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Sistema de estacionamento rotativo de Belo Horizonte está em colapso, garantem especialistas

Série especial da Itatiaia aponta problemas e alternativas para o sistema da capital mineira

Especialistas apontam falhas no sistema rotativo de Belo Horizonte

O sistema do estacionamento rotativo em Belo Horizonte está em colapso. É o que avaliam especialistas de trânsito, comerciantes e empresários do ramo de tecnologia que vendem créditos digitais para o faixa azul.

Em teoria, as 23.631 vagas físicas espalhadas por Belo Horizonte deveriam gerar, pelas regras do rotativo, 106.079 oportunidades de estacionamento. Na prática, o sistema não funciona apropriadamente. Pelas vias da cidade são diversos os motoristas que extrapolam o tempo permitido para a vaga e nem ativam os créditos digitais.

No bairro Funcionários, na região Centro-Sul da capital, a reportagem circulou por locais com as vagas mais concorridas. Um lavador de carros que trabalha por lá e pediu para não ser identificado conta o que vê diariamente.

“Por volta de 8h30 no máximo a rua já está lotada, difícil encontrar vaga. A gente avisa o motorista que é preciso acionar o rotativo. Tem uns que nem ligam, aí na hora que tomam multa ficam de cara feia. Tem motorista que deixa o carro parado o dia todo por aqui, não tá nem aí, toma até duas multas no mesmo dia”, afirma.

Falta fiscalização

A multa por não pagar o estacionamento rotativo é de R$ 195,23, mas a fiscalização na capital é precária. Segundo o consultor em trânsito e ex-presidente da BHTrans, Osias Baptista, a falência do sistema de revezamento de vagas ocorre porque não há interesse entre os governantes em aprimorar o supervisionamento do rotativo.

“Infelizmente, nós temos uma cultura contra a fiscalização generalizada no país. O poder público tem uma certa vergonha, uma certa inércia e incapacidade de assumir que é necessário fiscalizar 100% das infrações. Sem essa fiscalização, o pessoal fica na vaga o dia todo e, na hora em que o motorista realmente precisa resolver uma atividade rápida, como fazer uma compra ou ir ao médico, ele não consegue vaga porque tem motorista infrator que ocupa a vaga de 8h às 18h”, pondera Baptista.

A BHTrans não tem dados atualizados sobre quantos motoristas deixam de pagar o rotativo. O último levantamento, de 2015, apontou que quase 80% dos motoristas que estacionaram nas vagas rotativas usaram o serviço de forma irregular. Naquele ano o sistema digital ainda nem existia e o faixa azul era por meio de talões de papel.

Hoje esse índice de infratores pode ser ainda maior inviabilizando a operação do rotativo eletrônico, como afirma Júlio Figueiredo, presidente da empresa TI Mob, que desenvolveu um dos aplicativos para a compra de créditos.

“A falta dessa multa do veículo irregular acarreta em ônus para nós empresários que investimos nesse modelo de mercado porque ganhamos um percentual na venda do crédito digital. Cada vez mais as pessoas têm menos propensão a consumir o crédito do faixa azul dada a expectativa de não fiscalização. A maioria das pessoas aposta, e aposta alto que é mais fácil não ser multado em diversas regiões da cidade do que ser multado”, diz Figueiredo.

Prejuízo para lojistas

Além dos motoristas que não encontram vagas e dos empresários que trabalham com o sistema, também são prejudicados os comerciantes, principalmente, os donos de lojas em avenidas e ruas onde existe o estacionamento rotativo.

Vice-presidente da CDL-BH, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte, Marcos Innecco conta que a categoria já pediu por diversas vezes à prefeitura para que a fiscalização seja intensificada. Ele também destaca outras solicitações feitas recentemente para melhorar a situação.

“Gostaríamos que houvesse o aumento do número de vagas rotativas. Com o passar dos anos, as vagas foram reduzidas pela implementação de estacionamentos para motos e pelo aumento de vagas de carga e descarga. Outros fatores que reduzem as oportunidades de estacionamento são os motoristas de aplicativos que ocupam as vagas rotativas até serem chamados. Ocorreram também instalações de parklets pela cidade em locais que poderiam ser para rotativo. Tudo isso precisa ser avaliado pela prefeitura”, constata.

Solução prevista para 2023

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) indicou o diretor de sistema viário da BHTrans, José Carlos Ladeira, para conversar sobre o tema.

Para o diretor, é uma questão subjetiva dizer que o rotativo está em colapso, mas ele reconhece: a fiscalização é pequena na cidade. Segundo José Carlos Ladeira a solução passa pelo monitoramento do rotativo por meio de inovações tecnológicas. Uma delas está em estudo nos últimos anos e pode ser implementada em 2023.

“O único problema que a BHTrans vê no estacionamento rotativo é a fiscalização pequena. Mas esse colapso vamos destruir letrinha por letrinha com a fiscalização eletrônica. Eu dou como exemplo o carrinho do Google repleto de câmeras. Ele vai passando, identificando os veículos e fazendo a leitura da placa. O sistema então verifica se o carro está logado no sistema. Se não estiver o motorista vai receber uma ‘cartinha’ em casa, que ele estava cometendo uma irregularidade. Isso é uma evolução e nós já estamos atrasados para fazer isso”.