A Itatiaia viaja nesta quinta-feira (30) para a década de 60, precisamente no cruzamento entre a avenida Augusto de Lima e a rua da Bahia. O edifício visitado é o Arcângelo Maletta, local que abrigou até 1919 um sofisticado hotel e recebeu personalidades icônicas como Olavo Bilac e Monteiro Lobato.
O edifício era do italiano Arcângelo Maletta, que construiu um hotel com o seu nome à época. Mais tarde ele foi demolido para dar lugar ao conjunto comumente conhecido como Maletta, que continuou recebendo figuras importantes.
É difícil existir alguém que nunca sentou na varanda do Maletta, que tem vista para o Museu da Moda, e não parou para comer um tira gosto ou tomar alguma bebida. O lugar também é conhecido por ter a primeira escada rolante de Belo Horizonte, no entanto, ele é muito mais que isso.
Segundo a professora do departamento de arquitetura da UFMG, Celina Borges Lemos, a construção do Maletta perdurou entre 1957 e 1959. Porém, ele apenas foi inaugurado cerca de dois anos depois, em 1961. A intenção era “construir uma cidade dentro do edifício”.
“São 81 mil metros quadrados, subdivididos em 19 andares de área comercial, que nela constavam 642 salas, 72 lojas e 74 sobrelojas. Além disso, ele tinha a missão residencial com 31 andares e, nesses andares, 319 apartamentos. Ele trazia com o modernismo uma novidade fundamental para Belo Horizonte. Em primeiro lugar morar sozinha. O direito de ser eu, de ser individual. Então foi formado principalmente por interioranos que vieram com o sonho da cidade grande”, contou a professora.
Bastante movimentado, o Malleta preserva a característica de grande hotel até os dias atuais, recebendo, em média, 5 mil pessoas diariamente. “Para esse lugar costumavam ir os artistas, os sonhadores, os poetas e eles passavam a noite ali numa vida boêmia. É interessante como isso dialoga com o grande hotel antigo que também era bastidor de política. No caso Maletta, um lugar da resistência e da luta contra a ditadura e também um dos berços do surgimento de bandas importantes em Belo Horizonte, como no caso do Clube da Esquina, dos grandes cantores que compuseram e compõem ainda esse grupo mineiro da música”, destacou.
De frequentador, a morador e atual síndico
Ator e síndico há 12 anos do Maletta, Amauri Reis é apaixonado pelo edifício. Antes, ele era frequentador, depois começou a morar no local e hoje é síndico. “Em 1979, eu comecei a trabalhar com teatro. Naturalmente as pessoas saiam da escola ou do teatro e vinham para o Maletta, para a Cantina do Lucas, a gente frequentava demais. Porque todos os grandes artistas vinham pra cá. Então a gente queria ver os grandes artistas, né?”, recordou.
Ele conta que morou durante cerca de 8 anos no Maletta e, logo depois, se mudou para o prédio Genoveva, que é o bloco dois do edifício. “Um senhor me convidou para ser síndico daqui. Aí eu vim, participei da eleição, fui eleito e estou aqui há 12 anos. O Maletta é tão genial que até hoje temos aqui alfaiates, relojoeiro antigo que conserva os reloginhos, sapateiro, costureiras, tem de tudo”, explicou.
No entanto, de acordo com ele, o que movimenta o Maletta são os bares. “A frequência da noite é maior quinta, sexta e sábado, que mistura a galera toda”, destacou Amauri.
O síndico comentou sobre a Cantina do Lucas, um restaurante de comida mineira, e a Itatiaia não poderia deixar de ir ao estabelecimento, que é o mais antigo do local e coleciona histórias. Antônio Mourão, gerente do restaurante há 24 anos e envolvido no local há 30, disse que a história da cantina se funde à do condomínio.
“O Maletta foi um evento quando foi inaugurado, o maior empreendimento imobiliário da época. E, logo depois, a Cantina se inaugurou e virou um point da época. Dizem que fazia até excursão no interior para vir cá conhecer a escada rolante de Belo Horizonte, né? E ver esse empreendimento que tinha até um título: ‘uma cidade dentro da outra’”, explicou Mourão. A cantina é o único restaurante em Minas Gerais tombado pelo patrimônio cultural.
Nesta sexta-feira (1ª), a reportagem vai até o conjunto IAPI, um condomínio plural que é praticamente um bairro à parte perto do Centro de Belo Horizonte.