Espaços de resistência e guardiãs das tradições afro-brasileiras, as comunidades centenárias Sapé, Rodrigues, Marinhos e Ribeirão - quatro quilombos de Brumadinho - são de onde brotam as histórias que atravessam “O que o nosso povo contou": a primeira edição do selo editorial “Saberes & Memórias” da Diretoria de Educação do Instituto Inhotim.
Neste sábado, 14 de setembro, o Instituto lança o livro no Teatro Inhotim Vale, com participação de pessoas das comunidades envolvidas, da equipe editorial e da escritora, historiadora e professora Luana Tolentino.
O projeto “Saberes & Memórias” foi criado com o objetivo de mergulhar nas histórias, conhecimentos e tradições de Brumadinho, ampliando o vínculo da instituição com o território no qual está inserido. “O que o nosso povo contou” é fruto de um processo de construção coletiva de narrativa, integrando educadores, pesquisadores e mobilizadores locais.
A primeira edição do projeto vai contra o processo histórico de apagamento das comunidades quilombolas, sendo espaço para que os moradores falem em primeira pessoa sobre suas memórias e vivências, perpetuando-as e resguardando-as pelo tempo.
Na introdução da obra, Gleyce Kelly Heitor, diretora de Educação do Inhotim, versa sobre a importância dessas comunidades: “Tais quilombos são povoados por pessoas que, com seus saberes, são exemplos vivos da resistência e da preservação da cultura afro-brasileira nessa região. Por meio da trajetória de cada uma e cada um, compartilhada no livro, temos um exemplo do quanto essas comunidades seguem lutando por direitos e por acessos, e o quanto elas preservam, a partir de diferentes estratégias, a terra e as tradições em um contexto marcado por desigualdades”.
Do quilombo de Ribeirão, Olízia dos Santos Braga participou da criação do livro, atuando como mobilizadora local. Ela comenta sobre o percurso e frutos do trabalho: “Este livro é um grande registro, que poderemos acessar quando quisermos, para guardarmos os ensinamentos e saberes majestosos daqueles que nos antecederam e dos que ainda estão conosco. É uma obra muito importante porque foi feita por nós, respeitando o nosso tempo, cultura, momento, jeito e a particularidade de cada um. Aqueles que participaram desta criação fizeram isso com alegria, festa e saudades, pois nos fez reviver várias memórias. E o principal de tudo isso é que não foi mais uma daquelas criações de olheiros usurpadores do que é nosso”, conta.
O livro coroa o legado do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, realizado pelo Instituto Inhotim, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros Ipeafro), entre os anos de 2022 e 2024. Ativista, artista e político, Abdias Nascimento defende o conceito de quilombismo, que propõe uma transformação social baseada nos valores e nas experiências dos quilombos, que privilegiam a coletividade e o bem-estar comum.
Para celebrar os quatro quilombos do município, a publicação reúne histórias comuns e as singularidades de cada comunidade, bem como os saberes das mais velhas e dos mais velhos. O Instituto Inhotim contou com a colaboração do Jaca Centro de Arte e Tecnologia, na coordenação editorial, e com ilustrações do artista Desali.