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Uma a cada duas famílias que recebem Bolsa Família deixa o mercado de trabalho

Estudo da FGV Ibre aponta que o impacto concentra-se em homens jovens, de 14 a 30 anos, das regiões Norte e Nordeste

Uma a cada duas famílias que recebem o Bolsa Família deixa o mercado de trabalho, aponta novo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), divulgado em agosto desse ano.

O estudo, conduzido pelo pesquisador Daniel Duque, analisou os efeitos do programa após a ampliação do valor médio do benefício, que aumentou para cerca de R$ 670 em 2023 e concluiu que a participação no mercado de trabalho no Brasil não voltou ao nível pré-pandemia.

“A taxa de participação brasileira caiu de 63,6% no último trimestre de 2019, logo antes da pandemia (...) A partir daí, de forma aproximadamente coincidente com o período em que o Auxílio Brasil aumentou para R$ 600, a taxa de participação tornou a cair, chegando a um mínimo de 61,6%", destaca.

O estudo parte das mudanças que o programa sofreu com a pandemia, em 2020, quando foi instituído o Auxílio Emergencial de R$ 600, que acabou servindo de inspiração para o Auxílio Brasil, ainda no governo Bolsonaro.

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Já no governo Lula, em 2023, o nome Bolsa-Família foi retomado e, com a inclusão de mais alguns tipos de pagamento, levou o benefício médio para cerca de R$ 670.

“Adicionalmente, o número de beneficiários saltou de 14 milhões para 21 milhões. O orçamento anual do Bolsa-Família, por sua vez, que era de R$ 35 bilhões em 2017, subiu para R$ 170 bilhões”, destaca.

O estudo reforça ainda que o benefício médio do Bolsa-Família hoje corresponde a cerca de 35% da renda mediana do trabalho no Brasil, comparado a 15% até 2019.

""Não é de surpreender, portanto, que o programa, que em sua primeira fase não afetava a oferta de trabalho, tenha passado a fazê-lo quando o benefício passou a representar uma parcela muito maior do salário mediano brasileiro”, destaca Daniel Duque.

Quanto às quedas na participação, ocupação e formalidade causadas pelo Bolsa-Família, o estudo mostra que elas estão concentradas nos homens, sobretudo de 14 a 30 anos, sem nenhum efeito detectado entre as mulheres.

Na conclusão, os pesquisadores apontam que o governo tem acesso às informações de emprego formal das pessoas, diferentemente das ocupações informais. Assim, evitar um emprego formal que potencialmente torne a família inelegível ao Bolsa-Família é uma preocupação mais geral, que atinge todas as faixas etárias.

Mestrando em Comunicação Social na UFMG, é graduado em Jornalismo pela mesma Universidade. Na Itatiaia, é repórter de Cidades, Brasil e Mundo