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Dois terços das mães do Rio de Janeiro sofreram violência obstétrica, diz estudo

Maioria das mães ouvidas relata ter sofrido toques vaginais inadequados

Toque vaginal inadequado foi a forma de violência com mais relatos entre as entrevistadas

A Pesquisa Nascer no Brasil 2 revelou que aproximadamente dois terços das mulheres do Rio de Janeiro sofreram pelo menos um tipo de violência obstétrica durante o parto. O toque vaginal inadequado foi a forma de violência com mais relatos entre as entrevistadas, chegando a 46%.

Em seguida, estão os relatos de negligência, que são 31% dos relatos. Depois, vêm o abusos psicológico, que equivalem a 22% das denúncias.

Entre as mulheres que foram vítimas de toques inadequados, a maioria contou que eles foram feitos sem explicação ou consentimento. Elas também relataram exames vaginais feitos sem privacidade.

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Já os relatos de negligência mais frequentes foram a longa espera por atendimento e sentimento de que estavam sendo ignoradas pela equipe do hospital. Na categoria de abuso psicológico, chama a atenção a quantidade de mulheres que foram repreendidas ou ouviram alguma bronca dos profissionais.

A pesquisa também mostra que 53 das entrevistadas passaram pela chamada manobra de Kristeller, quando o profissional empurra ou sobe em cima da pessoa durante o parto vaginal, para acelerar a saída do bebê. O procedimento é proibido por lei estadual desde 2016 e desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde, por causa dos danos que pode causar à mulher e ao bebê.

Perfil das mães que sofreram violência

“Mulheres que eram jovens, adolescentes e as mais velhas; mulheres que tinham baixa escolaridade e as que recebiam benefícios sociais do governo, ou seja, as mais pobres. Quanto ao financiamento do parto, é maior a violência no setor público. Também é maior a violência no parto vaginal, porque a mulher fica em contato com os profissionais de saúde por mais tempo. Inclusive, quanto mais tempo ela ficar no hospital, maior a chance de ter uma violência obstétrica” complementa a coordenadora-geral da pesquisa, Maria do Carmo Leal.

Conheça a pesquisa

A pesquisa é o maior inquérito sobre parto e nascimento do Brasil, feito pela Fundação Oswaldo Cruz. Ao todo, 1923 mulheres foram ouvidas. Elas realizaram os partos em 29 maternidades diferentes, dentre elas públicas, privadas e mistas, de todas as regiões do estado entre 2021 e 2023. Os dados completos do país serão divulgados no ano que vem.

O estudo destaca que, se a prevalência da pesquisa for projetada para todos os nascimentos ocorridos no estado em 2022, “cerca de 5,6 mil mulheres sofreram uma das formas mais graves de violência física durante o parto no estado.”

*Com informações de Agência Brasil

Paula Arantes é estudante de jornalismo e estagiária do jornalismo digital da Itatiaia.