Ouvindo...

Você teme a morte?

Ninguém passa ileso à “consciência” da finitude da vida! Há um mar de incertezas diante desse “acontecimento”

Padre Samuel Fidelis, colunista da Itatiaia

Você teme a morte? Essa é, antes de ser uma pergunta de Davy Jones, no filme Piratas do Caribe, uma questão existencial. Ninguém passa ileso à “consciência” da finitude da vida! Há um mar de incertezas diante desse “acontecimento”. Será o fim? Para onde vamos? Qual será o sentido das lutas que travamos?

Há muitas formas de abordar esse tema. Focaremos, hoje, na compreensão dos estoicos. Para eles, a filosofia é fundamental, pois, ao filosofar, aprendemos a morrer. Isso ocorre porque a reflexão constante sobre a morte é, para eles, a condição necessária para uma vida plena e virtuosa. Lembrar que vamos morrer ajuda a não perder tempo, a procurar ser bons e a não ficarmos presos demais no que é menos importante.

A consciência da finitude, de que cada instante vivido é tambe morrido (Heidegger) ajuda a balizar cada ato, emoção ou sentimento humano. Tudo se ajusta ao fato de que no dia em que partirmos (e vamos!) a terra continua a girar. Ajuda saber que todos os interesses conflitantes, toda vaidade, toda ilusão chega a um termo. O fim de nosso termos é termos a caveira (Hamlet).

Seja em chave filosófica, poética, espiritual é possível convergir na direção de um consenso: o tempo que nos pertence é o “agora”. No sagrado instante e, nada mais, se atribui significado ou futilidade à existência humana. Em chave espiritual, sobretudo, a vida só tem sentido quando encontramos um motivo pelo qual dar a vida...

Talvez, nessa perspectiva, o nosso grande temor diante da morte, seja que, já que “a vida só dá uma safra”, sermos atravessados pela existência sem que os nossos dias tenham significado. “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe” Óscar Wilde.

Todo o processo de luto complica ainda mais, quando o sujeito ainda não fez a travessia do “eu”. É sempre o desafio para alguém que não consegue se ver se não no “lugar” de filho, amiga, neto, ver um sentido para continuar seguindo depois da perda de alguém que o amou.

O luto, em última instância, nunca é sobre o que foi, mas sobre o lugar que se perde. A questão não é a morte da mãe, mas é que junto do caixão vai a filha. Nunca mais aquele abraço, aquela voz que acalmava tudo, aquele olhar...

Leia também

Qualquer elaboração de perda passa por um sequestro de um TRAÇO que era do outro. Aí se descobre que era do outro, mas já era meu. É preciso para atravessar a dor da partida, não matar o outro em nós, mas permite que viva como lembrança, afeto, legado. Parafraseando Adélia Prado: o que a memória ama se torna eterno. Amemos com amor imperecível.

Não bastasse isso, a fé cristã ainda oferece uma esperança ainda mais densa e profunda: a vida eterna! Os cristãos creem que a vida não é tirada, mas ressignificada. Findada a nossa peregrinação terrestre, aquilo que somos assumirá vida nova na eternidade.

É patrimônio da humanidade que o amor não é sepultável. É esperança cristã saber que quando algo chega ao fim, aí está o momento de agarrar o Deus vivo. É justamente no entardecer de alguma realidade ou expectativa que desponta a luz d’Aquele que vive para sempre.

Ter fé não é outra coisa do que confiar no Senhor que é especialista em sair de túmulos...


Participe dos canais da Itatiaia:

Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.