O câncer colorretal é hoje o terceiro tipo mais frequente no país. O governo federal estima que mais de 45 mil brasileiros serão acometidos pela doença até 2025, o que corresponde a um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes.
No artigo Ionizable Lipid Nanoparticle-Mediated TRAIL mRNA Delivery in the Tumor Microenvironment to Inhibit Colon Cancer Progression, equipe do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG apresenta uma terapia promissora para tratar esse tipo de câncer.
O grupo desenvolveu uma plataforma nanotecnológica para tratar a doença, baseada em uma nanopartícula que carrega uma espécie de “receita” para as células do corpo humano atacarem as células tumorais.
A nanopartícula desenvolvida no laboratório da UFMG é baseada na mesma tecnologia utilizada pela Pfizer e pela Moderna para a produção das vacinas contra a covid-19. Segundo Walison, a tecnologia pode ser considerada promissora porque, no caso dos tratamentos tradicionais contra o câncer, a maior dificuldade é fazer com que o medicamento entre no tumor.
“As células tumorais formam uma espécie de ‘microambiente tumoral hostil’, que impede que as terapias e as células imunológicas do organismo consigam combater o tumor de forma efetiva”, diz.
“Em razão disso, também desenvolvemos uma estratégia de normalização do microambiente tumoral, ou seja, fizemos a reengenharia do microambiente, tornando-o mais acessível para que a nossa nanopartícula entre no seu interior e para que os linfócitos do sistema imunológico alcancem o tumor.
Quando o tumor se desenvolve, ele cria vasos sanguíneos anormais, então nossa terapia descomprime esses vasos sanguíneos e reduz o depósito de colágeno, permitindo que os medicamentos entrem mais facilmente nas células.”
No momento, a equipe responsável pela terapia está realizando os testes em pequenos animais por meio de modelo humanizado, ou seja, transplantando as células cancerosas e as células saudáveis de humanos em camundongos.
“Também estamos testando o tratamento em metástase e aprimorando o direcionamento da nanopartícula para células metastáticas, ou seja, para aquelas que saíram do tumor primário e se espalharam para outros órgãos”.
Após os testes com o modelo humanizado, o grupo pretende obter financiamento para realizar testes em animais de grande porte e, posteriormente, em pacientes com câncer de intestino.
Adesão ao tratamento
A maior parte dos tumores de intestino são tratados com quimioterapia e ressecção cirúrgica. No último caso, o tratamento é considerado de difícil adesão porque, após a ressecção cirúrgica, o paciente precisa usar uma bolsa para coletar as fezes (bolsa de colostomia), o que gera impacto em sua qualidade de vida.
“O uso da bolsa é muito ruim, por isso é necessário o desenvolvimento de novos tratamentos que não afetem tanto a qualidade de vida e o dia a dia do paciente”, defende Walison.
Os principais fatores de risco para o câncer de intestino estão associados ao comportamento, como sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco e baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras.
Outros fatores de risco estão associados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica e histórico pessoal ou familiar de adenoma ou câncer colorretal, e ocupacionais, como exposição a radiações.
Os cânceres de cólon e reto apresentam alto potencial para prevenção primária, por meio do estímulo a hábitos de vida e dietéticos saudáveis, e secundária, baseada na realização de exames para a detecção precoce.