Moradores do Barreiro protestam contra prisão de baleados em churrasco: ‘Inocentes’

Ataque, que teria sido orquestrado pelo Comando Vermelho, deixou dois mortos e nove feridos na região na madrugada da última quinta-feira (4), em Belo Horizonte

Em meio ao protesto, diversas pessoas relataram a rotina pacífica do local e a inocência dos presos

Moradores do Conjunto Esperança, no Barreiro, realizaram um protesto pacífico na manhã desta segunda-feira (8) pedindo pela liberdade das pessoas que foram baleadas e, posteriormente, presas após um ataque a tiros ocorrido durante um churrasco na quadra da comunidade, no bairro Flávio Marques Lisboa, na madrugada da última quinta-feira (4).

O ataque, que teria sido orquestrado pelo Comando Vermelho, deixou dois mortos e nove feridos na região. Segundo relatos, criminosos encapuzados e vestidos com blusas da Polícia Civil chegaram no local atirando. As autoridades policiais informaram que os baleados têm envolvimento com o crime, justificando as prisões.

No entanto, familiares, amigos e vizinhos contestam a versão dos policiais, afirmando que muitos dos feridos são trabalhadores inocentes, sem ligação com facções criminosas.

Famílias contestam envolvimento e denunciam constrangimento

Em meio ao protesto, diversas pessoas relataram a rotina pacífica do local e a inocência dos presos.

Cleidimar Guerra da Silva, mãe de Wallace Guerra, de 20 anos, baleado no pé, defendeu o filho. “No dia do acontecimento ele chegou do serviço meia noite, passou pelo local e aconteceu o que aconteceu. Meu sobrinho me mandou mensagem falando que ele levou um tiro no pé e saiu correndo... Nenhum deles tem envolvimento, são inocentes, trabalhadores. Todo mundo conhece todo mundo, aqui é uma praça que criança brinca”, contou em entrevista à Itatiaia.

Wellington Oliveira da Silva, de 38 anos, atingido por dois tiros nas pernas, descreveu o pânico e o constrangimento da prisão no hospital. “Chegaram pessoas atirando, a gente escutou tiro e gente correndo... Muita gente inocente foi baleada. Muitas pessoas estão presas inocentemente. E ninguém dá uma resposta. Não pegaram os meninos com nada, nem com roupa de polícia da civil, nem arma. Os meninos não tem passagem criminal. E aí, por que levaram os meninos presos?”, contou o morador.

Wellington também relatou ter sido algemado no hospital, mesmo sendo vítima. “Colocaram o algema em mim dentro do hospital, um constrangimento para quem é um trabalhador que não tem ficha criminal... Eu sou vítima, não sou criminoso, eu não tenho passagem. Eu ouvi voz de prisão dentro do hospital. [...] Eu consegui sair da delegacia na sexta, mas teve outros dois que foram para o presídio”, afirmou à reportagem.

Advogada questiona prisão de jovem com autismo

Nirlando Moreira de Oliveira, pai de Caíque Marlon Silva de Oliveira, de 25 anos, também atingido e preso, contou que ele não tem envolvimento criminal e tem transtornos mentais.

“O Caíque é um um rapaz querido aqui na comunidade. Todo mundo sabe do problema dele. Todo mundo trata ele bem aqui. A comunidade aqui já abraçou ele por ele ter a deficiência dele... ele não tem envolvimento com nada, nem sabe o que é arma. Ele foi atingido no braço e foi preso. Nenhum tem envolvimento com crime não”.

A advogada Bruna Viterbo assumiu a defesa de Caíque, que possui diagnóstico de autismo e transtornos mentais, e levanta questões sobre a conversão da prisão preventiva do jovem.

“Não foi observada a condição do Caíque como pessoa com deficiência intelectual. O Caíque tem um diagnóstico de autismo e de transtornos mentais. [...] Tivemos acesso [ao laudo], o Caíque ele não tem o discernimento das coisas.” A advogada afirmou que o laudo foi apresentado na audiência de custódia, mas as condições do jovem não foram levadas em consideração.

"É muito estranho, dentro da justificativa que foi para que fosse ensejada a prisão preventiva dele, é que ele que seria um olheiro, segundo a GEPAR. [...] Caíque tem 25 anos, ele nunca passou pelo sistema prisional, nem como adolescente. Então seria curioso, um homem de 25 anos ser olheiro teoricamente de uma facção e não ter nem passado pelo sistema prisional nem quando era menor”, contou a advogada À reportagem.

A comunidade e os familiares exigem uma reavaliação dos casos e a soltura dos presos, reafirmando que eles são vítimas de uma ação violenta e não criminosos.

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Amanda Antunes cursou jornalismo no Unileste (Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais), com graduação concluída na Faculdade Estácio, em Belo Horizonte. Em 2009, começou a estagiar na Rádio Itatiaia do Vale do Aço, fazendo a cobertura de cidades. Em 2012, chegou à Itatiaia Belo Horizonte. Na rádio de Minas, faz parte do time de cobertura policial - sua grande paixão - e integra a equipe do programa ‘Observatório Feminino’.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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