A Polícia Civil investiga um esquema de fraude em um concurso público da Prefeitura de Piedade do Caratinga, no Rio Doce. Entre os suspeitos, estão dois servidores públicos da cidade e a esposa de um deles.
A investigação começou no dia 26 de maio, após o Ministério Público receber um vídeo que dava pistas de que o concurso seria fraudado. Com isso, O MPMG realizou uma reunião junto com a Polícia Civil e a Prefeitura de Piedade do Caratinga, onde ficou definido que os gabaritos seriam escaneados antes da aplicação da prova e conferidos depois, para impedir a troca de fichas.
O concurso foi realizado normalmente no dia 28 de maio. Na última sexta-feira (2), cinco dias após o concurso, o Ministério Público recebeu um e-mail anônimo com as provas e gabaritos de três cargos específicos anexados. Os arquivos estavam coloridos, sendo que as provas aplicadas foram impressas em preto e branco.
A Polícia Civil vinha investigando o caso desde a primeira denúncia e já tinha alguns suspeitos. Foi identificado que três candidatos dos cargos que tiveram gabaritos vazados tiraram a mesma nota (39 de 40 pontos) e erraram a mesma questão.
Servidores municipais
A Polícia Civil cumpriu oito mandados de busca e apreensão nesta segunda-feira (5), em endereços ligados aos suspeitos. Os investigadores descobriram que dois dos suspeitos são servidores contratados da Prefeitura de Piedade do Caratinga, enquanto a terceira suspeita é casada com um deles, além de ser agente político de uma cidade próxima.
De acordo com o delegado Fernando Lima, os gabaritos eram dos cargos de Advogado Cras (Centro de Referência de Assistência Social), Enfermeiro especialista em curativos e Dentista Especialista em prótese. Como o número de candidatos para esses cargos era pequeno, a investigação pode avançar rapidamente. O delegado dá detalhes da operação.
“Durante o cumprimento do mandado, descobrimos um outro endereço ligado a um dos suspeitos, que não autorizou nossa entrada. Conseguimos um novo mandado e, ao acessarmos o notebook, percebemos que os arquivos dos gabaritos haviam sido apagados, mas ainda constavam no histórico de downloads do navegador.”
De acordo com a Polícia Civil, os arquivos com as provas e gabaritos eram originais e não escaneados, o que indica que foram enviados por alguém que teve contato com a produção das provas. A banca que organizou o concurso foi contratada sem licitação, já que é uma entidade sem fins lucrativos. Apesar de estar sediada na Bahia, a empresa não está realizando nenhum concurso em seu estado de origem, mas organiza quatro certames em Minas Gerais.
Em um dos celulares, foi encontrada uma troca de mensagens entre um dos suspeitos e um funcionário da banca que se apresentava como responsável pelo concurso público. Até o momento, ninguém foi preso.
A Polícia Civil segue investigando quem foi o responsável pelo vazamento dos gabaritos. Não foi descartada a possibilidade de outros candidatos terem acesso aos gabaritos. Segundo o delegado, o concurso pode ser anulado pela prefeitura ou, em casos extremos, ser impugnado pela Justiça.
A Itatiaia entrou em contato com a Prefeitura de Piedade do Caratinga, que ainda não retornou. A IESP, empresa responsável pela realização do concurso, afirma não ter conhecimento oficial de atos ilícitos relativos a esse processo seletivo.
Veja nota na íntegra:
Até o presente momento a empresa IESP, não teve conhecimento oficial de nenhum ato ilícito ocorrido no dia 28 de maio de 2023, referente o Concurso Executado, na manhã de hoje dia 06/06/2023, o IESP foi surpreendido com algumas ligações e e-mails perguntando sobre a Operação Policial e suposta fraude no Concurso Público da Prefeitura Municipal de Piedade de Caratinga-MG, ratificamos que a equipe do IESP não compactua com nenhum ato ilícito ocorrido e estamos a disposição para dar esclarecimento e contribuir com as investigações realizada pelo MP e Polícia Civil de Minas Gerais.
Em tempo, o IESP reafirma nosso compromisso com a realização de Concurso Público prevalecendo sempre a moralidade, ética e qualidade do nosso serviço.
Em outra nota, divulgada pelo IESP nesta quarta-feira (7), o instituto informou que zela pela realização dos concursos de forma legal. O IESP afirma que seguiu todos os procedimentos de segurança antes, durante e depois da aplicação das provas e está à disposição para colaborar com a investigação. Um procedimento administrativo interno foi aberto para apurar o vazamento.
