Apesar de reajustes salariais superiores à inflação, o transporte público vem enfrentando desafios para manter a quantidade ideal de motoristas. Em diversas cidades, empresas de transporte público têm tido dificuldades para cumprir os horários e garantir a regularidade das linhas, impactando diretamente quem depende do transporte para trabalhar, estudar ou realizar tarefas diárias.
Essa situação é reflexo da mudança no perfil de muitos trabalhadores que têm optado pela flexibilidade no horário de trabalho. Com isso, muitos profissionais têm evitado compromissos com jornadas fixas e escalas rígidas. De acordo com o levantamento recente da Consultoria Mercer, 43% dos trabalhadores brasileiros gostariam de ter mais flexibilidade em seus trabalhos.
Esse fenômeno, que reflete uma mudança de comportamento nas novas gerações, está impactando diretamente o transporte coletivo, afetando as operações e a vida de milhares de passageiros. A escassez não é exclusiva do setor de transporte. A crescente busca por trabalho remoto e flexível tem sido uma tendência observada em diversas profissões. Profissionais das novas gerações, especialmente os mais jovens, estão cada vez mais distantes de empregos tradicionais, com jornadas fixas e turnos de trabalho. E isso tem afetado o transporte coletivo.
De acordo com dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), a categoria registrou um aumento significativo nos salários e benefícios nos últimos oito anos, com um crescimento de 57,14%, superando em 6,55% a inflação acumulada no período. Entre os meses de setembro de 2023 e setembro de 2024, o reajuste foi de 10,16%, superando a inflação em 5,83%. Contudo, apesar desses ajustes salariais, segundo o sindicato, as empresas continuam enfrentando dificuldades para preencher as vagas disponíveis de motoristas.
Para Jeferson Bittencourt, Gestor de Operações e Logística do Grupo Coordenadas Transportes, empresa que atua no setor, a profissão de motorista de transporte coletivo exige qualificação e dedicação. Além de ser necessário possuir a carteira de habilitação D ou E e passar por treinamento nas empresas, o profissional precisa trabalhar com regularidade e pontualidade para garantir que os horários sejam cumpridos com precisão.
“O motorista do transporte coletivo precisa não apenas de conhecimento técnico, mas também de compromisso, responsabilidade e respeito pelos passageiros. A dedicação ao trabalho é fundamental, pois lidamos com a mobilidade de milhares de pessoas diariamente”, afirma Bittencourt.
O motorista do transporte coletivo precisa não apenas de conhecimento técnico, mas também de compromisso, responsabilidade e respeito pelos passageiros
Ele destaca que o transporte público é essencial para a vida nas grandes cidades e, para seguir atendendo de forma eficaz e acessível, será preciso um esforço conjunto de empresas, poder público e sociedade. Embora os reajustes salariais e a melhoria das condições de trabalho para motoristas sejam passos importantes, o setor enfrenta um desafio crescente: como conciliar as necessidades de flexibilidade dos profissionais com a exigência de regularidade e pontualidade que o serviço demanda?
Empresas e gestores do setor têm buscado soluções para esse dilema. A adaptação das condições de trabalho e a valorização dos motoristas também são fundamentais para garantir que o sistema de transporte continue a funcionar de forma eficiente.
À medida que as cidades se expandem e a demanda por transporte público cresce, a necessidade de encontrar um equilíbrio entre a flexibilidade que os trabalhadores buscam e a regularidade exigida pelo serviço será ainda mais crítica. Essa busca por equilíbrio será decisiva para que o transporte público continue a ser uma opção viável, sustentável e indispensável para a mobilidade urbana.
