Pesquisadores identificaram clones de
Ainda não se sabe como essas bactérias afetam a saúde dos animais, mas em humanos elas podem provocar infecções graves, especialmente em pessoas com o sistema imunológico comprometido.
“Escherichia coli é uma bactéria comum no trato intestinal de muitos animais, inclusive humanos. Ela se torna um problema quando chega à corrente sanguínea ou causa infecção urinária ou renal, principalmente em pacientes imunocomprometidos e em ambiente hospitalar. Clones multirresistentes como esses frequentemente levam à morte nessas condições”, explica Fábio Sellera, professor da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e um dos coordenadores do estudo.
O estudo reforça a necessidade de criar protocolos específicos para centros de reabilitação de animais, tanto durante a estadia quanto antes da soltura na natureza. “Essas instalações são essenciais para reduzir os impactos da ação humana sobre a fauna, mas em nenhum lugar do mundo existem procedimentos baseados em evidências para monitorar, prevenir e tratar a colonização por microrganismos resistentes a antibióticos”, alerta Fábio.
As aves e a colonização bacteriana
As aves analisadas estavam no centro de reabilitação do Orquidário Municipal de Santos. Por terem sido resgatadas em áreas periurbanas, regiões de transição entre urbano e rural, esses animais ficam mais expostos a impactos humanos, como lixo, esgoto e poluição, fatores que podem facilitar a colonização por bactérias normalmente encontradas em hospitais.
Nenhuma das aves apresentava sinais clínicos de infecção, o que indica que conviviam com a bactéria sem adoecer. No caso do urubu, a amostra foi coletada no momento da admissão, sugerindo que o animal já estava colonizado. Infelizmente, devido a múltiplas fraturas, precisou ser eutanasiado 24 horas depois.
A coruja, por sua vez, vive no centro há dez anos após sofrer uma colisão. Com sequelas neurológicas, não pode ser reintroduzida na natureza. Ela foi tratada com antibióticos tanto na admissão quanto pouco antes da coleta para o estudo, o que impede determinar se a colonização ocorreu antes ou durante a estadia no centro.
“Esses centros oferecem uma oportunidade única para monitorar a presença de patógenos em nossa fauna. É necessário ampliar a vigilância epidemiológica e criar protocolos que reduzam o risco de transmissão entre animais e de humanos para animais”, avalia Fábio Sellera.
Para Nilton Lincopan, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e também coordenador do estudo, os microrganismos encontrados em animais de centros de reabilitação refletem o que circula na natureza. Além de proteger a vida selvagem, esses locais podem ser aliados importantes no monitoramento de patógenos humanos.
O estudo foi publicado na revista Veterinary Research Communications e pode ser acessado aqui
*com informações da Agência Fapesp