver justiça por Laudemir e respeito pelos garis”, disse.
Também participou da audiência o gari Tiago Rodrigues, que trabalhava com Laudemir no momento do assassinato. Ele afirmou que o autor do disparo chegou a sinalizar que não iria prosseguir com o crime, mas de repente, saiu do carro e alvejou o colega.
“Eu disse: Você vai matar a mulher em serviço, é sério? Ele ficou um pouco intimidado com a minha palavra, abaixou a arma, colocou dentro do carro. Eu falei, esse cara não está normal, não sei o que está passando no dia a dia dele. Na hora que ele passou do caminhão, ele parou o carro, brecou e voltou, pegando a arma, apontando. A única coisa que deu tempo de eu fazer foi olhar para o ‘Lau’, que estava ao meu lado, e falar com ele, irmão, fica atento que esse cara aí vai tirar na gente”, conta.
“Um cara sem sentimento, frio, sem espírito nenhum, de pura frieza. E, naquilo ali, ele fazendo o movimento, acho que ele clicou no clique de liberação do pente, o pente caiu no chão, ele pegou o pente e colocou, naquilo ali eu já virei para ele acenando o braço, tentando convencer ele a não fazer. Eu falei ‘pô, irmão, você vai atirar na gente trabalhando? Você vai matar pai de família?”, não pensou duas vezes, fez a posição de alvo e apontando para a minha direção, acabou acertando o Lau, até achei que era mentira, na hora que ele colocou a mão no peito, dizendo que acertou” disse na audiência pública.
Busca por melhorias no trabalho dos garis
O objetivo principal da audiência foi cobrar por melhorias nas condições de trabalho e na remuneração dos trabalhadores da coleta de resíduos sólidos na capital. A audiência foi solicitada pelo vereador Dr. Bruno Pedralva (PT), que disse em entrevista que o crime não foi ‘por acaso’.
“Não foi por acaso o assassinato do Laudemir, nessas condições tão bárbaras, de um homem rico, branco, empresário, assassinando um homem jovem, trabalhador, pai de família, negro. Isso não pode passar em vão. Nós queremos que a cidade respeite e valorize o trabalho dos garis, mas também que as empresas, que é a prefeitura, criem uma série de estruturas para valorizar”, pontuou.
“É um absurdo, até hoje os nossos garis ficarem pendurados no para-choque correndo atrás do lixo na cidade. Por que eles não têm uma cabine para poder ter um pouco mais de segurança? De igual modo, ter câmera de segurança no caminhão, os caminhões serem monitorados. A gente precisa não deixar passar em vão isso e lutar, portanto, por respeito e valorização da categoria”, continuou.
A esposa de Laudemir, Liliane França, disse esperar que o crime contra seu esposo sirva de motivo para avanços na valorização dos trabalhadores da coleta.
“Eu fico feliz por eles terem abraçado essa causa e estarem dispostos a ajudar, porque eles precisam muito de ter essa visão. Há muito tempo que eles estão aí na luta, às vezes eles não tinham voz, por mais que eles estejam na correria, eles não tinham voz. Então eu acredito que com isso que aconteceu com o Lau, eles vão ter voz, porque o Lau não vai falar mais, mas pode ter certeza de que eu vou estar aqui para continuar gritando para melhorias para eles”, disse.
Durante a audiência, houve várias citações ao PL 4161/2020, que tramita na Câmara dos Deputados em Brasília. O texto, prevê a regulamentação da profissão do trabalhador essencial da limpeza urbana. O presidente do Sindeac, Paulo Roberto da Silva, afirmou na audiência que o texto melhora vários pontos, mas não garante a melhoria das condições de segurança dos trabalhadores.
“É um PL que eu acho que tem que ser modificado e que nós vamos tentar corrigir com a proposta do Bruno Pedralva, pelo menos para o Estado de Minas ou para Belo Horizonte. O projeto fala muito em dinheiro, adicional de insalubridade de 40%, dois salários-mínimos e um piso salarial, mas esquece da proteção desses guerreiros”, defendeu durante a audiência.