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Bairro Serra registra onda de furtos de hidrômetros da Copasa: ‘prende hoje, solta amanhã ‘

Tipo de crime virou rotina na região, a exemplo do que ocorre na cidade com furtos de fios, e deixa consumidores sem água

Dona de salão teve hidrômetro furtado cinco vezes

Comerciantes do bairro Serra, lado Centro-Sul de Belo Horizonte, acumulam prejuízos em razão de furtos de hidrômetros da Copasa, tipo de crime que virou rotina na região, a exemplo do que ocorre na cidade com furtos de cabos e fios. Levantamento feito pela Itatiaia aponta 60 ocorrências de furtos de medidores de água da Copasa somente na Serra em 2023.

A reportagem da Itatiaia foi ao bairro e conversou com vítimas, incluindo proprietárias de um salão de beleza na rua do Ouro, principal do bairro, que teve cinco medidores furtados, sendo dois nas últimas semanas. A empresária Maria Gabriela dos Reis Gomes, de 40 anos, relata que o problema é geral.

“Traz muito prejuízo, porque a gente não pode abrir, não pode trabalhar, porque a gente fica sem água e acaba que, às vezes, temos que arcar com os custos. Nós tivemos hidrômetros roubados cinco vezes nos últimos dois anos. E nas últimas duas semanas, foram duas vezes seguidas. Inclusive, nossos vizinhos estão tendo o mesmo problema”, disse Gabriela.

Para tentar evitar novos furtos, ela comprou uma estrutura de aço para proteger o medidor. “A gente pagou R$ 590 para um serralheiro reforçar a estrutura, para ver se a gente consegue trabalhar em paz. “Acho que os bandidos estão com uma sensação de impunidade, porque não acontece nada. O próprio policial relatou que prende hoje, solta amanhã, e os criminosos fazem a mesma coisa”, desabafa.

Além da insegurança e do prejuízo, Maria Gabriela reclama do atendimento prestado pela Copasa. Isso porque, em razão da frequência dos furtos, funcionários teriam reclamado por terem que refazer o serviço várias vezes e por ela não ter protegido o local anteriormente. A empresa nega. Conforme Maria Gabriela, foi preciso chamar a Polícia Militar para ter o novo medidor instalado.

“O funcionário da Copasa ficou um pouco bravo com a gente, porque disse que a gente tinha que ter tomado providências para que não houvesse outros roubos”, afirma. “Mas a gente não teve nem tempo, porque, em questão de três dias, eles roubaram o hidrômetro novamente”, desabafa a empresária.

Ela explica que, mesmo com o abrigo de metal para proteger, como o hidrômetro fica na rua, não é difícil roubá-lo. “Eles chegam, arrombam tudo e arrancam com muita violência, estragam a tubulação toda.”

‘Carandiru’

Sílvio Pinho é dono de um empório que vende doces e bolos na rua do Ouro e é vítima do mesmo crime. Ele chama a estrutura de aço de Carandiru, em alusão ao presídio de São Paulo demolido em 2002 e que ficou conhecido pelo massacre de presos em 1992.

Desanimado e descrente, Sílvio já pensa em abandonar o negócio. “Só este mês, ficamos com o prejuízo de quatro dias com a loja fechada, por terem roubado os hidrômetros”, conta. “Chamamos um serralheiro para fazer um ‘Carandiru’, fechar, e ver se não acontece isso mais”, completa.

Ele afirma que, com a loja fechada, pagando aluguel, com despesas e sem ter retorno, não é possível manter o negócio. “Se roubarem mais uma, duas vezes, acho melhor eu sair, porque não tem condições de trabalhar. Até as lâmpadas que a gente coloca do lado de fora, eles roubam”, desabafa.

Copasa

Em nota, a Copasa garante que a instalação dos hidrômetros nos imóveis da rua do Ouro foi realizada conforme a solicitação do cliente.

“A Companhia esclarece que a substituição de hidrômetros, em decorrência de furtos, é imediatamente realizada pela empresa, tendo em vista a necessidade de registro do consumo do imóvel. Nessa situação, é recomendado que o cliente sempre faça um Boletim Operacional (BO) para registro e estatística da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e para que o cliente não arque com o custo de substituição do equipamento”, diz a nota.

Policiamento

Sobre a segurança na Serra, a Polícia Militar (PM) informou que o 22º Batalhão monitora as ocorrências de furto na região Centro-Sul de Belo Horizonte.

“O 22º BPM tem adotado, como estratégia no combate aos furtos, operações conjuntas com a Prefeitura de Belo Horizonte e representantes das empresas de telefonia, as quais consistem em abordagem e fiscalização aos estabelecimentos denominados “ferros velhos”. Estas operações propiciam a recuperação de vários tipos de materiais furtados, principalmente, equipamentos de cobre. Ressaltamos que as operações estão acontecendo de forma periódica, objetivando minimizar os furtos de cabeamento e hidrômetros”, diz trecho da nota.

“Destaca-se, ainda, que o 22º BPM possui uma rede de proteção comunitária bem sedimentada, principalmente no bairro Serra, em que os moradores participam das estratégias de segurança pública traçadas pela Polícia Militar”, encerra.

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.