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Garçom na Pampulha, venezuelano tenta trazer família para Belo Horizonte

Pai e filho criaram campanha na internet para trazer a mãe e os irmãos para Minas; em cinco anos, Brasil recebeu 325 mil imigrantes do país vizinho

Venezuelanos tentam vir para o Brasil reencontrar familiares

Belo Horizonte é um dos destinos mais procurados por venezuelanos que vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor. Entre os mais de mil imigrantes do país que chegaram em BH nos últimos cinco anos está Kevin Alejandro, de 19 anos. Ele veio para o Brasil em 2021 com o pai, e há um ano vive em Belo Horizonte. Agora, sonha em reencontrar a mãe e os irmãos e trazê-los para Minas - para isso, fazem uma ‘vaquinha’.

Eles descobriram Belo Horizonte por causa de uma tia que já morava na cidade. “A ideia era que meu pai e irmão mais velho viessem. Como a passagem para menor de idade era mais barata, e eu tinha 17 anos, acabei vindo com ele”, explica.

Coiotes na fronteira

A entrada no Brasil foi arriscada. Kevin conta que ele e o pai enfrentaram uma jornada cansativa para atravessar a fronteira: saíram de ônibus de Puerto la Cruz, cidade turística do litoral norte, em direção a El Dorado. Em seguida, tentaram atravessar a fronteira de ônibus.

Porém, devido à pandemia da Covid-19, as fronteiras brasileiras estavam fechadas. Kevin e o pai decidiram, então, pagar um coiote - nome dado às pessoas que guiam os imigrantes de forma clandestina - e atravessaram a pé a linha que divide os dois países.

Ao chegar em Roraima, os dois pegaram outro ônibus até Boa Vista. “No acampamento para refugiados a gente conseguiu emitir os documentos brasileiros e se legalizar. Mas esse processo durou seis meses, então ficamos lá até tudo acabar”, explica.

Com os documentos em mãos, os venezuelanos compraram passagens aéreas até Belo Horizonte e se estabeleceram na capital. Hoje, moram no bairro Ouro Preto e trabalham no mesmo restaurante no bairro Castelo, na Pampulha: Kevin trabalha como garçom e Luiz é lavador de pratos.

Kevin e o pai tentam, com uma campanha, juntar recursos para reunir o restante da família em BH. “Aqui o nosso salário vai embora nas contas do mês. O dinheiro fica muito apertado. Sem a ajuda de outras pessoas, vai ser impossível juntar a quantia necessária para trazer a minha mãe e meus irmãos”, relata. “Na Venezuela, eles ganham 25 dólares por mês, mas um pacote de arroz custa 4 dólares. Então, o dinheiro mal dá para comer”.

Imigração de venezuelanos

Para escapar da violência, insegurança, miséria e falta de insumos básicos, como remédios e alimentos, mais de cinco milhões de venezuelanos já deixaram o país. Os países da América Latina e Caribe são os principais destinos de quem é obrigado a sair do seu país natal para sobreviver.

O Brasil é o quinto país mais procurado por imigrantes venezuelanos, segundo dados da plataforma R4V, que reúne informações do sistema das Nações Unidas e do governo brasileiro. O país fica atrás somente da Colômbia, Peru, Equador e Chile. De janeiro de 2017 a março de 2022, o Brasil recebeu 325.763 venezuelanos. Entre abril de 2018 e agosto de 2021, a capital mineira recebeu cerca de 1.047 imigrantes do país.

A vakinha pode ser acessada neste link.

* sob supervisão de Enzo Menezes

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.