(*) Ana Carolina Amorim Almeida
A recente
A medida se baseou em pesquisas que relacionam o uso a prejuízos à saúde mental e física de crianças e adolescentes como: aumento de depressão, ansiedade, sintomas psicossomáticos, automutilação, distorção de imagem, além da piora no aprendizado e concentração.
Não é à toa que a expressão do ano, escolhida pelo dicionário de Oxford, é “Brain Rot”, “cérebro podre”, refere-se ao esgotamento mental causado pelo uso excessivo das redes sociais com conteúdo superficial e pouco desafiador. Um dos principais argumentos à proibição é o efeito viciante das redes e o quanto o uso afeta o ambiente escolar, tantos nas relações entre alunos e professores quanto no aprendizado.
No atendimento psicológico às crianças, aos adolescentes e aos adultos percebo que só o fato de ter o celular por perto, nas mochilas ou bolsas, por exemplo, já se cria uma ansiedade de verificar mensagens, curtidas no Instagram, tirando o foco da conversa e/ou do aprendizado. Professores e os próprios alunos já relatam dificuldades em ler textos longos, terminar um livro, interpretar, fazer relações mais complexas, pois no mundo digital atual estão acostumados a experiências passivas, curtas, “shorts vídeos”, que oferecem satisfação imediata, com a liberação de dopamina ao “rolar” o “feed”, por exemplo.
Os smartphones funcionam como “inibidores de experiências”, pois oferecem tantos estímulos atrativos que reduzem ou afastam outras formas de experiências como os conteúdos escolares que exigem mais atenção, tempo e concentração. Experiências em países em que a proibição já funciona como França, Dinamarca, Itália, Suíça e Canadá, mostram melhoras significativas nos níveis de aprendizado, concentração, interação social e qualidade no ambiente escolar.
A presença dos celulares na escola – antes da proibição – alteravam a dinâmica nos recreios, intervalos, momentos valiosos de conexão entre colegas, de troca de experiências, conversas, brincadeiras como correr, esconder-se. Os olhos estavam voltados para as telas, ao invés da conexão, olho no olho, à mais alta tecnologia que o humano desenvolveu, a capacidade de fazer vínculos sociais.
O brincar é um recurso essencial para crianças elaborarem as emoções, lidarem com as frustrações, aprenderem com as regras, entenderem os próprios sentimentos ao se relacionarem entre si. O psicólogo americano, Jonathan Haidt, autor do livro “A Geração Ansiosa” (best -seller pelo New York Times) aponta para uma reconfiguração da infância antes baseada no brincar para a infância baseada no celular. O que implica, segundo ele, em quatro prejuízos fundamentais: privação social, privação de sono, atenção fragmentada e vício. Infelizmente, no Brasil, a situação é semelhante.
De acordo com uma pesquisa de 2013 a 2023 feita pelo
Outro aspecto fundamental apontado no livro é que os adolescentes, com a chegada da puberdade, socialmente inseguros, vulneráveis à pressão do grupo, estão mais suscetíveis aos mecanismos viciantes das redes sociais em troca de pequenas doses de dopamina. Se os adultos com dificuldade em limitar ou reduzir o uso de internet e muitos já se consideram “viciados”, imaginem as crianças e jovens que não têm totalmente desenvolvido o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pelo autocontrole.
No entanto, mesmo com a exclusão no ambiente das salas de aula, há a necessidade de se trabalhar com os jovens e as crianças o uso consciente e responsável da tecnologia, essencial para a vida de todos.