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A história da ponte de Minas Gerais que caiu e foi esquecida por sete anos

Ponte do Pereira, em Mercês, está inutilizada desde 2018 e desabou em 2020; tormento pode acabar nesta quinta-feira (10), sete anos depois

Ponte do Pereira, em Mercês-MG, teve estrutura abalada em 2018, colapsou em 2020 e só agora, em 2025, foi recuperada

Moradores de Mercês e de outras cidades da Zona da Mata de Minas Gerais vivem os últimos momentos de um pesadelo que dura mais de 2.500 dias. Segundo a Prefeitura da cidade de 10 mil habitantes, a última etapa de asfaltamento da nova Ponte do Pereira, na Rodovia MGC-265, será concluída nesta quinta-feira (10), atenuando o descaso do governo estadual que durou sete anos e afetou a vida de milhares de pessoas que moram, trabalham e passam pela região. No entanto, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DERMG), informou que a conclusão total da obra está prevista para setembro.

A Ponte do Pereira fica no KM 25 da MGC-265, sobre o Ribeirão São Domingos, afluente do Rio Pomba. O local fica a apenas um quilômetro do trevo de Mercês.

O segmento entre Mercês e Rio Pomba, onde está localizada a travessia, é importante conexão entre a BR-040 (Barbacena) com a BR-116 (Leopoldina) e ao Aeroporto Regional da Zona da Mata, entre Rio Novo e Goianá.

Moradores e comerciantes da região contaram à Itatiaia que os problemas estruturais na Ponte do Pereira começaram em março de 2018, num período de chuvas e de cheia do Rio Pomba, que corre a alguns metros do local. Na ocasião, as águas destruíram a base da estrutura e geraram um alerta.

Já em 2020, em plena pandemia da Covid-19, a estrutura da Ponte do Pereira desabou e deu início a um verdadeiro calvário a quem frequentemente passa ou vive por ali. Uma ponte improvisada, de madeira, foi instalada ao lado da estrutura original da Ponte do Pereira. O desvio foi feito com cascalho e não asfalto, o que tornou a vida dos moradores vizinhos insalubre.

Caminhões pesados, carros e motos passaram a formar filas para fazer a travessia improvisada, que permitia o trânsito em um só sentido.

O edital do processo de licitação para as obras da ponte só foi divulgado em 19 de setembro de 2023, mais de três anos após a queda da estrutura.

Mas só agora, em julho de 2025, quase dois anos depois, é que a nova ponte começa a virar realidade.

“É um descaso do estado, responsável pela Rodovia MGC-265. Essa ponte sempre gerou problemas e caiu desde o início da pandemia, em 2020, e não conseguiram até hoje concluir a obra, que vem se arrastando há anos. É um caos, visto que é uma rodovia super movimentada”, conta Luciano Antônio de Paiva, dono da venda Delícias da Rocha, próxima à Ponte do Pereira.

“Em época de chuva, tudo fica alagado, com barro, pois não tinha asfalto na ponte improvisada. O trânsito ficava parado. Já chegou a ficar parado por doze horas. Em 2024, a estrutura ficou submersa na época das cheias”, completou.

O comerciante chamou a atenção ainda para o descaso do estado com a economia da Zona da Mata, uma vez que trabalhadores, agricultores e empresas dependem da ponte para escoar suas produções.

“Atrapalhou demais quem vive do comércio, as empresas da região. Essa é a passagem mais usada por todos que precisam chegar a Santa Bárbara do Tugúrio, Mercês, Rio Pomba, Ubá, Juiz de Fora e todas as cidades da região”, lamentou Luciano Antônio de Paiva.

A nova Ponte do Pereira, sobre o Ribeirão São Domingos, conta com 43 metros de comprimento por 10 metros de largura.

Morador da casa mais próxima à Ponte do Pereira, o produtor de laticínios Misael Lopes se indigna ao comentar o abandono nesses sete anos.

“Já são sete anos que estamos sofrendo. Não tem desculpa que pague esses sete anos numa rodovia como essa. Atrapalhou muito a região toda. Na época das águas, vinha carreta e agarrava na lama. O trânsito ficava interrompido. Não prejudicou só quem mora aqui, mas a região, como o Polo Moveleiro de Ubá”, disse Misael Lopes.

Poeira e problemas de saúde

Não bastassem os transtornos no transporte e para a economia local, Misael citou o tormento dos moradores com barulho e poeira. A casa dele fica a menos de 100 metros da Ponte do Pereira. São sete anos de pó dentro de casa e problemas respiratórios.

“Aqui há oito casas que sofrem com essa poeira. Nós estamos na beira da rodovia. A gente fecha a casa toda, mas a poeira entra em qualquer lugar. (...) Tenho pai e mãe idosos, prejudica a saúde, o pulmão, mas se Deus quiser vai ficar pronta logo”, disse o produtor de laticínios à Itatiaia.

Com a proximidade do fim das obras, Misael Lopes só fez um alerta. “Aqui tem lavanderia, indústria, fábrica de ração. Pediria que mantivessem os quebra-molas ou colocassem radares. Depois do asfalto pronto, vai ficar bom, mas vai ficar perigoso”.

O que diz o DER-MG

Em nota, o DER, órgão do Governo de Minas, informou que as obras da Ponte do Pereira estão em andamento e ‘seguem adiantadas’.

“A previsão de entrega, com todos os serviços concluídos, será em setembro. Na fase final dos serviços, está sendo executada a pavimentação do encabeçamento, que é a ligação da ponte à rodovia. Em seguida será feita a sinalização horizontal (faixas de pista) e vertical (placas). Como a ponte já está concluída, o tráfego de veículos da MGC-265 já passa pela estrutura”, diz a nota, que não respondeu qual é o valor total da obra e nem sobre a demora na construção da estrutura denunciada por moradores.

Prefeito interino de Mercês se posiciona

Por sua vez, o prefeito interino de Mercês, Carlos Henrique Faria da Silva, afirmou que a previsão de conclusão do asfaltamento da Rodovia MGC-265, sobre a Ponte do Pereira, é justamente nesta quinta-feira (10).

“Foi muito doloroso. Nesse tempo todo, nos meses das chuvas, as águas passavam em cima dessa ponte improvisada que colocaram ao lado da Ponte do Pereira. Isso trouxe transtorno demais para Mercês. Dependemos demais de Juiz de Fora, Barbacena, Muriaé, Ubá. Os pacientes daqui vão para essas cidades. Com a ponte travada, perdíamos consultas, cirurgias”, disse.

Depois de contato feito pela Itatiaia, Carlos Henrique foi à Ponte do Pereira e pediu atenção do Governo de Minas para outros trechos da Rodovia MGC-265.

“Precisamos também de melhorias na estrada que liga Leopoldina ao trevo de Barbacena, na BR-040. Está um transtorno para levar pacientes para a Fundação Cristiano Varella em Muriaé, pessoas que vão fazer quimioterapia, radioterapia”, acrescentou.

“Na Serra de Santa Bárbara do Tugúrio, há um trecho que está com meia pista há anos. Nós também levamos muitos pacientes a Barbacena. O Governo precisa olhar para a Zona da Mata”, concluiu o prefeito interino de Mercês, Carlos Henrique Faria da Silva.

Gerente de Jornalismo e Esporte Digital da Itatiaia. Construiu sua carreira no jornalismo online, desde 2000. Grande experiência como repórter, editor-chefe e coordenador. Na Itatiaia, ajudou a criar o projeto digital Itatiaia Esporte (portal e redes). Antes, passou por Superesportes, Estado de Minas, TV Alterosa, Veja BH e Canal 23.
Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.