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Traficantes desmentem ‘toque de recolher’ na Pedreira Prado Lopes, em BH: ‘Não há guerra na PPL’

No comunicado, os bandidos afirmam, ainda, que irão ‘apenas matar’ rivais que descumprirem ordens; policiamento foi reforçado na região

Apesar da negativa do toque de recolher, a rua Araribá ficou deserta na noite dessa terça (7); na imagem, é possível ver as cinzas da barricada feita pelos bandidos; ao lado, índio, morto em posto de gasolina de BH

Os últimos dias têm sido de tensão na Pedreira Prado Lopes (PPL), Região Noroeste de Belo Horizonte. A execução de Richard André Bibiano, vulgo “Índio”, de 46 anos, nessa segunda-feira (6), fez com que populares temessem confrontos em possíveis retaliações ao crime. O homem foi morto em plena luz do dia, em um posto de gasolina na Avenida Tereza Cristina, na altura do bairro Padre Eustáquio, também na Regional Noroeste de BH.

Isso porque Índio era apontado como liderança do tráfico de drogas no local, na boca conhecida como “Beco do Fi”, além de ser irmão de Rafael Bibiano, vulgo “Espaguete”, que está preso. Os dois eram conhecidos como “Irmãos Bibiano” e considerados de altíssima periculosidade pelas autoridades.

Assista: Vídeo flagra execução de homem em posto na Tereza Cristina, em BH

Espaguete, inclusive, teria papel importante no Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do país. Ele está preso no Presídio de Muriaé, em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, destinado a membros do CV.

Após a morte de Índio, populares relataram um suposto “toque de recolher” e “ameças de guerra” na PPL, porém, autoridades e, posteriormente, os próprios traficantes negaram a informação. A reportagem da Itatiaia esteve no local e confirmou que a maioria dos comércios locais seguiam abertos.

Assassinato teria sido por vingança

No momento, a principal linha de investigação trabalha com a hipótese de que o crime seja uma vingança pela morte de Felipe Liê, executado com tiros de fuzil em 29 de novembro de 2024. Segundo o boletim de ocorrência, o suspeito de ser autor dos disparos é o irmão de Liê, identificado como Nathan, que fugiu após o crime.

Liê era apontado como líder do tráfico na PPL, na região conhecida como Maloquinha, comandada por outra gangue do tráfico de drogas da Pedreira.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil investiga o caso.

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Traficantes emitem nota negando ‘guerra’, mas fazendo ameaças

Na noite desta terça-feira (7), em meio a boatos de toque de recolher e “guerra” eminente, os traficantes locais, aliados dos “Irmãos Bibiano”, emitiram nota negando que tais situações ocorreriam. Porém, informaram a expulsão de familiares de Nathan e Liê da comunidade.

Além disso, ameaçaram essas pessoas, afirmando que em caso de descumprimento das ordens, iriam “apenas matar” os envolvidos, sem troca de tiros.

Ainda na nota, afirmam que “a paz seguirá reinando na favela” e dizendo aos moradores para ficarem “tranquilos”. Porém, uma barricada chegou a ser feita em uma rua do bairro.

Leia o comunicado na íntegra:

“COMUNICADO BECO DO FI PPL

Da nossa parte não existiu toque de recolher para a nossa comunidade, nem para os colégios, escolas ou comércios. Foi obrigação de luto, apenas isso. Não haverá trocas de tiros com a Malokinha. Informamos que qualquer traficante ou parente do COVARDE que matou o RICHARD não vai frequentar, morar, trabalhar ou vender drogas na rua Araribá ou Serra da Mutuca.

Aos moradores da PPL: podem ficar tranquilos e continuar com suas vidas normais. A paz continuará reinando na favela, não vamos permitir que COVARDES destruam a nossa tranquilidade. Caso seja descumprida a ordem, não haverá trocas de tiro, vamos apenas matar o devido traficante ou qualquer outro tipo de covarde. Estamos aqui para tranquilizar a comunidade que não há guerra na PPL. Esses comunicados da mídia e dos grupos de WhatsApp estão equivocados. Que Deus abençoe todos os moradores da PPL.”

Comunicado divulgado por traficantes da Pedreira Prado Lopes, em BH

Policiamento foi reforçado na PPL

A Itatiaia entrou em contato com a Polícia Militar, que afirmou não haver nenhuma orientação sobre toque de recolher na Pedreira Prado Lopes e reforçando a presença da corporação no local. Leia a nota:

“O 34º Batalhão de Polícia Militar informa que houve um equívoco na comunicação sobre a existência de um suposto toque de recolher na comunidade da Pedreira Padre Lopes.

A Polícia Militar esclarece que não há qualquer determinação ou orientação oficial nesse sentido, e reforça que mantém presença constante na localidade, com o objetivo de garantir a segurança, a tranquilidade e o bem-estar dos moradores.

O 34º BPM segue atento às demandas da comunidade, realizando policiamento preventivo e ações de aproximação social, reafirmando o compromisso da PMMG com a ordem pública e a proteção da sociedade.

A Polícia Militar reforça a importância da participação da comunidade na prevenção e repressão ao crime, incentivando que qualquer informação relevante seja comunicada por meio do telefone 190 (emergências) ou pelo Disque Denúncia 181, além dos canais disponíveis nas Bases de Segurança Comunitária e unidades policiais.”

Já a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte informou que todas as escolas da região permaneceram com atendimento normal nesta terça-feira (7). Também foi dito que “a Guarda Civil Municipal intensificou o patrulhamento preventivo na região, mantendo equipes fixas para assegurar a continuidade dos serviços públicos e a segurança de profissionais, estudantes e moradores”.

A Polícia Civil, por sua vez, informou que “apura os fatos” que “tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas”.

Assista:

Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.