A água da chuva, captada por calhas e canos de casas e apartamentos, tem como destino ideal os bueiros, também chamados de bocas de lobo. Essa rede direciona a água para os cursos d'água na cidade. Mas o que muitos imóveis fazem, de forma irregular, é a ligação do encanamento que capta a água da chuva na rede de esgoto.
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) atende uma média de 150 ocorrências por dia, em BH e na metropolitana, ligadas a entupimento de redes de esgoto. Gerente de manutenção eletromecânica de esgoto da Copasa, Filipe Bicalho explica que são duas as redes coletoras, e que elas não devem se misturar.
“Essa água (de chuva) das calhas que vem, muita gente pega e liga direto na tubulação de esgoto. Isso vai carreando muito material, todo dia o tipo de sujeira que vai ajudando a entupir as redes. E, além disso, quando a gente faz o projeto para dimensionar as redes coletoras, a gente não leva em consideração a água de chuva, que é um volume muito grande. A gente só leva em consideração a água de esgoto, esgoto doméstico. Com isso, quando chove e chega no esgoto essa magnitude de vazão, a tubulação não suporta. E começa a extravasar na rua, vazar muita coisa que gera um monte de transtorno para a população”, explica.
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O gerente tem uma técnica para identificar o que pode ser descartado em pias e no vaso sanitário, e o que deve ir para a cesta de lixo.
“Eu gosto muito de falar que se tá na mão, para o esgoto não. Ou seja, tudo que a gente pegou, a gente vai jogar na lixeira. Não vamos jogar no esgoto. Tudo que a gente pode pensar que cai no esgoto vai causar entupimento. Até mesmo cabelo, fio dental, camisinha, guimba de cigarro. Isso vai formando e vai aglomerando, formando o que a gente chama de bucha, que vai entupindo a rede e não passa nada”, explica.
Bicalho revela ainda qual é o produto que se torna um verdadeiro veneno na rede de esgoto. “A gordura em hipótese nenhuma deve ser jogada na rede de esgoto. Apesar dela ter aquele aspecto líquido, a gente tem que colocar ela num potinho, numa garrafa pet, para depois fazer um descarte adequado no lixo, e nunca no esgoto. A gente pode fazer um paralelo com o corpo humano: do mesmo jeito que a gente pode entupir uma veia com gordura, a rede de esgoto também fica totalmente entupida”, alerta.
E o papel higiênico?
Segundo a Copasa, também o papel utilizado para higienizar as partes íntimas deve ser descartado na cesta e lixo. “O papel pode sim a causar muitos entupimentos, apesar de na teoria eles poderem ter que ser dissolvidos, na prática, eles não se dissolvem por completo e com isso vão juntando mais naquela bucha que eu mencionei e causando cada vez mais entupimentos”, esclarece o gerente de manutenção da Copasa.
A babá Ana Camilo, de 55 anos, diz que fica de olho em casa e puxa a orelha de quem faz o descarte incorreto. “Fico de olho, tem que ficar alerta. Eu puxo a orelha, porque o prejuízo é pra nós mesmos. Se entupir volta tudo pra gente”, dispara.
Segundo Ana, os descartes irregulares mais comuns que já viu são absorvente e lenços umedecidos. O vendedor ambulante Nicolas dos Santos Brandão, de 18 anos, usa banheiros públicos e de estabelecimentos comerciais com frequência. Ele revela que os descartes mais estranhos que já viu são embalagens de alimentos e guimba de cigarro.