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‘Maior beatlemaníaco de BH’, fã conheceu Paul McCartney após ‘porrada’ de segurança

Jeová Guimarães fala sobre como descobriu os Beatles aos 8 anos e afirma que teve a vida ‘guiada’ pela banda; Paul se apresenta na Arena MRV no domingo (3) e segunda (4)

Jeová exibe a sala repleta de pôsteres e o disco McCartney III

É difícil explicar a relação entre fã e ídolo. Essa paixão quase religiosa pode até não mover montanhas, mas vai movimentar milhares de fãs de Sir Paul McCartney, que prometem lotar a Arena MRV nos dois shows em Belo Horizonte, domingo (3) e segunda-feira (4). Entre esses apaixonados, estará um belo-horizontino guiado pelo som dos Beatles desde a infância e que é considerado por muitas pessoas como o “maior beatlemaníaco de BH”.

Aos 68 anos, Jeová Teixeira Guimarães vive com a esposa, um cachorro e milhares de itens não só de “Macca” e dos Beatles, mas também de música em geral. São discos de vinil, CDs, livros, revistas e todos os tipos de bugigangas imagináveis, decorando cada cômodo de sua casa.

A Itatiaia visitou a casa do fã e, logo ao entrar na residência, ‘deu de cara’ com uma sala de estar onde mal dava para ver uma parte da parede nua, já que toda a sala está coberta com pôsteres, quadros, pinturas e fotos de John, Paul, George e Ringo. A influência de Paul McCartney e seus companheiros é notada não apenas na sua imensa coleção, mas em sua vida pessoal: “sou vegetariano há 9 anos por causa dele”, diz Jeová.

Vida guiada pelos Beatles

Os Beatles entraram na minha vida quando eu tinha 8 ou 9 anos, em 1964 ou 1965. Papai comprou uma vitrola nova, mas minha mãe falou que eu e minha irmã não íamos gostar de ouvir os discos deles. Ele disse que ia resolver e, no dia seguinte, apareceu com um compacto importado comprado nas Lojas Gomes com duas músicas dos Beatles.

A paixão foi a primeira vista, ou melhor, aos primeiros acordes: “quando eu botei aquilo para tocar, eu pirei o cabeção! Aquela música ficou na minha cabeça. Eu tenho esse compacto até hoje, mas eu deixei ele cair e acabou quebrando não toca mais.” Desde então, a coleção foi crescendo, no começo com discos que ganhava do tio ou comprava com a “mesada semanal” do pai.

Meu pai não gostou tanto, mas a minha mãe, sim, ficou apaixonada pelos Beatles, dizia que era uma música alegre, feliz. O disco favorito dela era ‘Sgt. Pepper’s’ (1967). Minha mãe ia pro salão toda sexta-feira, folheava as revistas e, se achava uma foto dos Beatles, ela trazia pra mim. Dava uma revista nova pro salão e pegava a velha, com a foto. Eu fazia colagens de fotos dos Beatles e depois mandava encadernar. Acabou o papel, agora eu faço no computador.

Jeová é firme ao dizer que teve sua vida “direcionada pelos Beatles”: “o som deles sempre esteve junto comigo, acho que tudo que eu fiz na vida foi junto com eles”. Além da coleção de itens físicos, Jeová dedica seus perfis nas redes sociais a falar diariamente sobre a banda, publicando fotos, vídeos, curiosidades e até mesmo cada fato ocorrido “neste dia” no passado dos Beatles.

Encontro com Paul após “porrada” de segurança

Jeová viu Paul McCartney de perto em 1990, quando foi ao Rio de Janeiro em uma caravana da antiga Rádio Extra para o primeiro show do ex-Beatles no Brasil. Mas o encontro só aconteceu 24 anos mais tarde, em 2014, em Vitória (ES). Jeová foi deixado pelo filho a poucos metros do ponto de ônibus onde embarcaria para Cariacica, local do show, e em frente ao hotel em que estava Paul McCartney. A parada no local não era planejada, mas acabou trazendo uma grata surpresa ao fã, mas não sem certa dor.

Eu estava descendo o passeio para atravessar a rua. Quando eu paro, vejo o carro dele chegando. Resolvi tentar tirar uma foto. O segurança me deu uma porrada que eu fui parar lá na avenida. Aí o carro parou, o mesmo segurança me pegou e disse ‘me acompanhe’. Eu pensei: ‘ferrou, tô preso!’

Mas Jeová não foi preso: “ele me botou em frente ao vidro traseiro do carro. O vidro foi abaixando e aí…Paul McCartney. Quando eu tentei levantar o telefone para fazer a foto, ele me estende a mão, aponta para a minha camiseta, da campanha ‘Paul Vem Falar Uai’ e faz um ‘joia’. O resto só eu sei.” Jeová acredita que o aperto de mão foi uma forma de “compensar” a porrada levada pelo segurança.

A foto ele não conseguiu tirar, mas se achou em alguns “flagras” publicadas no Twitter, que ele guarda com orgulho. Apesar da admiração, Jeová afirma que não tem vontade de estar com Paul ou conversar com seu ídolo: “Nunca fui em hotel, nunca participei de promoção. Eu gosto da música. Ponto final. Não rola esse tesão não. Eu tenho medo de conhecê-lo e a ‘magia acabar’, eu me decepcionar”.

O que esperar do show na Arena MRV?

O show deste domingo (3) será o nono de Jeová desde 1990. O “maior beatlemaníaco de BH” já assistiu apresentações de Paul McCartney no Rio, São Paulo, Curitiba, Cariacica e, é claro, Belo Horizonte. A idade e os problemas de saúde já não permitem que ele fique na grade, o que ele já fez em 1993: “fiquei nas primeiras filas, pertinho do palco”. Agora, Jeová prefere assistir os shows sentados: “meu negócio é o som, a música. Eu fico andando e notando como o som soa de cada lugar do estádio. Eu gosto de ouvir e saber que o cara está ali cantando para mim.

Para fechar, perguntamos ao “maior beatlemaníaco de BH”: como convencer alguém, que nunca ouviu uma música da banda, a dar uma chance aos Beatles?

Eu falaria: ouve a música desses caras aqui que você vai se divertir. É muita alegria, alto astral. Até as músicas românticas são alto astral. A sensação que eu tive na primeira vez foi alegria. Meu ouvido pedindo cada vez mais. Acabava o disco, eu virava pro outro lado e fazia isso dezenas de vezes.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.