“Estou com medo e estão me reprimindo. Se negam a fazer o parto cesárea, mesmo com a orientação da médica que me acompanhou durante todo meu pré-natal”. O desabafo é da dona de casa Joyce Ferreira Alves, às vésperas do parto, nesta quarta-feira (15) ao ser referir à pressão que supostamente vem sofrendo da equipe médica da Maternidade Sofia Feldman para fazer o parto normal.
A reportagem da Itatiaia teve acesso ao relatório médico da unidade de saúde de Ribeirão das Neves onde o pré-natal foi feito. O documento, assinado pela médica Ana Braga, relata que Joyce teve um pré-natal de alto risco, problemas psiquiátricos e que chegou a ganhar 26 quilos durante a gravidez.
A Itatiaia procurou a Casa da Gestante da Maternidade Sófia Feldman. Por telefone, uma funcionária que não quis se identificar afirmou que “os desejos da paciente serão respeitados” e que não poderia passar mais nenhuma informação por telefone.
Internada há duas semanas
Joyce explica que está internada na maternidade há duas semanas por causa de diabetes, anemia e diagnóstico de pré-eclâmpsia que altera a pressão arterial.
“A paciente tem medo em excesso por trauma do último parto em 2014, e tem crises de pânico sempre que se lembra da última gestação”, informa o documento. “Por diversas vezes, a paciente manifestou o desejo por cesariana e foi orientada que, por lei, tem direito a cesariana e que seu desejo seja respeitado no momento do parto”, finaliza a médica que assinou o documento a que a Itatiaia consultou.
No dia 13 de novembro, Joyce entrou com outro documento na maternidade relatando que, mesmo ciente dos benefícios do parto normal, diante da fragilidade emocional, solicita que o parto seja cesárea.
Casa de apoio
Joyce é acompanhada pela Casa de Apoio Bityah, que oferece atendimento a gestantes em situação de vulnerabilidade social. A assistente social da casa de apoio, Cláudia Pinto Coelho, afirma que esteve na Maternidade Sofia Feldman. “A médica (de plantão) não apresentou impedimento clínico algum para que a cesárea fosse feita”, relata Cláudia.
“Joyce me liga a todo tempo com crises de ansiedade, com medo de que seu desejo não seja respeitado, apesar do relatório médico indicando a cesariana”, lamenta a assistente social.
O que diz a lei
O Projeto de Lei nº 852, aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 2023, determina que a gestante tem autonomia para escolher o procedimento do parto. “Fica garantido às gestantes o direito ao procedimento de parto por cesariana nas maternidades estaduais do Estado, respeitada em todos os casos, a autonomia da vontade da parturiente”, especifica a norma.
Parto cesárea
É uma forma de nascimento de bebês por via cirúrgica, normalmente indicada quando há o risco de realização do parto normal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a cesariana é uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês quando indicada por motivos médicos.