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Todas as noites, as saúvas, ou formigas cortadeiras, saem à procura de folhas. Não as comem – levam direto para o formigueiro, onde cultivam um fungo, que é o verdadeiro banquete. Cada formiga desempenha a sua função: enquanto algumas buscam folhas, outras limpam a colônia, cuidam das mais novas ou se reproduzem.
Classificado como dessincronização que humanos sentem ao mudar de fuso horário, o Jet lag é comparada a desordem vivida pelas formigas. De acordo com o estudo, alterações no ciclo da luz atrapalham o ‘relógio biológico’ das saúvas e afetam a organização social do formigueiro.
Resultados obtidos sugerem que a desordem temporal impõe um custo energético à colônia: os insetos se alimentam mais e coletam menos folhas.
Produto de seu mestrado, Mila Pamplona-Barbosa contou que a pesquisa trabalhou com as formigas alternando entre claro e escuro a cada seis horas, em contraste com as 12 usuais. Quando submetida a esse ciclo mais curto, os cientistas identificaram o aumento da ingestão de folhas pela colônia, principalmente durante os dias transitórios, entre o desalinhamento temporal e a reorganização.
“O formigueiro está embaixo da terra. Ele não tem acesso à luz,” aponta Mila. Entre as saúvas, os insetos que fazem o forrageamento (a coleta das folhas) são os únicos diretamente expostos ao sol. São esses os indivíduos que leem o relógio para o resto da colônia. “Assim, a colônia inteira é sincronizada,” explicou a bióloga.
Esse é o objeto de estudo da cronobiologia, campo da ciência que busca entender como os seres vivos se orientam no tempo. Os ritmos biológicos da colônia são resposta da sincronização entre organismo e dia, e garantem a eficiência de um sistema social complexo. A coordenação temporal dos indivíduos é uma propriedade fundamental da vida.
Mila define que as formigas cortadeiras “são um modelo de estudo fascinante”, e a teoria do superorganismo ajuda a entender o cenário. Assim como humanos sentem o descompasso entre o ritmo interno e o ambiente externo, essa sensação ecoa entre formigas. A diferença é que, no caso delas, o relógio biológico é coletivo, e o custo da desordem se manifesta na organização social do grupo e na eficiência de cada inseto.
Com informações de Jornal USP
(Sob supervisão de Edu Oliveira)