Nas últimas décadas, a população canina teve sua expectativa de vida aumentada, o que, por sua vez, resultou no crescimento da incidência de doenças. Segundo a Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (Abrovet), a cada ano surgem novos casos de câncer em cães, causados por diferentes fatores, como a genética herdada dos pais, o funcionamento do sistema imunológico e a exposição a substâncias prejudiciais, como raios solares.
“Conforme os cachorros envelhecem, seu sistema de defesa fica mais debilitado, um processo natural do avançar da idade. Em cães jovens, o sistema imunológico é capaz de localizar e eliminar células com defeitos no DNA antes que causem problemas. Porém, nos mais velhos, as células começam a acumular pequenas falhas, podendo se multiplicar de forma descontrolada formando uma neoplasia”, explica Peter Sarmiento, professor de Medicina Veterinária da Estácio.
De acordo com o especialista, que também é pós-doutor em Ciência Animal, as células doentes crescem sem controle e consomem muita energia do animal, prejudicando o funcionamento normal dos órgãos. “O câncer mais grave é aquele no qual as células se espalham pelo sangue e atingem outras partes do corpo, exigindo um tratamento urgente para tentar salvar sua vida”.
O diagnóstico precoce da neoplasia é um desafio para veterinários e tutores, pois diferentemente de nós, humanos, os cachorros não conseguem expressar o incômodo que sentem.
“É essencial estarmos atentos às mudanças que os nossos pets apresentam. Os principais sinais são alterações no comportamento, como perda de interesse em brincar, perda de apetite, cansaço excessivo e dificuldade para andar. Também é importante observar se aparecerem caroços no corpo, inchaços na barriga ou alterações na pele, orelhas, focinho e olhos”, diz.
Outros indícios incluem vômitos frequentes, emagrecimento sem motivo aparente, mudança na quantidade ou coloração da urina e das fezes, dificuldade para respirar e feridas que não cicatrizam. De acordo com o veterinário, quanto mais cedo essas alterações forem percebidas e avaliadas por um profissional, maiores serão as chances de obter um diagnóstico adequado e, consequentemente, um tratamento bem-sucedido.
Os tumores caninos mais comuns são os que surgem nas mamas e na pele – sendo para este tipo a genética o seu principal fator de risco –, como descreve o médico veterinário. “Cachorros de pelagem clara têm mais chances de desenvolver câncer de pele, pois seu corpo produz menos melanina. Além disso, algumas raças são mais propensas a desenvolver um tipo muito agressivo, chamado de mastocitoma: Boxer, Bull Terrier, Buldogue Francês, Labrador Retriever, Shar-pei, Dachshund e o Golden Retremer, que pode desenvolver também linfoma e câncer nos ossos. Contudo, animais sem raça definida e algumas raças populares no Brasil, como Shih Tzu, Spitz Alemão e Lhasa Apso, podem ter a enfermidade sem associação genética”.
O docente da Estácio esclarece que uma forma de prevenção bem efetiva do câncer associado ao fator genético é a realização de exames de DNA que identificam os genes ligados ao carcinoma. “Com essa detecção precoce, é possível saber quais cães têm chances reduzidas de transmitir essa tendência para os seus filhotes. O exame tem um custo elevado e as informações disponíveis são limitadas a poucas raças, geralmente as de maior valor comercial”, declara.
“Com relação ao câncer associado à exposição a raios solares, a prevenção é feita com a aplicação de filtro solar veterinário, além de evitar caminhadas nos períodos de maior radiação solar, entre 10h e 16h”, adiciona o profissional.
Atualmente, existem três formas de tratamento, que devem ser realizadas exclusivamente por médicos veterinários especializados em oncologia: remoção cirúrgica do tumor, quimioterapia com medicamentos específicos para eliminar as células cancerosas e radioterapia na área afetada para destruir o tumor. “Essas abordagens podem ser indicadas separadamente ou combinadas, dependendo da complexidade do caso. A escolha da terapia leva em conta o tipo de câncer, o estadiamento e as condições de saúde do cão. Tumores detectados precocemente costumam responder melhor às terapias, com maiores chances de recuperação. No entanto, o tratamento pode causar efeitos colaterais, e a resposta do organismo dependerá do estado geral do animal. Mesmo após um tratamento bem-sucedido, o câncer pode reaparecer, especialmente em cachorros mais velhos. Por isso, é essencial manter consultas veterinárias regulares”, finaliza.