Até o final deste ano, o setor de construção civil deve injetar cerca de R$ 28 bilhões na economia mineira com crescimento projetado de 8,4% neste ano. Os dados constam na Pesquisa IPC Maps, especializada no potencial de consumo dos brasileiros. Um mercado que é um dos principais pilares da economia de Minas Gerais e, claro, também do Brasil. Diante dessa importância, especialistas estão alertando em relação a uma invasão de fios e cabos piratas no setor.
Como explica Walter Silva, supervisor de Negócios da Loja Elétrica, esses condutores são desbitolados, ou seja, são mais finos do que os condutores normatizados. “Um cabo pirata de 150 mm² tem, na realidade, cerca de 130 mm² e, consequentemente, custa 14% menos do que o cabo de 150 mm² normatizado. Ele é de uma bitola intermediária, é mais fino que o cabo de 150 mm² e mais grosso do que o de 120 mm², mas, na capa tem a marcação de 150 mm²”, ressalta Walter.
De acordo com o engenheiro, essa “troca” do normatizado pelo pirata ocorre no ato da compra e quem está na ponta do negócio, não sabe que está usando um produto “falsificado”.
“Alguns revendedores estão fazendo o seguinte: o comprador, do escritório da construtora, compra o fio ou cabo do revendedor que apresentou o preço mais baixo. Esse revendedor entrega o fio ou cabo pirata, que é desbitolado. Quem recebe o produto na obra não sabe nada sobre condutores e aceita o condutor pirata. Este condutor é instalado dentro de tubulações e ninguém mais detecta o golpe”, explica.
Ainda de acordo com Silva, raramente uma construtora descobrirá a fraude.
Outra fraude que está ocorrendo é em relação à quantidade vendida. A construtora compra um lance de 280 metros de cabo de 120 mm². O revendedor fraudulento envia uma bobina ou rolo com 265 metros, ou seja, faltando 5% na metragem. Como nas obras não existem máquinas de medir cabos para fazer a conferência, não detectam o engodo. Os rolos de condutores piratas também não têm 100 metros. Têm geralmente 95 metros ou até menos.
“Estes são os “milagres” que alguns revendedores estão fazendo. Apresentam preços mais baixos, mas na realidade, estão é enganando as construtoras. Esses trambiques podem ter consequências desastrosas”, enfatiza.
Como os condutores são mais finos, eles não suportam a corrente elétrica que um condutor normatizado suporta. Isso vai gerar sobreaquecimentos, que podem causar incêndios e, consequentemente, podem geram perda de vidas ou danos materiais. Caso isso aconteça, as construtoras poderão ter de arcar com os prejuízos causados.
Relatório Qualifio
Relatório de Monitoramento da Qualidade de Fios e Cabos Elétricos publicado Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos –Qualifio-publicado em agosto deste ano, revelou que os cinco primeiros meses de 2024 já apontam para uma realidade preocupante: condutores elétricos de má qualidade continuam sendo comercializados no Brasil, colocando em risco a segurança das pessoas.
De acordo com o levantamento, 33% das amostras de fios e cabos elétricos avaliados estão irregulares. Foram realizados 326 ensaios em amostras de fios e cabos elétricos, durante os meses de janeiro a maio deste ano. Esses cabos foram fabricados de maneira irregular, não atendendo as especificações necessárias contidas na norma vigente para fabricação de condutores elétricos – ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR NM 280.
De acordo com a Qualifio, fios e cabos elétricos que não atendem as normas de segurança podem causar descargas elétricas (choques), curto circuitos ou incêndios; podem provocar problemas de funcionamento em equipamentos e aumento dos gastos na conta de energia elétrica.