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Roleta russa do sexo: especialistas alertam sobre riscos no início da vida sexual

Caso de gravidez na adolescência reacende debate sobre educação sexual, saúde mental e a importância da proteção de jovens

Caso sobre gravidez adolescente reacende debate sobre educação sexual, saúde mental e a importância da proteção de jovens

Recentemente a psicanalista Andréa Vermont viralizou nas redes sociais ao relatar, em entrevista ao podcast 3 Irmãos, o caso de uma adolescente de 15 anos que engravidou após participar da chamada “roleta-russa do sexo” — prática na qual meninas se sentam, uma a uma, sobre meninos com ereção, de forma aleatória.

À Itatiaia, Paula de Paula, conselheira do CRP-MG, e Nay Macêdo, psicóloga especializada em proteção infantojuvenil, explicaram sobre os perigos da “roleta-russa do sexo”.

Engajamento de toda a sociedade

Para a conselheira Paula de Paula, do CRP-MG, práticas como essa são sintomas de um tempo marcado pelo afastamento entre gerações.

Segundo ela, o jogo — que já leva em seu nome a associação com o risco extremo — revela o quanto a vida de alguns adolescentes tem sido banalizada.

Paula ressalta que os impactos não são apenas físicos — como gravidez indesejada ou infecções sexualmente transmissíveis —, mas também mentais e sociais. “É toda uma estrutura familiar que adoece junto. E isso não é novo. Há décadas nos preocupamos com comportamentos sexuais de risco, e eles persistem em todas as classes sociais.”

A conselheira ainda destaca que, embora nem sempre os dados revelem aumento expressivo desses comportamentos, o fenômeno continua recorrente — e cada vez mais visível por conta da internet. Para ela, a prevenção depende do envolvimento coletivo.

A falta de valorização da educação, especialmente da educação sexual, também é apontada por Paula como um entrave.

Importância do afeto familiar

Para Nay Macêdo, psicóloga especializada em proteção infantojuvenil, o envolvimento de adolescentes em práticas como a “roleta-russa” não pode ser lido de forma simplista. “Não é só uma escolha pontual. É multifatorial. O cérebro ainda está em desenvolvimento, eles buscam pertencimento, afeto. É uma fase de experimentação. Se somarmos isso a uma cultura que erotiza a infância e abandona os adolescentes, o resultado é esse.”

Segundo Nay, fatores emocionais como baixa autoestima, vazio, negligência e falta de afeto contribuem para esse cenário.

A psicóloga reforça que o papel da família deve ir além da repreensão.

Nay acredita que o diálogo sobre sexo e responsabilidade pode — e deve — ser feito com naturalidade, sem moralismo, mas com clareza. “Precisamos falar com contexto, com verdade, sem medo. Não é sobre incentivar ou reprimir. É sobre ensinar que o corpo importa, que a vida tem valor e que o prazer não deve vir com dor ou arrependimento.”

* Sob supervisão de Lucas Borges

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Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.