“Às vezes 2 mil reais pode não ser muito para um ou para outro. Mas para aquelas mulheres, que precisavam daquele passo, foi a chave certa”, conta Eliane Pereira dos Santos. Ela é moradora de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
A região é conhecida pelo povo hospitaleiro, as belezas naturais e a cultura rica. Rico também é o subsolo, cheio de Lítio, que está sendo extraído pela
Quem chega à região, porém, repara primeiro no contraste. O vale, que tem quase 1 milhão de habitantes, tem um dos IDHs (índice de desenvolvimento humano) mais baixos do país.
Os R$ 2 mil que a Eliane mencionou vieram do projeto de microcrédito “Dona de Mim”. Ela e outras 1999 mulheres receberam o dinheiro como empréstimo e tiveram condições de pagamento facilitadas. Foi esse valor que permitiu que Eliane ampliasse a produção de salgadinhos para festas, o que ela tem como profissão “desde sempre”.
Com o dinheiro, Eliana conseguiu comprar um forno novo para aumentar a produção. O “Dona de Mim” é um projeto da indústria Sigma Lithium, que financia o microcrédito e busca fortalecer a economia e a comunidade na região.
Mas não foi só por isso que os R$ 2 mil se multiplicaram. Junto com ela, outras amigas participaram do projeto e também ampliaram suas produções. Ao se conhecerem, acabaram criando uma comunidade. Agora, uma divulga o trabalho da outra e, juntas, crescem cada vez mais.
“Antes, a gente não tinha essa parceria, era cada um por si. Depois do projeto a gente se conheceu e fez essa parceria. Eu trabalho com salgados, a Cida trabalha com personalizados para festas, a Andreia trabalha com geléias, uma outra trabalha com docinhos e por aí vai. Assim uma vai divulgando a outra”, explica Eliane.
A Cida, ou melhor, Geralda Aparecida, também é de Araçuaí e é produtora de embalagens e brindes personalizados, além de já ter trabalhado com bolos. Quando produzia sozinha, tudo à mão, ela acabava tendo que recusar pedidos por falta de tempo. Aí veio o microcrédito. Com o dinheiro, ela comprou uma máquina que automatiza a produção, o que já permitiu que ela aceitasse mais pedidos. Mas ela não parou por aí.
“Eu me empolguei e acabei comprando outra máquina, para fazer encadernados personalizados. Tô devendo, mas, graças a Deus, eu cresci profissionalmente, minha autoestima melhorou bastante. Tem semana que eu não dou conta e acabo jogando os pedidos para domingo também”, conta Cida. Junto com Elaine, ela faz parte do contigente de 10 milhões de empreendedoras do Brasil, segundo dados do Sebrae e do IBGE. Essas mulheres enfrentam diversas barreiras na busca pelo sucesso dos seus negócios, como o preconceito, a desvalorização, a falta de confiança e a
Fortalecimento
O grupo de amigas já planeja as próximas fases dos negócios. Querem abrir uma cozinha, conjunta e até o lançar uma loja aberta ao público. Cida conta que essas conquistas - sejam elas pequenas ou grandes - mostram o valor e o poder que a mulher tem.
“Na sociedade, eu vejo que muitas mulheres sofrem preconceito. Tem umas que tinham vontade de ter seu próprio negócio, mas não tinham coragem. Mulher não é só dentro de casa, fazendo comida, lavando roupa, lavar e passar. Mulher também tem direito.”, reflete.
Eliana pretende aumentar sua produção e conta com o apoio das amigas para oferecer novas gostosuras para os clientes. Para ela, não há muita dúvida: as mulheres do Jequitinhonha podem ir longe.
“Tem tanta mulher que passou a ser dona delas mesmas. Isso era o que faltava na vida delas. Tem muitas mulheres que vão ter sua independência e vão fazer a diferença. As mulheres criaram asas. Vamos voar e vamos voar longe.”