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Jovem denuncia ter sido impedido de trabalhar com tranças em restaurante no Funcionários, em BH

Estabelecimento negou que proprietária proibiu jovem de trabalhar por conta das tranças; funcionária terceirizada é demitida

Jovem procurou a polícia para fazer a denuncia nessa segunda

Um garçom de 25 anos denuncia ter sido vítima de racismo por parte de uma funcionária e de uma das donas de um dos restaurantes mais famosos de Belo Horizonte, o Sushi Naka, que fica no bairro Funcionários, na região Centro-Sul da capital mineira.

Higor Antero dos Santos Rodrigues afirmou que foi impedido de trabalhar por ter tranças no cabelo. Ele chegou a ser questionado por mensagem se “trabalha na feira Hippie?”. O estabelecimento informou que repudia as falas da mulher, trabalhadora terceirizada, que foi demitida após o caso viralizar nas redes sociais.

O episódio ocorreu no último sábado (18) e Higor procurou a polícia nessa segunda-feira (21) para registrar um boletim de ocorrência. À reportagem da Itatiaia, ele contou que trabalha como garçom no estabelecimento há quatro meses. “No último sábado, cheguei por volta das 8h40 e fui surpreendido por minha chefe dizendo que eu não poderia trabalhar por estar com tranças”, conta.

Higor afirma que saiu para tomar café e retornou. “Ela gritou, na frente dos outros funcionários, que eu não iria trabalhar com as tranças. Fiquei em choque, me sinto muito humilhado e constrangido. Mas nada falei”, acrescenta.

Diante da situação, ele procurou, por meio do WhatsApp, a funcionária responsável pelo setor jurídico da empresa para evitar rever a perda do dia trabalho. Nas mensagens, o jovem conta o que ocorreu e logo a mulher respondeu: “onde você está com a cabeça de colocar trança no cabelo e ir trabalhar?”, que ele trabalha com japonês e “não com brasileiro que é oba oba”. Ele diz: “minha trança está pequena e grudada na cabeça”. É então que ela pergunta: “você trabalha na feira hippie?” e afirma que “obedece quem tem juízo”.

Confira os prints da conversa abaixo:

Auxiliado por um advogado, Higor explica que tomará todas as medidas cabíveis. “A gente quer Justiça”, finalizou.

O restaurante Sushi Naka disse, por meio de nota, que repudia qualquer ato dessa natureza e que pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços cancelado.

Confira a nota do restaurante na íntegra:

A empresa repudia qualquer ato dessa natureza sobretudo por sua origem oriental. O restaurante tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores e segue todas as normas e deliberações da vigilância sanitária. A pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços cancelado. Lembramos que ela era uma profissional terceirizada e não tinha autorização para falar em nome do estabelecimento. Ressaltamos que o fato está sendo apurado internamente com todo respeito a cultura étnica”.

Após o envio da nota, a assessoria respondeu por mensagens a denúncia contra uma das sócias. “Ele não foi mandado embora devido às tranças e impedido de efetuar o trabalho. Ele é que foi embora do estabelecimento, considerando, inclusive, abandono de posto”, disse.

Ainda segundo a empresa, ele “foi advertido com uma única frase por uma das proprietárias que com as tranças soltas ele não poderia trabalhar no salão. Uma vez que o restaurante segue normas e deliberações da vigilância sanitária.” A empresa negou que a sócia tivesse gritado com ele.

A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou que o jovem registrou ocorrência em uma base da Polícia Militar e que “irá apurar os fatos”, finalizou.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.