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‘Sou trabalhador, tenho meus filhos para cuidar’, disse vigilante que ficou cego após ser baleado por PM, na Pampulha

Advogados lutam para que o crime seja qualificado como tentativa de homicídio e não lesão corporal

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) segue a investigação do caso do vigilante Bruno Adão Gomes da Silva, de 35 anos, que perdeu a visão de um dos olhos após ser baleado na cabeça pelo cabo da Polícia Militar (PM) Aldir Gonçalves Ramos, de 41, lotado no Batalhão da PMMG de Choque, que segue detido em prisão preventiva. Bruno foi ouvido pela PC nesta semana e também passou por um auto de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML) nessa quinta-feira (19).

Tudo aconteceu na avenida Otacílio Negrão de Lima, próximo à Toca da Raposa, no dia 30 de setembro. Bruno conduzia um Sandero e o policial estava em uma moto vermelha. “Ele apareceu do meu lado esquerdo com uma moto. Ele simplesmente me olha e começa falar que ia me matar. Eu só percebi essa palavra. Para mim, era uma coisa momentânea”, lembrou o vigilante, deu uma entrevista exclusiva para reportagem da Itatiaia.

Bruno conta que quando fazia a rotatória, o policial reapareceu e chutou o retrovisor do carro. “Dessa vez, ele jogou a moto na minha frente, disse ser do Batalhão de Choque da PMMG e bateu com o cabo da arma no meu carro”, relatou. Nesse momento, segundo o vigilante, o policial estava “totalmente descontrolado”. “Fiquei alguns minutos esperando para ver se ele ia se acalmar. Quando ele veio com a arma no meu rosto, achei que ia atirar”, contou.

Bruno, que treinou jiu-jítsu por muito tempo, reagiu à agressão. “O objetivo era tirar a arma da mão dele. Quando a gente caiu no chão, eu joguei a arma dele para longe para poder pedir ajuda a população. Quando percebi que ninguém estava entendendo nada, eu saí correndo para pedir ajuda da Guarda Municipal”, disse.

Bruno revelou que não se lembra do momento em que foi baleado dentro da base da Guarda Municipal: “quando entrei, disse que eu estava sendo seguido por um homem armado. Mas ele já estava na porta falando ser do Batalhão de Choque e dizendo que eu ia morrer. Ele disse que eu era ladrão que tentei furtar a moto. Falei para o guarda que eu era vigilante, mas ele me mandou virar de costa. Essa é a última lembrança que tenho”, descreveu.

A vítima só voltou a consciência no pronto-socorro, onde recebeu a notícia que tinha sido atingido por um tiro no olho e perdido a visão. “A lembrança que eu tenho dele é de um cidadão descontrolado em pleno sábado que poderia estar usando do seu dia para curtir a sua folga, mas simplesmente travou a minha vida, tirou de mim o direito de ser uma pessoa que praticava meu esporte em alto nível, tirou dos meus filhos a alegria”, lamentou.

O vigilante desabafou sobre a vida com a sequela que carrega. “Sou trabalhador, tenho meus filhos para cuidar. Nunca vi um vigilante com paralisia de olho”, disse. Contudo, ele acredita na Justiça. “Graças a Deus, ele continua detido para casa da investigação e eu tenho certeza que vai ter a justiça”, acrescentou.

Omissão de socorro

Bruna Vitebro, advogada que representa o vigilante Bruno Adão, afirmou que a defesa luta para qualificar o crime como tentativa de homicídio e não lesão corporal, e acredita que houve omissão de socorro por parte da Guarda Municipal. “Nós entendemos que houve uma tentativa de homicídio e que há uma omissão de socorro com relação à guarda. Nós já estamos preparando as providências judiciais”, disse.

A reportagem da Itatiaia entrou em contato com a Guarda Municipal que informou instaurou um Procedimento Disciplinar. Confira a nota completa

A apuração do evento, que teve origem em via pública e envolve um policial militar, está sendo realizada pela Polícia Civil. A Corregedoria da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte, por sua vez, instaurou um Procedimento Disciplinar, imediatamente após o episódio, para apurar a conduta dos agentes que estavam de serviço naquela Unidade de Segurança Preventiva (USP) da corporação, na ocasião.

O espaço está aberto para a defesa do Cabo Aldir Gonçalves Ramos, caso queiram se manifestar.

Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
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